SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL) irá disputar uma vaga na Câmara dos Deputados nas eleições deste ano. A decisão, que já vinha sendo pensada há algum tempo, foi sacramentada em conversa com lideranças do PSOL na sexta-feira (11).

No pleito de 2020, Hilton foi a sexta mais votada para a Câmara Municipal de São Paulo, com 50.508 votos. A vitória deu a ela o título de primeira mulher transgênero a ocupar uma cadeira na Casa.

"Minha pretensão de ir a Brasília é pela necessidade de refundação do Brasil", afirma ela à reportagem, depois de dizer que o país atravessou uma "destruição sem precedentes" sob o governo Jair Bolsonaro.

A parlamentar afirma querer levar à capital federal uma agenda voltada para eixos temáticos como direitos humanos e cultura —pautas que já aborda em seu mandato como vereadora, mas que diz querer trabalhar em uma escala ainda maior.

"Brasília vai ser a possibilidade de dar continuidade ao que começamos na Câmara", diz. "Quero federalizar o debate sobre o programa Transcidadania [voltado à inclusão de pessoas trans e travestis]."

Alvo frequente de ameaças contra sua vida, Hilton diz se angustiar com a receptividade que poderia ter caso se eleja deputada federal, mas que isso não a desmotiva.

Recentemente, a vereadora do PSOL registrou boletim de ocorrência e ofereceu representação criminal após uma mulher chamá-la de nomes pejorativos e transfóbicos e prometer degolá-la, além de atear fogo em sua residência e em seu corpo.

"Isso me dá combustível", afirma sobre os ataques. "Ameaças fazem parte de uma tentativa de silenciar meu mandato e meu corpo. Fico preocupada, receosa, entristecida e amedrontada porque a gente vê uma escalada", continua.

"Ao me colocar nessa eleição [de 2022], que será violentíssima e cruel, eu fico receosa, mas de forma alguma acovardada ou desestimulada. Essas ameaças são reflexo do quanto minha voz tem incomodado e do quanto tenho feito parte de um processo revolucionário e transformador", diz ainda.

Nas próximas semanas, Erika Hilton deve se dedicar a encontros com lideranças LGBTQIA+ para formular propostas de políticas para o segmento. Alguns pontos devem ser apresentados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Temos visto um silêncio estarrecedor pelos presidenciáveis com a agenda de direitos da população LGBTQIA+. Faremos uma organização [de pontos prioritários] e levaremos para que o presidenciável Lula possa se comprometer", afirma Erika Hilton.

No último Datafolha, divulgado em dezembro, o petista marcou 48% ante 22% de Jair Bolsonaro (PL). Em pesquisas mais recentes, no entanto, Bolsonaro aparece com leve crescimento.

Hilton afirma que não pretende assumir uma "posição petista nem lulista" caso seja eleita deputada em um eventual governo Lula. "Mas estarei ao lado dele para fazer o melhor pelo Brasil", finaliza.