SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ao menos quatro escritores retiraram sua participação da Feira de Frankfurt por causa da presença de editoras de extrema direita, segundo o jornal The Washington Post. O evento, que começou na última terça-feira em formato híbrido, é o principal estande mundial de comércio de livros.

A escritora negra alemã Jasmina Kuhnke postou uma nota no Twitter dizendo que não participaria de um evento que promove livros com ideias extremistas.

Ela afirmou ter descoberto que subiria num palco ao lado do estande da editora Jungeuropa, cujo dono, Philip Stein, é ligado a um movimento de viés nacionalista e contrário a refugiados. Ela disse já ter sido vítima de ameaças de morte de extremistas, que divulgaram seu endereço nas redes sociais.

Segundo Kuhnke, estimular a presença da editora na feira "representa um perigo evidente". "Não há espaço para nazistas ao meu lado, e é por isso que eu não participarei da feira deste ano", afirmou a escritora, ao cancelar o evento de promoção de seu romance de estreia.

Outros autores seguiram seu exemplo nas redes sociais, como Nikeata Thompson, Annabelle Mandeng e Riccardo Simonetti, segundo o jornal americano.

O diretor do festival literário, Jürgen Boos, tem recorrido ao argumento da liberdade de expressão para defender a presença dos editores da Jungeuropa no evento, segundo o jornal Deutsche Welle.

Em entrevista a uma rádio local, ele afirmou que não haveria riscos à segurança de Kuhnke e que todos devem participar da troca pública de opiniões, desde que não violem nenhuma lei.

Não é a primeira vez que a presença de editoras direitistas causa tensão no evento alemão.

Em 2017, houve manifestações públicas contra a presença de editoras como a Leopold Stockler na feira, ao que seu diretor também respondeu com a defesa da liberdade de opinião, dizendo que ideias não somem ao serem banidas.

A feira ainda aproximou fisicamente, na ocasião, os estandes direitistas aos de casas que faziam militância à esquerda.