CONSELHEIRO LAFAIETE, MG (FOLHAPRESS) - No último mês, as ruas de Belo Horizonte foram ocupadas por diversas esculturas de onças-pintadas. As obras de arte fazem parte da Jaguar Parade BH 2021. O evento busca usar a arte para fazer as pessoas refletirem sobre a preservação da espécie.

A exposição segue nas ruas até o dia 9 de dezembro. Também até essa data, as obras ficarão disponíveis em um leilão online. Os lances iniciais são de R$ 7.000 e metade do valor arrecadado será destinado para a ONG Onçafari, que trabalha pela preservação das onças-pintadas no Brasil.

"A gente elegeu a onça-pintada como um símbolo da fauna brasileira por ser um animal bonito e imponente, que está em uma situação de vulnerabilidade e, também, por ter um espaço bom para pintura", diz Caroline Barreto, diretora da Artery, empresa responsável pela mostra.

Ao todo, 61 peças estão espalhadas pela capital de Minas Gerais. As obras foram criadas por artistas selecionados por meio de um edital. Vinte e seis delas foram pintadas em Belo Horizonte, exclusivamente para o evento, enquanto outras 35 vieram do acervo da primeira edição, realizada em São Paulo, em 2019.

Ana Carolina Pádua, conhecida como Bobylly, foi uma das artistas selecionadas. Segundo ela, que já recebeu diversas fotos de pessoas ao lado de sua obra, a repercussão tem sido muito positiva, principalmente por parte das crianças.

"É muito bom poder conscientizar as pessoas através da arte. Às vezes, só falar não tem o mesmo impacto, o visual desperta o interesse e fica na cabeça das pessoas", diz Bobylly.

No Brasil, a onça-pintada é um animal em situação vulnerável, com um declínio populacional nos últimos anos. Segundo o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), o animal já foi extinto na região dos pampas e se encontra em situação mais crítica em biomas como a mata atlântica e a caatinga. A população de onças é maior no Pantanal e na Amazônia.

"Os maiores problemas que as onças enfrentam hoje em dia são a descaracterização dos habitats, a fragmentação das florestas, o desmatamento e o isolamento das populações", afirma Rogério de Paula, analista ambiental do Centro de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do ICMBio.

Segundo ele, outra questão que merece atenção é a caça a esses animais. Ela é motivada por medo e desconhecimento da espécie, retaliação a atitudes predatórias das onças, caça esportiva e ligada a tradições culturais.

Buscando promover a conscientização da sociedade sobre esses animais, a primeira edição da Jaguar Parade foi realizada em 2019, em São Paulo. Naquela ocasião foram arrecadados cerca de R$ 600 mil. A metade desse valor foi destinada para quatro instituições: Onçafari, Ampara Silvestre, SOS Pantanal e Black Jaguar Foundation.

Após a exposição nas ruas de Belo Horizonte, a próxima edição do evento acontecerá entre setembro e outubro de 2022 em Nova York.

Além do compromisso com a causa animal, o evento também tem a proposta de aproximar a arte do cotidiano das pessoas. "Nosso objetivo é fazer as pessoas felizes, trazer um colorido para o dia a dia delas e aumentar esse contato com a cultura e com a arte", afirma Caroline Barreto.

Para o artista Pedro Bahia, que pintou uma das onças, o mais interessante do evento é a promoção das obras fora de espaços considerados elitistas, como as galerias de arte.

"As pessoas se deparam com um elemento que não é comum na paisagem urbana e que desperta o interesse. A arte tem que estar na rua também, porque esse é um espaço democrático, onde todo mundo pode estar", diz ele.

A gerente de projetos Ana Clara Assis, moradora do bairro Lourdes, em BH, passa sempre por alguns dos pontos onde as onças estão instaladas e as obras despertaram sua curiosidade.

"As onças mudam um pouco a paisagem diária e trazem mais cor para o nosso dia. E além desse impacto visual, é importante para refletirmos sobre a importância de protegermos esses animais tão característicos da fauna brasileira", diz ela.