BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O senador Flávio Bolsonaro (RJ) se filiou nesta segunda-feira (31) ao Patriota, abrindo caminho para que seu pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), faça o mesmo.

Flávio participou virtualmente da convenção da legenda. Ele deixou o Republicanos na última quarta-feira (26), mesma data em que assinou sua ficha de filiação ao Patriota. Ele estava na sigla ligada à Igreja Universal desde março de 2020.

"Com muita honra comunico minha filiação ao Patriota. Participei diretamente de sua refundação, em 2018, desde a elaboração de seu estatuto, com previsão inédita de ser o 1º partido de direita do Brasil, até a escolha do nome Patriota. Que Deus nos abençoe nessa nova jornada!", escreveu o senador em uma rede social.

Com a mensagem, Flávio havia postado uma foto exibindo a ficha de filiação assinada, mas apagou-a em decorrência da exposição de dados pessoais.

A filiação do senador expôs um racha interno do Patriota, que se divide sobre o alinhamento com Bolsonaro desde o início do ano.

O presidente do partido, Adilson Barroso, quer viabilizar o ingresso de Bolsonaro na sigla. Adversários de Barroso, no entanto, questionam decisões unilaterais do presidente da legenda e a sinalização de que, se escolher o Patriota, Bolsonaro teria pleno comando do partido.

Barroso, que não tinha a maioria dos votos, trocou membros do diretório nacional, conseguiu aprovar um novo estatuto da sigla e abriu caminho para que um convite oficial seja enviado a Bolsonaro.

Um dos membros destituídos foi Ovasco Roma, vice-presidente da legenda.

Integrantes do Patriota acusam Barroso de promover um golpe no partido. Com isso, a convenção da legenda marcada às pressas foi parar na Justiça. Foi apresentado um pedido ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para anular a reunião desta segunda-feira.

Também foi aberto um boletim de ocorrência na Polícia Militar de São Paulo questionando a presença de pessoas que não integram o partido durante a convenção. “Foi tudo feito de forma criminosa. Um golpe para receber a família Bolsonaro”, afirmou Roma.

Procurado, o presidente do partido não respondeu aos questionamentos.

A ala adversária a Barroso aceita discutir a filiação de Bolsonaro, mas queria que as condições fossem esclarecidas.

“Queríamos que isso fosse debatido internamente. Isso nunca foi discutido, sempre foi tratado pelo Adilson”, afirma o secretário-geral da legenda, Jorcelino Braga.

O presidente da República se aproximou do Patriota e chegou a sinalizar que disputaria a eleição de 2018 pelo partido. Barroso, porém, acabou perdendo o candidato para o PSL, sigla pela qual Bolsonaro se elegeu e da qual se desfiliou em novembro de 2019.

O Patriota hoje tem seis deputados federais na Câmara e tem votado de forma independente em relação ao governo. Parte da bancada articulava para filiar o apresentador Danilo Gentili, visto como opção para a disputa presidencial em 2022.

O presidente do partido, contudo, já atuava em outra frente, em busca da reaproximação com a família Bolsonaro.

A filiação de Flávio deverá resultar na saída de integrantes da legenda ligados ao MBL (Movimento Brasil Livre), que fazem oposição ao governo Bolsonaro. O grupo vem usando a sigla como uma espécie de plataforma política desde o ano passado.

Deverão pedir desfiliação o deputado estadual Arthur do Val (SP), conhecido como Mamãe Falei, e o vereador paulistano Rubinho Nunes. Val disputou a Prefeitura de São Paulo em 2020 e planeja concorrer ao governo paulista no ano que vem.

Outro vereador paulistano, Fernando Holiday, já havia sido expulso do Patriota e filiou-se na semana passada ao Novo. Ele se desligou do MBL no começo deste ano. A tendência é que Val e Nunes permaneçam sem sigla até decidirem a legenda à qual se filiarão. Eles afirmam ter convite de quatro partidos.

O Patriota é considerado um partido nanico. A sigla recebe cerca de R$ 2 milhões por mês de fundo partidário, ou seja, cerca de R$ 24 milhões ao ano. Em 2020, na eleição municipal, a cota do fundo eleitoral foi de aproximadamente R$ 34 milhões —os maiores partidos chegaram a receber quase R$ 200 milhões.

Em 2018, o TSE aprovou a troca de nome do PEN para Patriota. Desde então, a legenda é comandada por Barroso, que era cortador de cana no interior de São Paulo. O mandato dele vai até o novembro de 2022.

Aliados de Bolsonaro pressionam o presidente para que ele decida o quanto antes qual será sua nova legenda para disputar a reeleição.

A indefinição de Bolsonaro trava articulações locais de congressistas que pretendem seguir os passos do presidente e se filiar ao mesmo partido que ele. Sob reserva, esses aliados relatam incômodo porque seus adversários largaram na frente nas conversas com foco nas disputas para o próximo ano.

Assim como o pai, Flávio foi eleito pelo PSL, mas deixou a sigla em novembro de 2019 após rompimento com o presidente da legenda, Luciano Bivar. Começaram, então, a trabalhar pela formação da Aliança pelo Brasil, partido que não saiu do papel até agora e não se viabilizará a tempo de participar da próxima eleição.

Sem conseguir criar seu próprio partido, Bolsonaro chegou a conversar com diversas siglas, inclusive gigantes do centrão, como PP e PL, e até com legendas menores, como o PRTB, partido de seu vice, o general Hamilton Mourão.

Na esteira da eleição de Bolsonaro, o PSL fez em 2018 um total de 52 deputados e 4 senadores. Em 2014, a legenda havia eleito apenas um deputado.

Ao oficializar sua filiação nesta segunda-feira, Flávio traçou o mesmo destino para o Patriota.

"Quando fomos candidatos pelo PSL, o partido tinha apenas um deputado, e, após as eleições de 2018, fizemos uma bancada com 52 deputados. E, agora, com o presidente Bolsonaro na Presidência da República, não tenho dúvida que a gente pode construir um partido maior ainda, do tamanho ou até maior que o próprio PSL", afirmou Flávio.

O senador disse se sentir fundador da legenda, pois participou do projeto de mudança de seu nome de PEN para Patriota.

"Fico feliz de ver que muitos estão deixando a vaidade de lado, o posicionamento dentro do partido de lado em prol dos princípios que estão escritos no estatuto que eu ajudei a colocar, de buscar um partido que seja de centro-direita, que defenda os princípios da família, os valores conservadores e tenha várias bandeiras expressas nas letras do seu estatuto, diferente de outros partidos", afirmou.

A possibilidade de filiação de Bolsonaro foi colocada em votação e aprovada em meio a muito tumulto.

"Tenha calma! Ninguém é contra não. Tem um tanto de gente aqui que é a favor, mas isso não é forma de votação, Adilson", afirmou um dos presentes a Barroso​. Indignados com a condução da sessão, alguns integrantes da sigla que participavam presencialmente deixaram a reunião.