SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os Estados Unidos enviaram neste fim de semana para Guam, ilha do país na Micronésia, no meio do Oceano Pacífico, uma das armas mais poderosas de sua Marinha, em mais uma movimentação que envia recados à China, rival geopolítico dos americanos de pretensões expansionistas na região.

O USS Nevada, submarino movido a energia nuclear da classe Ohio baseado no porto do estado de Washington, com capacidade para transportar 20 mísseis balísticos Trident e dezenas de ogivas nucleares, aportou em Guam no sábado (15).

"Esta visita ao porto de Guam reflete o compromisso dos Estados Unidos com a região do Indo-Pacífico e complementa os muitos exercícios, operações, treinamento e atividades de cooperação militar conduzida pelas Forças Estratégicas para garantir que estão disponíveis e prontas para operar ao redor do planeta a qualquer momento", disse a Marinha em comunicado.

Segundo o canal de notícias americano CNN, é a primeira visita de um submarino de mísseis balísticos a Guam desde 2016 e a segunda visita desde a década de 1980.

Esse tipo de submarino pode operar submerso por meses a fio, tempo em geral limitado apenas pela necessidade de renovar suprimentos para sustentar a tripulação de mais de 150 marinheiros. A Marinha diz que os submarinos da classe Ohio ficam em média 77 dias no mar.

A movimentação dos 14 mísseis da frota da Marinha geralmente se dá em segredo, segundo a CNN. Mas as tensões envolvendo EUA e China em torno do status de Taiwan e o aumento de testes de armamentos feitos pela Coreia do Norte pode ter incentivado os americanos a mostrar poder de fogo, dizem analistas ouvidos pela emissora.

"Envia uma mensagem, intencional ou não: podemos estacionar cerca de 100 ogivas nucleares à sua porta e você nem saberá ou será capaz de fazer muito a respeito. E o contrário não é verdade e não será por um bom tempo", disse Thomas Shugart, ex-capitão de submarino da Marinha e analista do Center for a New American Security.

O programa de submarinos balísticos da Coreia do Norte ainda está começando a ser desenvolvido. No caso da China, a frota, estimada em seis submarinos de mísseis balísticos, ainda não pode competir com o poder bélico americano -eles também não têm a mesma capacidade dos mísseis dos EUA, segundo analistas do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais.

Os submarinos de mísseis balísticos Type 094 da China são duas vezes mais altos que os submarinos dos EUA e, portanto, mais facilmente detectados e carregam menos mísseis e ogivas, escreveram analistas do CSIS em agosto, de acordo com a CNN.

Para Alessio Patalano, professor de guerra e estratégia do King's College, em Londres, os submarinos na região permite aprender a "caçar" armamentos de outros atores.

"A Coreia do Norte está buscando o desenvolvimento desse tipo de plataforma de lançamento de mísseis, e a China já os colocou em campo. Aprimorar as habilidades para rastreá-los é tão importante quanto implantá-los, como dissuasão estratégica", disse ele à CNN.