SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quarenta famílias de uma favela de São Bernardo do Campo (SP) vão ter seu esgoto tratado com a combinação de cinco tecnologias alternativas. Depois de 30 anos sem saneamento básico, a Vila Moraes é um laboratório do que pode ser feito e replicado pelo país, em uma abordagem que une ONGs e iniciativa privada.

Concebido pela Biosaneamento e pelo Instituto Iguá, em parceria com Scania, o projeto Comunidade Lab inova ao usar sistema descentralizado de biodigestão, que trata o esgoto e reaproveita resíduos orgânicos, em um processo de fermentação que produz energia –biogás e biofertilizante.

"Não vamos universalizar o saneamento básico só com grandes estações de tratamento", afirma Luiz Fazio, fundador e presidente da ONG Biosaneamento. "Muitas comunidades pelo país são como a Vila Moraes, com quarenta casas isoladas, o que torna inviável o investimento para bombear esgoto."

O projeto tem três anos e R$ 225 mil em recursos aplicados pelos parceiros. As etapas envolveram comparação de tecnologias e aproximação com a realidade da comunidade.

Levantamento recente do Centro Cultural Afro Brasileiro Francisco Solano Trindade apontou que quase metade das 313 famílias da Vila Moraes vive com R$ 500 por mês. O desemprego afeta 45% das famílias.

"Tínhamos problemas sérios com verminose e bicho de pé", conta Rodrigo Santos, 44, morador da Vila Moraes há 18. "O esgoto corria a céu aberto e hoje, com encanamento, as crianças podem caminhar sobre o solo seco."

Os moradores participaram da construção conceitual do projeto e aprenderam sobre economia circular. "Também contratamos pedreiros, encanadores e ajudantes locais, maneira de gerar renda e facilitar a manutenção posterior do sistema", afirma Luiz Fazio.

Para Christopher Podgorski, CEO da Scania Latin America, o projeto ajuda a dar dignidade para a comunidade e estimula a adoção de uma matriz energética sustentável.

"O projeto une acesso à infraestrutura básica, inovação, sustentabilidade, educação e apoio a políticas públicas. Em síntese, são caminhos alternativos que vislumbram um mundo melhor."

Segundo o Instituto Iguá, que atua pela universalização do saneamento, somente 45% do esgoto coletado no Brasil é tratado. Para alcançar a meta estabelecida no Plano Nacional de Saneamento Básico em 2033, o país precisará contar com novos atores e soluções tecnológicas que barateiem o serviço.

"Nossa missão é tornar este projeto referência e gerar replicabilidade, demonstrar o poder da atuação conjunta do setor privado e da sociedade civil para construção de caminhos complementares para o desenvolvimento de cidades sustentáveis", diz Renata Ruggiero, diretora-presidente do Iguá.

O Comunidade Lab deve ter as obras concluídas em junho deste ano.