SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma semana após ser atacada com spray de pimenta por policiais militares durante protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Recife, a vereadora Liana Cirne (PT-PE) afirma que, apesar da repercussão nacional do episódio, ela não tem sido ouvida.

“Isso é muito entristecedor. Sou entrevistada sobre a opinião do coronel fulano, do tenente ciclano, do candidato que teve 'x' votos. É muito triste que o que eu penso e o que eu interpreto não tenha sido perguntado por ninguém”, diz.

No sábado (29), a manifestação pacífica na capital pernambucana foi encerrada violentamente por policiais do pelotão de choque com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha. Além da investida contra a parlamentar, dois homens que não participavam do protesto perderam a visão de um dos olhos em decorrência da ação.

Por causa do episódio, Cirne foi alvo de uma notícia-crime apresentada pelo movimento conservador Pernambuco no Rumo Certo ao Ministério Público do estado. O grupo afirma que a petista “se utilizou do cargo de vereadora para dar ‘carteirada’ e impedir a ação da Polícia Militar”.

A vereadora diz ver a representação como um “disparate”. “São homens destituídos de coragem, de moral, e querem se autopromover porque o gesto que fiz ganhou notoriedade", afirma. A ação foi considerada improcedente e indeferida pelo MP. O órgão reconheceu que Cirne "foi violentamente agredida por policiais militares".

Liana Cirne, que é professora de direito licenciada na Universidade Federal de Pernambuco, conta que seguia a orientação de seu partido de não ir ao ato —e só o fez porque se dispôs a prestar assessoria jurídica aos participantes.

Apesar da repressão policial que marcou a manifestação, ela acredita que a realização de um novo protesto pelo impeachment de Bolsonaro no Recife, programado para 19 de junho, será mais seguro.

“No lugar de arrefecer, aplacar os ânimos, a violência policial provocou o oposto”, diz. “Acho que aqui em Pernambuco vai ser um dos lugares do Brasil em que a manifestação vai ser mais forte. Acredito que, depois do que ocorreu, as manifestações vão transcorrer com muita segurança, do jeito que elas estavam ocorrendo antes da ação policial.”

O Governo de Pernambuco, sob gestão Paulo Câmara (PSB), disse que a operação não foi autorizada. Até o momento, porém, não explicou quem deu a ordem para o ataque.