FOLHAPRESS - Há várias maneiras de ver "8 Presidentes e 1 Juramento". A primeira pode ser lembrando o início da carreira de Carla Camurati e o bem-sucedido "Carlota Joaquina". Visto assim, "8 Presidentes" reafirma o pessimismo de Carla/Carlota em relação ao país. De oito presidentes listados desde o fim do regime militar, são poucos os que não acabaram desmoralizados, envolvidos em escândalos, acusados de roubo, traição, estupidez, depostos ou algo do gênero.

Ok, é um ponto de vista.

Pode-se também ver este filme como um relato neutro, com o qual remonta-se a história brasileira de 1984 até 2018, contando-a às crianças do Brasil. Neutro porque feito sem narração, isto é, a partir de imagens e sons originais, exclusivamente -mas supostamente neutro porque imagens e sons foram coletados e colados, não há imagem neutra, apenas supostamente neutra.

Nessa segunda visão, "8 Presidentes" soa tremendamente acadêmico, arrastando-se por mais de duas horas, ao longo dos sucessos e fracassos dos vários presidentes, ao longo também dos escândalos ora mais, ora menos abafados.

Talvez por pessimismo, Camurati retoma uma série de acusações que mais tarde foram desmentidas pela Justiça -por exemplo, contra um presidente de Banco Central do governo FHC, contra alguns políticos do PT etc.-, sem se dar conta, acredito, de que está jogando na lama nomes ora reabilitados, ora inocentados ou algo assim.

Essa ênfase no que deu errado não significa que Camurati não dê espaço ao que deu certo nos sucessivos governos brasileiros. Se o balanço feito por ela fosse um pouco mais discreto talvez pudesse conduzir à conclusão de que, entre altos e baixos, os governantes do Brasil são, mais ou menos, o que somos nós -aquilo com que sonhamos, nossos auto-enganos, nossas esperanças, nosso masoquismo, nossos altos e baixos.

Algo, no entanto, soa oco e torna inevitável uma nova questão: por que a narrativa detém-se onde se detém? Por que não chega mais perto dos dias atuais? De tão febril em relação aos fracassos e malandragens dos presidentes anteriores, o filme se torna curiosamente lacônico em relação a uma presidência que, afinal, já chega a três anos.

Presidência ruidosa, talvez ruinosa, ela recebe o privilégio de ter registradas apenas algumas das grosserias que compõem o raciocínio do atual presidente, terminando numa nota que se pode ler como positiva, pois é dele a última palavra -lançada sobre os créditos finais do filme.

E que dizer do juiz Moro? Fala-se muito de suas decisões. Desfilam diante dele -e da tela- inúmeros delatores premiados. Revemos até mesmo aquele Power Point vazio do procurador Dalagnol. Sabemos depois que Moro aceitou o cargo de ministro de um governo para cuja eleição certos de seus atos foram decisivos.

Nenhuma imagem, nenhuma palavra quanto ao que veio depois, já durante a presidência do oitavo presidente, quando o inconveniente vazamento de algumas de suas conversas botou abaixo a reputação de Moro e o que se vendeu como o sólido edifício da Lava-Jato.

E chegamos enfim ao buraco em que chegamos. Bem distante daquele que um deputado prognosticava ao qualificar seu voto pela deposição de Dilma Roussef -ou abertura de processo, dá no mesmo. "Sim, pelo futuro do Brasil." O referido futuro não é, aparentemente, muito diferente daquele pressentido por Carlota Joaquina no filme de Carla Camurati -se existe alguma esperança, é apenas para ser desmentida pouco tempo depois. O Brasil não dá mesmo certo. Etc.

Se uma revisão geral da história recente do poder no Brasil faz sentido, esta aqui existe para confirmar, ruidosamente, o pessimismo de Carla Camurati em relação ao país. Mas também confirma que os quase 30 anos de distância entre "Carlota" e "8 Presidentes" separam o frescor do primeiro do academismo longo, previsível e pesado do segundo.

8 PRESIDENTES 1 JURAMENTO - A HISTÓRIA DE UM TEMPO PRESENTE

Quando Estreia nesta quinta (18)

Onde Nos cinemas

Classificação 12 anos

Produção Brasil, 2021

Direção Carla Camurati

Avaliação Regular