WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Enrique Tarrio, ex-líder do grupo radical de ultradireita Proud Boys, foi preso nesta terça-feira (8) em Miami, por conspiração para a invasão do Capitólio, em 6 de janeiro do ano passado.

O Proud Boys é apontado como uma das organizações que ajudaram a organizar a invasão, que pretendia impedir a certificação da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais, nas quais o democrata derrotou Donald Trump. O ataque ao Congresso terminou com cinco mortos e centenas de feridos.

Tarrio liderou o grupo até o ano passado. De acordo com os investigadores, em dezembro de 2020 ele criou uma nova seção da fraternidade, autointitulada de Ministério da Autodefesa, que teria atuado no planejamento do ataque.

Segundo dados do processo, ele teria enviado mensagens na época sobre um plano para a ocupação de prédios importantes de Washington, incluindo o Congresso, com o maior número de pessoas possível. Tarrio também teria orientado os ativistas a esconderem as identificações do grupo durante a ação. Integrantes do Proud Boys costumavam usar camisas pretas com listras e símbolos amarelos.

O ex-lider havia sido preso em 4 de janeiro de 2021, sob a acusação de roubar e queimar um banner do movimento Black Lives Matter de uma igreja, e foi solto na tarde do dia 5, com a condição de ficar fora de Washington. Mesmo de longe, porém, ele continuou a estimular o ataque ao Congresso e, depois da ação, se vangloriou de sua participação em postagens em redes sociais e em conversas privadas, segundo os investigadores.

Tarrio foi indiciado sob acusação de, entre outras coisas, conspirar para obstruir um procedimento oficial (a certificação da eleição) e por se envolver na destruição de propriedades do governo. Além dele, outros cinco nomes ligados ao Proud Boys foram detidos como parte da mesma ação judicial. Eles se dizem inocentes.

Desde a invasão, mais de 775 pessoas foram presas por participar da invasão do Capitólio, em quase todos os 50 estados americanos. As investigações continuam em andamento --também em uma comissão do próprio Congresso, que busca apurar responsabilidades de integrantes da administração federal da época, sob Trump.

Em janeiro, as autoridades haviam prendido Stewart Rhodes, fundador do Oath Keepers, outro grupo extremista acusado de envolvimento na invasão.

O FBI classifica o Proud Boys como um "grupo extremista com laços com o nacionalismo branco". Para a fraternidade, que só aceita homens, o modo de vida ocidental está em perigo e precisa ser defendido da ameaça representada por estrangeiros, especialmente os muçulmanos.

O grupo foi criado em 2016 por Gavin McInnes, cofundador do conglomerado Vice Media, e chamou a atenção por confrontar, com violência, manifestantes antirracismo durante protestos, embora neguem serem racistas.

Os valores defendidos por eles, como o fechamento das fronteiras, a diminuição da presença do Estado, a abolição do politicamente correto, a defesa do porte de armas e a glorificação do empreendedorismo, frequentemente se tornam base para discursos de ódio --por isso eles foram banidos de redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter.

Em setembro de 2020, Trump citou o grupo durante um debate da campanha eleitoral. "Proud Boys, stand back and stand by", disse o então presidente que buscava a reeleição, ao ser questionado se condenaria a ação de grupos supremacistas brancos. A menção foi celebrada pelos membros da organização na época, porque, de leitura dúbia, pode ser entendida como "afastem-se e esperem" ou "esperem e fiquem prontos para agir".