SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dois meses após ter sua base atingida por um incêndio, a estátua do Borba Gato, em Santo Amaro (zona sul da capital paulista), segue vigiada de perto e por várias horas do dia por policiais militares e guardas-civis metropolitanos.

O ataque em questão ocorreu no dia 24 de julho, um sábado ensolarado. Ele foi organizado pelo grupo Revolução Periférica que, segundo seus membros, uma forma de chamar atenção para homenagens realizadas na cidade. No entendimento do grupo, Borba Gato, um bandeirante, teria contribuído para o genocídio indígena. Para realizar o ato, pneus foram levados em um caminhão e ali colocados na via e em volta do monumento até que fosse ateado fogo. Quatro pessoas chegaram a ser presas, entre elas, Paulo Roberto da Silva Lima, o Galo, mas todas já estão em liberdade, após decisões do Tribunal de Justiça de SP e do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Desde então, o monumento, localizado na Praça Augusto Tortorelo de Araújo junto à avenida Santo Amaro, recebe atenção especial da PM (Polícia Militar) e da GCM (Guarda Civil Metropolitana), com equipes prostradas por horas num posto de combustível, que fica em frente ao monumento. A intenção é evitar possíveis novos atos de vandalismo contra a estátua. O ataque de julho não causou danos significativos à estrutura de Borba Gato, segundo avaliações técnicas. No entanto, sua base e pés ficaram chamuscados.

A reportagem flagrou policiais e guardas, com suas respectivas viaturas, em dias distintos desde a semana passada. Sem saber que estava conversando com um repórter, um funcionário do posto confirmou a presença diária no local, inclusive, de policiais à paisana. A Polícia Militar e GCM confirmaram para a reportagem que atuam pela segurança no local.

Na manhã desta quinta-feira (23), a vigilância do Borba Gato estava sob responsabilidade de GCMs. A equipe escalada estava no mesmo local usado por PMs, uma área do posto destinada para troca de óleo de automóveis. A Guarda Civil Metropolitana também foi a responsável pela segurança no dia anterior, quando a reportagem flagrou os servidores municipais parados no posto em dois horários distintos. A primeira às 15h30 e a segunda às 20h30. A viatura disponibilizada para a vigília naquele dia era a de prefixo R-0202.

A repportagem flagrou policiais militares no posto de combustível e voltados para a estátua em dois dias distintos. Na noite do dia 20 de setembro, a viatura M-01404 (pertencente à 4ª Companhia do 1° Batalhão de Polícia Militar Metropolitano) estava no local por volta das 22h45. Uma outra equipe da PM também foi vista no local, no mesmo horário, mas na noite de 14 de setembro. A reportagem, no entanto, já havia presenciado policiais militares estacionados no local por mais de uma vez antes do dia 14.

Um guarda-civil, que pediu para não ser identificado, disse que a escolta no local é uma determinação do Comando Operacional Sul da GCM, inclusive com ordem de serviço.

À reportagem o doutor em psicologia pela USP (Universidade de São Paulo) e tenente-coronel aposentado da Polícia Militar de SP Adilson Paes de Souza disse que considera a situação "absurda no sentido de prejudicar a segurança pública da população". "Uma viatura que fica estacionada tomando conta de uma estátua é uma viatura que poderia estar realizando o policiamento preventivo, ostensivo e fardado para prevenir delitos em determinada região".

"É um desperdício de recurso humano, de recurso material em prol da segurança pública e não faz sentido que exista isso", assegurou Souza. Para ele, caso a prefeitura ache realmente necessária a vigilância deve contratar uma empresa de segurança privada para isso. "Polícia militar e guarda-civil metropolitano é para dar segurança para a população de maneira indiscriminada".

Procurado, o advogado André Lozano, que defende Galo e os demais membros que foram presos pelo ato, afirmou que seus clientes ainda não possuem conhecimento da denúncia elaborada pelo Ministério Público, já que, segundo ele, não foram intimados. O MP denunciou Galo e outras duas pessoas por incêndio e adulteração de placa de veículo, uma vez que o caminhão alugado por eles para levar pneus até a estátua teria tido suas chapas modificadas para dificultar a identificação.

Sobre as viaturas no local, Lozano refutou uma nova tentativa de depredação pelo grupo no local. "Me parece que acaba sendo um desperdício de dinheiro público. Algo que não tem cabimento, uma vez que eles já declararam diversas vezes que o objetivo deles era justamente trazer essa discussão à tona e ela foi trazida".

O monumento, assinado pelo escultor Júlio Guerra, é alvo frequente de críticas de grupos que defendem a retiradas de homenagens que exaltam pessoas ligadas ao passado brasileiro marcado pela escravidão, a colônia e a ditadura.

No ano passado, a ameaça de uma possível derrubada da estátua, que possui cerca de 13 metros de altura com o pedestal, fez com que a subprefeitura de Santo Amaro solicitasse a instalação de gradis ao redor do bandeirante, além de o monumento ter sido vigiado 24 horas por dia pela Guarda Civil Metropolitana durante o período.

Questionada, a Polícia Militar respondeu que "desde o dia 13 setembro de 2021, o local é abrangido pelo policiamento regular e também coberto pela rotina de planejamento operacional voltada à região, que detém grande circulação de veículos e pessoas, salientando-se que, inclusive, há uma estação de metrô a 200 m do monumento". Ainda segundo a nota, "todo o esforço de implemento de policiamento visa dar maior segurança à localidade."

Já a Guarda Civil Metropolitana pontuou que "colabora com a segurança da cidade e do patrimônio cultural municipal, presentes em vias públicas.O monumento Bandeirante Manuel de Borba Gato foi vandalizado em 24/7 e, para evitar novos atos e garantir o processo de restauro, a GCM reforçou o número de rondas no local, com baseamento fixo em horários específicos ao longo do dia, a fim de evitar qualquer dano, crime de oportunidade e vandalismo". A gestão Ricardo Nunes afirmou que o "policiamento preventivo é uma das principais atribuições da corporação e o planejamento estratégico para preservação de bens faz parte da rotina de atuação, não significando novos custos de operação".