Governo oficializa troca no Ipea e nomeia auxiliar de Guedes para chefiar instituto
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quarta-feira, 09 de março de 2022
RICARDO DELLA COLETTA E IDIANA TOMAZELLI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O governo Jair Bolsonaro (PL) oficializou nesta quarta-feira (9) a troca no comando do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Erik Figueiredo foi nomeado o novo presidente do instituto, em despacho assinado pelo ministro Ciro Nogueira (Casa Civil).
Figueiredo ocupava o cargo de subsecretário de Política Fiscal do Ministério da Economia.
O atual presidente do Ipea, Carlos Von Doellinger, foi exonerado. Ele chefiava o órgão desde o início da administração.
A substituição no instituto foi pensada na Economia com o objetivo de obter maior integração entre a atuação do órgão e a agenda econômica do governo Bolsonaro.
O Ipea dá suporte ao governo na formulação de políticas públicas por meio de estudos e pesquisas em diversas áreas, como macroeconomia, políticas sociais, infraestrutura e políticas regionais.
Dentro da equipe econômica, há a avaliação de que o órgão pode ser mais atuante em agendas relevantes para o governo, com estudos sobre medidas fiscais e competitividade.
Além disso, havia certo incômodo entre integrantes da pasta com o fato de Doellinger ter frequentemente despachado no prédio do instituto no Rio de Janeiro. O comentário nos bastidores é que o comando do Ipea precisa estar na sede do órgão em Brasília.
Com a mudança, a equipe econômica espera obter uma maior integração do Ipea com a Secretaria Especial de Estudos Econômicos, a S3E, divisão que o ministro Paulo Guedes (Economia) pretende criar e deixar sob o comando de Adolfo Sachsida.
Sachsida hoje é chefe da Assessoria de Assuntos Estratégicos da Economia, mas atuou por três anos como secretário de Política Econômica da pasta --onde tinha Figueiredo como um de seus subsecretários.
Desde 2020, Guedes tem a intenção de migrar o Ipea para uma espécie de laboratório de ideias (think tank) dentro do ministério.
Uma tentativa de maior aproveitamento dos estudos do órgão foi feita na discussão da reforma administrativa, enviada ao Congresso Nacional como aposta do governo para racionalizar os gastos com pessoal.
Na ocasião, o Ipea elaborou os cálculos da economia potencial com a aprovação da proposta. A reforma, porém, não avançou diante das resistências de parlamentares e de críticas de que seu conteúdo poderia resultar na fragilização do serviço público.
Atualmente, a secretaria de política econômica tem sido uma das principais divulgadoras de estudos do tema dentro do governo.
Recentemente, o órgão reagiu a críticas dirigidas à condução da política fiscal do governo e disparou uma nota técnica afirmando que a aprovação de reformas contribuiu para melhorar o cenário em grau maior que o projetado no fim de 2018 pela equipe econômica do ex-presidente Michel Temer (MDB).
A secretaria também divulgou estudo prevendo ampliação de investimentos privados a partir das concessões realizadas pela atual administração.
Em dezembro de 2021, quando se tornou pública a intenção de Guedes de criar a S3E, a Afipea, associação que representa os funcionários do instituto, divulgou nota com críticas à proposta. Na visão da entidade, a mudança poderia representar um "rebaixamento institucional" do Ipea.
A associação também alertou para um potencial desejo de "reduzir, enquadrar e controlar as agendas temáticas e o escopo de atuação dessas organizações à dimensão apenas econômica e, diríamos, até mesmo economicista, do desenvolvimento nacional".
"Em outras palavras, para este governo, desenvolvimento e crescimento econômico são --ou deveriam ser-- sinônimos, de modo que as dimensões sociais, culturais, ambientais, regionais, políticas, institucionais, internacionais etc. do desenvolvimento nacional tenderiam a ser ou minimizadas ou simplesmente apagadas dos planos de trabalho do Ipea", diz a nota.
O presidente da Afipea, José Celso Cardoso Junior, afirmou que o novo presidente escolhido pela Economia é desconhecido pelos pesquisadores.
Figueiredo tem graduação e mestrado em Economia pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e doutorado pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Fez pós-doutorado na Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos. Foi professor universitário e desde 2020 está na secretaria de política econômica.
Segundo interlocutores, a expectativa é que Doellinger permaneça no instituto como assessor especial do novo presidente.
Em março de 2021, Doellinger se envolveu em uma polêmica ao emitir comunicado interno alertando pesquisadores do órgão para o risco de punição em caso de divulgação de estudos sem autorização.
Na época, servidores do órgão afirmaram ter estranhado o tom da mensagem, relataram episódios de coerção a pesquisadores críticos ao governo e disseram temer que orientações de viés político do Palácio do Planalto pudessem comprometer as divulgações.
O ofício assinado por Doellinger era direcionado a diretores e técnicos e afirmava que os estudos e pesquisas são direito patrimonial do órgão, a quem cabe definir o momento e a forma de divulgação. A Afipea ingressou com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo a derrubada das restrições.