BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - O Google e a Apple retiraram nesta sexta (17) de suas lojas de aplicativos uma plataforma desenvolvida pelo grupo de oposição a Vladimir Putin, liderado pelo ativista Alexei Navalni. O app listava nomes de candidatos ao Legislativo russo para as eleições que começaram nesta sexta e vão até domingo (19).

O grupo de Navalni passou recentemente a adotar o sistema de "voto inteligente", que, na prática, consiste em concentrar votos nos candidatos com mais chances de derrotar os nomes do Rússia Unida, partido de Putin, que comanda a Rússia desde 2000 (de 2008 a 2012, o líder passou a faixa presidencial para o aliado Dmitri Medvedev, de quem foi primeiro-ministro).

O aplicativo ora barrado listava o nome desses candidatos --a maioria comunista, segunda força política da Rússia--, a fim de auxiliar as escolhas dos apoiadores de Navalni e de russos descontentes com a atual administração. Iniciativas semelhantes vinham sendo adotadas desde 2018, e o "voto inteligente" chegou a ter sucessos pontuais nas eleições regionais do ano passado.

"Hoje [sexta-feira] às 8h, Google e Apple suprimiram nosso aplicativo de suas lojas de aplicativos. Ou seja, cederam à chantagem do Kremlin", disse Leonid Volkov, um opositor no exílio e um dos principais colaboradores de Navalni. Ivan Zhdanov, também exilado, afirmou que a remoção equivalia à censura política. Já o Kremlin, por meio de seu porta-voz, elogiou a decisão das empresas americanas de tecnologia de remover a plataforma de seus sistemas.

"Este aplicativo é ilegal em nosso país. Ambas as plataformas foram notificadas de acordo e aparentemente tomaram essa decisão conforme a letra da lei", disse Dmitri Peskov.

A Rússia havia exigido que a Apple e o Google removessem o app de suas lojas, dizendo que a recusa em fazê-lo seria tratada como intromissão em sua eleição parlamentar. Em meio ao entrave, a agência reguladora de comunicações russa chegou a ameaçar as empresas de multas.

Durante semanas, as empresas resistiram, mas, segundo agências de notícias, a mudança se deu com o medo de que funcionários das empresas fossem presos por desacatar as ordens do país. Representantes das big techs foram convocados, na quinta (16), a uma comissão do Parlamento russo.

Sob Putin, o Kremlin tem encarado essas empresas como adversárias, por agruparem forças opositoras como a liderada por Navalni, preso desde janeiro, por descumprir prazos para se apresentar à Justiça russa. Na época, o opositor estava se recuperando, em um hospital da Alemanha, de um episódio de envenenamento --o Kremlin é um dos suspeitos.

Relatos de fraudes Cerca de 108 milhões de russos foram convocados às urnas para elegerem 450 membros da Duma, a câmara baixa do Parlamento. Desde o início das votações, opositores vêm denunciando fraudes nas eleições --que têm o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral brasileiro, como observador convidado.

Grandes filas têm se formado em alguns colégios eleitorais. O motivo, segundo relatado a agências de notícias, seria a pressão exercida por chefes sobre seus empregados para que fossem votar em seus horários de trabalho.

De acordo com a consultoria R.Politik, as longas filas podem ser consequência das chamadas "táticas de votação especiais", quando eleitores são retirados de seus distritos e levados para votar em colégios eleitorais de outras regiões --prática padrão no passado para servidores e funcionários de empresas controladas pelo governo.

Segundo a agência, até as 13h desta sexta mais de 1 milhão de pessoas já haviam votado online em Moscou (uma das sete regiões com votação eletrônica), e 98 reclamações de coerção de eleitores já haviam sido recebidas pela Comissão Eleitoral russa.

A imprensa local também informou que encontrou, pelo menos, 995 candidatos concorrendo em mais de um distrito eleitoral.

As projeções eleitorais vinham apontando vitória do Rússia Unida nas eleições legislativas. Análise agregada mostra o partido com mais de 40% das intenções de voto, ante cerca de 20% dos comunistas, que são vistos como uma oposição consentida. Ao todo, concorrem 14 partidos.

Mesmo assim, Putin vive momento de relativa fragilidade domesticamente, com pesquisas mostrando um declínio da popularidade de seu partido, com aprovação entre 25% e 30%.