SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Ministério Público de São Paulo vai investigar a conduta de um falso médico que agia no estado de São Paulo. Gerson Lavisio, 32, foi detido no último dia 15 na rodovia Presidente Dutra, em Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba.

No dia 13, um domingo, ele prestou atendimento a um homem de 35 anos que ficou preso às ferragens em um acidente envolvendo caminhões na cidade de Lavrinhas, no interior paulista.

Encaminhado à Santa Casa de Lorena, a vítima teve parte da perna esquerda amputada, a mando de Lavisio, o que despertou suspeitas por parte de outros profissionais de saúde da região.

Após denúncia, ele acabou detido pela Polícia Rodoviária Federal.

A reportagem ligou no número de telefone celular dele e mandou mensagens, mas não recebeu resposta. Ao Fantástico, da TV Globo, ele disse que a versão dele já foi dada na delegacia.

De acordo com o boletim de ocorrência, "policiais rodoviários federais receberam denúncia sobre um indivíduo que estaria trabalhando como médico ilegalmente e foram até o local citado, onde detiveram o suspeito". Segundo o registro, ele confessou não ser médico e que fez apenas o curso de socorrista.

Como não houve flagrante, ele assinou um termo circunstanciado e foi liberado. O caso registrado pelo 1º DP de Pindamonhangaba.

O promotor Jaime Nascimento, do Ministério Público, disse que na segunda-feira (21) ter solicitado a folha de antecedentes e as certidões criminais de Lavisio.

Apesar de a Via Dutra ser da concessionária CCR RioSP, o falso médico foi contratado pela prestadora de serviços Enseg, que o registrou após ele apresentar um documento de abertura de protocolo no Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo).

Em nota encaminhada pela concessionária, a Enseg disse que "procedeu ao imediato afastamento do profissional investigado por exercício ilegal da medicina e está cooperando com as autoridades competentes para o completo esclarecimento dos fatos".

Profissionais que atuaram com Lavisio enquanto ele trabalhou na Dutra já haviam desconfiado dele. Em entrevista ao Fantástico, um deles, que preferiu não se identificar, afirmou que a conduta que Lavisio tomava não era de um médico. Um exemplo citado foi ele ter aplicado um calmante diretamente na veia de um usuário que tinha sofrido um problema de coluna, quando o certo seria aplicar um analgésico local ou até mesmo um remédio via oral.

Antes de prestar serviço na rodovia, ele atuou na AMA (Assistência Médica Ambulatorial) Parelheiros, na zona sul da capital paulista. Conforme a Associação Saúde da Família, responsável pela administração do local, ele trabalhou na unidade no dia 23 de dezembro de 2021.

"Após suspeita das condutas médicas, no início do plantão, a Polícia Militar foi acionada e, posteriormente, registrado boletim de ocorrência, sendo o profissional conduzido para a delegacia para prestar esclarecimentos", disse a organização, em nota. Ainda conforme a entidade, "o falso médico se utilizou de CRM/SP de outro médico válido e ativo", acrescentou.

Dupla checagem

A gestão Ricardo Nunes (MDB) disse que publicará uma portaria que reforça a necessidade de dupla checagem de toda a documentação do contratado, como solicitação de diploma, carteira de identificação profissional ou registro geral, seja no âmbito de pessoa física ou jurídica.

Lavisio esteve perto de trabalhar em uma unidade de saúde de Votorantim (a 107 km da capital paulista). Faltava apenas homologar o contrato com a Cimerd Serviços Médicos, quando ele deixou o plantão. "Lamentável ainda a reincidência da fraude, evidenciando falha no sistema de repreensão criminal de repugnante conduta, permitindo mais esta infeliz tentativa de fraude", disse a empresa, em comunicado.

Segundo documentos encaminhados pela Cimerd, Lavisio nasceu em Cambará, no Paraná. O diploma falso apresentado diz que se formou em medicina em julho de 2021, em uma universidade particular na zona leste paulistana.

O pedido de inscrição no Cremesp foi realizado em fevereiro deste ano. Em nota, a entidade disse que, após o pedido de inscrição, foi realizada checagem da documentação junto aos órgãos competentes, quando foi identificado que o diploma apresentado era falso.

"O Cremesp esclarece, ainda, que vai investigar a contratação do falso médico por parte da Enseg e de outras instituições onde o mesmo atuou, e que adotará as providências cabíveis", afirmou o conselho.