SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Entrar em "Fortaleza Hotel", de Armando Praça, é um pouco que nem montar numa gangorra --ora está lá em cima, ora lá embaixo. A premissa é um ponto forte. Acompanha a jovem Pilar, papel de Clebia Sousa, que trabalha como faxineira num hotel e ali conhece uma cliente coreana, Shin, interpretada Yeong-ran Lee.

Ambas estão em situação delicada. Shin perdeu o marido e encontra-se abandonada pela firma em que ele trabalhava, que se recusa a pagar até mesmo as despesas do funeral. Pilar teve a filha sequestrada por razões que não vêm ao caso e precisa com urgência levantar R$ 10.000 para resgatar a garota. Shin pensa em voltar para a Coreia apenas em repatriar as cinzas do marido. Pilar pretende seguir o destino de muitas jovens brasileiras e emigrar.

Desde o desenvolvimento do roteiro os abismos se acumulam. Existem ali soluções interessantes, porque inesperadas, que se misturam a outras, tão esperáveis que causam desinteresse. No nível dos diálogos, a mesma coisa acontece. Ora acrescentam algo à ação, ora repisam os lamentos que estão no rosto das atrizes ou são puramente evasivos.

Da mesma forma, existe uma oscilação um tanto estranha no departamento de arte. As dependências do hotel, assim como outras mais episódicas, ganham tratamento realista. Já a casa de Pilar tem um tratamento diferente. Vista do exterior parece uma boate, vista do interior tem uma amplitude que não condiz, seja pelas dimensões, seja pela estilização, com o que se pode imaginar ser a moradia de funcionária subalterna de um hotel modesto.

A luz acompanha um pouco essas alternâncias. Parece mais expressionista na casa de Pilar, mais realista em outras locações. Esse tipo de variação é muito constante para não parecer intencional, no entanto também é verdade que tende a deixar o espectador um tanto desorientado em relação aos objetivos do filme.

Em certos momentos, em especial dos de tempo fraco, o filme perde intensidade, como se caísse num abismo. Não é problema do tempo fraco, mas de enquadramentos ora marcados pela busca ostensiva de estetização, ora pela simples falta de graça ou pelo tempo excessivamente enfáticos das pausas. Mas depois o filme reage, produz tensões interessantes, desenvolve as encruzilhadas em que se encontram as duas mulheres atento às turbulências de suas vidas.

Talvez um momento, o inicial, dê conta do tipo de tumulto que toma conta do desenvolvimento de "Fortaleza Hotel". O plano de abertura do filme mostra Pilar de perfil. Ela responde a um questionário de entrada num país de língua inglesa. Nos primeiros instantes, pensamos que ela se encontra numa alfândega. Em seguida, o filme nos informa que se trata apenas de um ensaio, em que é orientada por Shin.

É um momento muito forte. Forte demais, na verdade, se notamos como, depois, o tema da emigração se dilui --parece existir, sobretudo, para que Pilar aprenda inglês e possa dialogar com a protagonista coreana.

Em troca, enquanto peregrinam por Fortaleza em busca de dinheiro para resolver seus respectivos problemas, é interessante a maneira como se defrontam com um recurso usado à saciedade nas relações das empresas com as pessoas físicas mais fracas, e mais pobres de preferência --o "procedimento padrão". Tratado, no caso, com discrição e eficiência.

É entre altos e baixos, promessas às vezes cumpridas, às vezes frustradas, que se equilibra o filme de Armando Praça.

FORTALEZA HOTEL

Elenco: Yeong-ran Lee, Clebia Sousa

Produção: Brasil, 2021

Direção: Armando Praça

Avaliação: Regular