Europa prevê 'espiral descendente' em relações com a Rússia
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quarta-feira, 16 de junho de 2021
ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - As relações entre a União Europeia e a Rússia estão numa "espiral negativa", disse nesta quarta (10) a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao lançar uma estratégia de política externa em relação ao país rival. Segundo o principal responsável por política externa da União Europeia, Josep Borrell, a abordagem se baseia em três ações: "fazer recuar, conter e engajar".
O anúncio, que responde a "escolhas políticas deliberadas do governo russo", segundo Von der Leyen, foi feito ao mesmo tempo em que o presidente russo, Vladimir Putin, e o americano, Joe Biden, desfiavam suas divergências na Suíça.
De acordo com os líderes europeus, a situação só deve piorar, com a Rússia procurando minar interesses da UE por meio de guerra cibernética e campanhas de desinformação. O bloco estuda formas de "impor custos" aos que coordenam ataques pela internet, embora a identificação da origem dessas ações não seja fácil.
Segundo Borrell, a possibilidade de uma cooperação em questões políticas ou econômicas "é uma perspectiva distante". O representante para relações exteriores acredita porém que, na próxima década, as políticas ambientais europeias devem mudar a relação de forças entre a UE e os russo, ao tornar o bloco menos dependente de combustíveis fósseis -a Rússia é hoje a principal fornecedora de gás para a UE e um dos maiores exportadores de petróleo.
Um mix de energia com mais fontes renováveis deixaria a gangorra mais favorável à Europa, que é o principal parceiro comercial, comprando 144 bilhões de euros (R$ 873 bi) em produtos russos em 2019. A Rússia, por sua vez, é o quinto maior destino das exportações da UE: 88 bilhões de euros (RR$ 533,4 bi).
O relatório -preparado pela Comissão Europeia e pelo Serviço Europeu para a Ação Externa (equivalente ao Itamaraty)- propõe intensificar o combate à corrupção e à lavagem de dinheiro como forma de pressionar a Rússia a respeitar a legislação internacional e os direitos humanos.
Também sugere a criação de novas ferramentas e medidas de retaliação para impedir a Rússia de punir as empresas europeias que operam em seu território e o apoio a países da Europa oriental vulneráveis ao vizinho rival, com reformas estruturais e investimentos.
Borrell afirmou que, apesar da expectativa pessimista, é preciso tentar uma aproximação com a Rússia em temas como combate ao coronavírus e à mudança climática, conflitos no Oriente Médio e no Afeganistão, operações contra o terrorismo e a não proliferação de armas nucleares.
Ele não descartou mais sanções contra instituições e indivíduos russos, mas afirmou que espera não ter que usá-las. "Sanções não são políticas em si, mas instrumentos usados a serviço de políticas, que devem ser adotadas só quando forem eficientes e necessárias."
"Nossa ambição deve ser explorar caminhos que mudem o cenário atual gradualmente para uma relação mais previsível e estável", diz o documento, que será analisado pelo Conselho Europeu (que reúne os líderes dos 27 países) no final deste mês.
As posições dos Estados-membros são bem variadas, com os países que fazem fronteira com a Rússia -Polônia, Lituânia, Estônia e Letônia- pedindo ações mais duras, enquanto a Alemanha está perto de inaugurar o gasoduto Nord Stream 2, que trás combustível russo para sua indústria. A França, por seu lado, pede que a Europa demarque mais claramente limites que não tolerará ver ultrapassados.
As relações entre UE e Rússia pioraram muito depois da anexação da Crimeia e da cidade de Sebastopol, em 2014, e de ações russas no leste da Ucrânia. O bloco europeu impôs sanções setoriais em finanças, energia e defesa, além de algumas áreas de tecnologia, e fechou seu mercado para alguns bancos e companhias russas.
O comércio de armas com a Rússia é proibido e estão banidas viagens e congelados ativos de 177 pessoas e 48 entidades. Encontros de alto nível e de cooperação permanecem suspensos, à espera de que a Rússia siga o que foi estabelecido no pacto firmado em Minsk, em 2015.
Nos últimos meses, uma nova rodada de sanções foi adotada após o envenenamento do opositor russo Alexei Navalni, além do ex-espião Sergei Skripal e sua filha, e seis pessoas e duas entidades foram punidas por ligação com ataques cibernéticos.
As relações bilaterais têm atritos também decorrentes de ações da Rússia na Europa oriental, na Síria e na Líbia. Por outro lado, estudantes russos são os principais beneficiários do programa de intercâmbio estudantil Erasmus, e mais de 4 milhões de vistos de entrada a cidadãos russos foram emitidos em 2019.

