SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A família de Ismael Ivo não quer o nome do coreógrafo no projeto de uma escola de dança que ele idealizou e que será implantada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo neste ano e gerida pela Associação Pró-Dança, organização social que ganhou o edital com essa finalidade.

Num documento enviado à Justiça no dia 15 deste mês, a advogada da família Ivo, Maria Nazareth da Silva, afirma que o governo de São Paulo ignorou a equipe previamente selecionada pelo coreógrafo para integrar a escola de dança —projeto ao qual ele se dedicou por três anos—, de modo que ela não tem qualquer participação no centro de formação.

A advogada sustenta ainda que os participantes negros que haviam sido convidados por Ismael Ivo para atuarem na escola também não foram incluídos no projeto. Segundo o documento, o coreógrafo "acompanhava, lutava e concordava" com políticas para garantir maior participação de negros na sociedade. Ele queria negros especificamente em cargos de liderança.

Por causa disso, a família argumenta que seria contraditório, irônico e uma afronta aos desejos de Ismael Ivo que a escola levasse seu nome, segundo o documento.

No dia 18, a Justiça determinou que a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo não pode usar o nome do coreógrafo na escola de dança que deveria se chamar São Paulo Escola de Dança Ismael Ivo.

A decisão é provisória e foi assinada pela juíza Vivian Wipfli. Wipfli estabelece um prazo de dez dias para que a secretaria seja ouvida, bem como o Ministério Público e a herdeira de Ivo, a irmã Vera Isolina Ivo, que acionou inicialmente a Justiça. Ou seja, deve haver uma nova decisão sobre o caso.

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa afirma que "a intenção do Governo de São Paulo era fazer uma homenagem a Ismael Ivo dando à instituição seu nome, à semelhança do que acontece na Escola de Música Tom Jobim", mas que decidiu, em conjunto com a Associação Pró-Dança, esperar a conclusão do inventário do artista para para resolver se darão prosseguimento à homenagem.

Diz ainda que a São Paulo Escola de Dança deve formar anualmente 1.080 artistas e técnicos na área da dança, com pelo menos 50% das vagas oferecidas a jovens de favelas e periferias.

O governo de São Paulo investiu R$ 11,8 milhões na criação da escola, que homenageia o bailarino e coreógrafo morto no ano passado, vítima da Covid-19, e vai funcionar no Complexo Cultural Júlio Prestes, na capital, que já abriga a Sala São Paulo, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, o Memorial da Resistência e a Pina Estação.

Os herdeiros do artista afirmam que reconhecem todo o empenho e atenção do governador João Doria e do secretário Sérgio Sá Leitão no projeto original da escola, desenvolvido pelo coreógrafo. Dizem ainda que a associação Pró Dança não considerou os desejos de Ismael Ivo na gestão do projeto da escola.

A reportagem entrou em contato com a diretora da associação Pró Dança, Inês Bogéa, pedindo comentários.