SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A incorporadora chinesa Evergrande não entrou em contato com investidores estrangeiros para discutir o pagamento de US$ 83,5 milhões (R$ 445 milhões) em juros de títulos que venceram nesta quinta-feira (23). A falta de comunicação elevou a percepção de risco dos investidores, afetando os mercados nesta sexta-feira (24). A Bolsa de Valores brasileira e os principais índices da Europa abriram em queda.

Às 11h31, o Ibovespa caía 0,77%, a 113.180 pontos. Também operaram em queda as Bolsas de Londres (-0,17%), Paris (-0,81%) e Frankfurt (-0,70%). Em Wall Street, Dow Jones e S&P 500 subiam 0,17% e 0,08%, enquanto Nasdaq retrocedia 0,36%.

O dólar subia 0,64%, a R$ 5,3460.

A Vale (VALE3), que tem no mercado chinês o principal comprador da sua produção de minério de ferro, recuava 0,77% e liderava a lista dos papéis mais negociados da B3.

A Petrobras (PETR4), subia 0,15%, impulsionada pela cotação do petróleo Brent, que avançava 0,58%, cotado a US$ 77,70 (R$ 414,44).

A Evergrande, cujo passivo total é estimado em US$ 305 bilhões (R$ 1,6 trilhão), tinha prazo até esta quinta para pagar US$ 83,5 milhões (R$ 445 milhões) em juros a investidores estrangeiros, mas a empresa nem sequer deu qualquer satisfação aos credores, segundo fontes ouvidas pela agência de notícias Reuters.

A incorporadora ainda tem um período de carência de 30 dias para quitar esse débito e, apenas se não cumprir o prazo, é que o calote será confirmado.

Tratamento diferente foi dado a investidores chineses, que nesta semana receberam pagamentos de títulos comercializados no mercado interno.

"A visão de Pequim é que os detentores de títulos externos são amplamente instituições ocidentais e, portanto, podem receber tratamento diferente", disse Karl Clowry, sócio da Addleshaw Goddard.

O banco central da China fez nova injeção de recursos no sistema bancário nesta sexta, o que é considerado um sinal de suporte aos mercados. Mas as autoridades mantêm o silêncio sobre a situação da Evergrande e a mídia estatal da China não deu nenhum sinal sobre um eventual pacote de resgate.

Apesar das atenções voltadas para o exterior, não passaram ao largo novas notícias negativas sobre a economia brasileira.

Com a gasolina e a energia elétrica mais caras, a prévia da inflação oficial acelerou para 1,14% em setembro, superando as expectativas. A maioria, segundo analistas consultados pela Bloomberg, projetava uma alta de 1,03%.

A taxa é a maior para o mês desde o início do Plano Real, em 1994, quando ficou em 1,63%.

Apesar da alta acima do esperado, ainda não há expectativa de que a inflação de 2021 vá além dos 8,5%, segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

"Avaliamos que é pouco provável que nossa projeção anual saia muito da faixa dos 8,3% a 8,4% para 2021", diz.