SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Pelo menos 62 pessoas morreram e outras 74 ficaram feridas após uma explosão hoje em uma mesquita xiita na cidade de Kandahar, localizada no sul do Afeganistão, segundo a Bakhtar, a agência de notícias oficial do Talibã.

A explosão aconteceu dentro da mesquita Bibi Fatima, a maior mesquita para fiéis xiitas na cidade durante a oração do meio-dia da sexta-feira. O dia é usado para o descanso e também uma ocasião em que muçulmanos se encontram para orar.

Nenhum grupo reivindicou a autoria do atentado, mas a ação tem a forma dos ataques dos terroristas do Estado Islâmico, que tem uma célula muito ativa dentro do Afeganistão e que voltou a fazer uma série de ataques desde que os "rivais" do Talibã retomaram o poder político do país em agosto.

Uma pessoa que estava no local declarou à AFP que escutou três explosões: uma na porta principal da mesquita, a segunda na área ao sul do local e uma terceira no espaço onde os fiéis se lavam antes de entrar no templo.

Outra testemunha da ação declarou que quatro homens-bomba atacaram a mesquita, sendo que dois deles detonaram a carga explosiva em um portão de segurança, abrindo espaço para os fiéis tentarem se proteger dentro da mesquita. Na sequência, a congregação de fiéis foi atacada.

O porta-voz do Ministério do Interior, Qari Sayed Khosti, lamentou a explosão no Twitter. "Estamos tristes ao saber que uma explosão ocorreu em uma mesquita da irmandade xiita no primeiro distrito da cidade de Kandahar, na qual vários de nossos compatriotas foram martirizados e feridos".

Ainda segundo o porta-voz, as forças especiais do Talibã chegaram à área "para determinar a natureza do incidente e levar os perpetradores à justiça", acrescentou. Os agentes também pediram para os moradores da região doarem sangue para o atendimento aos feridos.

Explosão na última semana

A explosão de hoje é a segunda em uma mesquita em uma semana, no Afeganistão. Na última sexta-feira (8), uma mesquita também xiita, na cidade de Kunduz, no nordeste do Afeganistão, foi alvo de uma explosão e deixou ao menos 100 mortos e feridos, relatou a Missão da ONU no país. Segundo o Talibã, o ataque foi causado por um homem-bomba.

A ação ocorreu por volta do meio-dia (hora local) em um dia que é considerado sagrado pelos muçulmanos. Os feridos foram atendidos no Hospital Central de Kunduz e nas instalações da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF). Testemunhas descreveram cenas atrozes à AFP.

A ação foi reivindicada pelo grupo terrorista Estado Islâmico de Khorasan (Isis-K ou EI-K), formado por islâmicos sunitas, e que tem um braço muito ativo no território afegão. Antes da explosão da última semana, o grupo assumiu a responsabilidade por outro ataque a uma mesquita de Cabul que deixou cinco mortos. Uma cerimônia fúnebre era realizada no local após a morte da mãe de Zabihullah Mujahid, o porta-voz do Talibã, morta dias antes. Apesar de ambos serem sunitas, EI e Talibã são inimigos.

Apesar de talibãs e EI serem muçulmanos sunitas, os dois grupos têm visões "rivais" em todos os aspectos e se consideram "mais importantes e mais sábios". Enquanto os primeiros têm uma visão mais nacionalista, o segundo quer criar um "emirado islâmico" internacional.

Além disso, o EI considera os muçulmanos xiitas como "hereges que devem ser eliminados", algo que os talibãs não concordam.

A comunidade xiita do país (10-20% da população) costuma ser alvo de grupos armados sunitas.