RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) - A retomada de grandes eventos agrícolas no Brasil após um hiato de dois anos devido à pandemia de Covid-19 permitirá aos agricultores conhecer de perto máquinas mais conectadas. Os principais fabricantes projetam investimentos e receitas bilionárias no setor nos próximos anos.

Alguns equipamentos foram lançados virtualmente na pandemia, mas 2022 marca a possibilidade de os compradores vê-los em operação, o que ajuda na decisão de compra. Com essa proximidade, as empresas do setor estimam um crescimento de ao menos 5% nos negócios neste ano.

O retorno dos eventos ocorre com recorde de vendas em relação ao período pré-pandemia.

Na 22ª Expodireto Cotrijal, realizada em Não-Me-Toque (RS) no início de março, os negócios somaram R$ 4,9 bilhões, de acordo com estimativa dos organizadores. O montante representa um aumento de 87% em relação aos R$ 2,6 bilhões de 2020. A feira reuniu 263 mil visitantes, mais que os 256 mil da edição presencial anterior.

"A moeda do produtor é a soja. Como dobrou de preço, os negócios à vista cresceram, embora o volume maior ainda tenha sido concretizado via bancos", disse o presidente da Cotrijal, Nei César Manica, no encerramento da feira.

Já a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), que é o mais esperado evento do agro no calendário rural, está confirmada para ocorrer entre os dias 25 e 29 de abril em Ribeirão Preto, após dois anos de adiamentos e cancelamentos devido à Covid-19.

Em Uberaba, no Triângulo Mineiro, a 87ª edição da Expozebu foi lançada no último dia 16 e projeta R$ 300 milhões em negócios entre 30 de abril e 8 de maio. Entre leilões e shoppings de animais, serão 41 atividades neste ano, ante as 36 da última edição.

"Estamos preparando o evento desde 2020, quando precisamos cancelar por conta da pandemia. Esse encontro foi muito esperado, desejado, e por isso promete surpreender", disse Rivaldo Machado Borges Júnior, presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), que organiza a feira.

Evento que recebe visitantes nacionais e estrangeiros, a Expozebu terá protocolos diferentes para os públicos. Brasileiros terão de levar cartão de vacinação e fazer exame num laboratório em frente ao parque, ou levar laudo de que tiveram Covid-19 recentemente e estão curados. Estrangeiros, obrigatoriamente, farão exame laboratorial.

A Expodireto Cotrijal deu indicações de como serão as feiras que virão a seguir. A Case, marca do grupo CNH Industrial, apresentou em Não-Me-Toque uma colheitadeira com sistema que se autorregula e encontra o ponto de trabalho para cada situação, sem intervenção do operador.

Já a New Holland, outra marca da empresa, exibiu o primeiro trator movido a biometano no mundo, que foi desenvolvido na Inglaterra e estava em testes no Brasil havia cinco anos.

A CNH projeta um crescimento de 24% nos negócios globais até 2024. O agro representou 76% da receita de US$ 17,8 bilhões do ano passado, ante 16% do setor de construção e 8% do braço financeiro do grupo.

Para alcançar essa marca, a empresa projeta lançar outros veículos movidos a combustíveis alternativos. O foco está na demanda de seus principais mercados, como EUA e Brasil. A América do Sul representa 16% da receita, ante 37% de Europa e América do Norte.

"A demanda global por produtos agrícolas está crescendo, assim como os custos, o que faz os agricultores buscarem formas de melhorar a produtividade, e isso direciona os avanços tecnológicos na cadeia", afirmou o presidente da divisão de agricultura do grupo, Derek Neilson.

Apesar das dificuldades econômicas do Brasil, Oddone Incisa, diretor financeiro da CNH, disse que o agronegócio "caminha com as próprias pernas", já que o mercado é global. Ele afirmou ainda que os financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) têm sido importantes para as vendas de veículos agrícolas.

A John Deere, que projeta crescimento de mercado de 5% na América Latina neste ano, informou que a digitalização da agricultura, que já era uma realidade, foi impulsionada pela pandemia --apesar dos desafios estruturais do setor, como a conectividade no campo.

"Mesmo diante de um cenário ainda incerto de pandemia e com os recentes impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, estamos otimistas com a retomada das feiras agrícolas presenciais, uma das principais maneiras de cultivar relacionamentos, firmar negócios e conhecer novas tecnologias", disse Marcelo Lopes, diretor de vendas da John Deere Brasil.

A empresa lançou uma plataforma em parceria com a Climatempo e a consultoria Safras & Mercado, além de firmar acordo com a Claro para ampliar a conectividade.

"Atualmente, cerca de 150 mil hectares estão conectados por meio dessa iniciativa, com outros 7 milhões prospectados", afirmou o diretor.

A Massey Ferguson, por sua vez, lançou na pandemia produtos como um trator e um pulverizador com tecnologia que, segundo a fabricante, auxilia o produtor rural a ganhar até duas sacas por hectare. Ambos serão vistos nas feiras presenciais, segundo o diretor de vendas da marca, Alexandre Stucchi.

"As feiras são vitrines dos nossos produtos e oportunidade de mostrar o que há de mais tecnológico em máquinas para obter maior produtividade no menor tempo para execução das atividades agrícolas, e são também oportunidades estratégicas para mantermos a proximidade com os produtores", disse Stucchi.

A fabricante apresentou na Expodireto Cotrijal a plantadeira MF 500 Solo+, desenvolvida para o cultivo de soja e milho em terras baixas.

"Os preços das commodities, as safras recordes e o impacto positivo do câmbio fazem com que o produtor siga investindo em máquinas que lhe permitam maior produtividade, conectadas a novas tecnologias para produzir mais gastando menos e com menor impacto ao meio ambiente", afirmou o diretor de vendas da Massey Ferguson.

A Valtra lançou na pandemia um pulverizador voltado aos agricultores de pequenas e médias propriedades. Com opções de barras de pulverização de 25 e 28 metros, o equipamento traz um motor que, de acordo com a fabricante, permite economizar até 60% de combustível.

Segundo Alexandre Vinicius de Assis, diretor de vendas da Valtra, alguns fatores convergem para o crescimento na venda de maquinários em 2022, entre eles o fato de o produtor rural vir de safras excelentes no ano passado, com boa produtividade e rentabilidade positiva, o que possibilita fazer investimentos e agregar tecnologia ao seu negócio.

Na Fendt, o diretor comercial para a América do Sul, José Galli, viu os negócios crescerem no Cerrado e no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) durante a pandemia.

"Nossas vendas normalmente são frutos de uma relação próxima com os agricultores, e isso não mudou mesmo com o distanciamento social", disse. "Acredito que a situação trouxe outras formas de negócio, comercialmente falando."

No início da pandemia, a Fendt, que chegou ao país em 2019, lançou um trator de forma virtual. A retomada dos eventos presenciais é vista por Galli com otimismo, já que a marca está em expansão.

Foram abertas em 2021 concessionárias em Balsas (MA), Campo Novo do Parecis (MT), Sidrolândia e Maracaju (MS), Rio Verde (GO) e Luis Eduardo Magalhães (BA).

"A expectativa é de um crescimento acima do projetado para o mercado, e o reflexo disso é que entregaremos, em 2022, as metas estipuladas para 2025", disse.