BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - Apesar de ter acabado de impor, por meio de decreto, um estado de exceção no Equador, pelo qual o Exército sairá às ruas para atuar na segurança pública e no combate ao narcotráfico, o presidente Guillermo Lasso apoiou atos de apoio a sua gestão, realizados nesta quarta-feira (20), em Quito.

Discursando a apoiadores, o mandatário ainda criticou a convocação, pela oposição, de manifestações críticas a ele. "Não será possível incendiar edifícios nem realizar sequestros", disse, em referência aos protestos agendados para o próximo dia 26. "Empunharemos a Constituição para enfrentar os golpistas."

No Palácio de Carondelet, sede do Executivo, Lasso convocou a população a "proteger nossa capital e nossa democracia". Ele estava acompanhado de militantes e apoiadores do CREO (Movimento Criando Oportunidades). "Não há nada mais legítimo do que um povo que se levanta para defender sua democracia", afirmou.

Outros atos de apoio ao presidente foram registrados em cidades importantes, como Guayaquil, uma das mais impactadas por essa nova onda de violência -no presídio local, em setembro, uma rebelião terminou com 118 mortos.

No município litorâneo têm sido vista com mais intensidade a atuação dos soldados das Forças Armadas em atividades de patrulha e segurança.

O discurso de Lasso em frente ao palácio presidencial nesta quarta é marcante também porque significou a ausência do mandatário em uma audiência na Assembleia Nacional que integra um pedido de abertura de investigação no Legislativo por sua aparição no caso dos Pandora Papers, investigação organizada pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos).

Segundo o presidente, nem ele nem sua família comparecerão à Comissão de Garantias Constitucionais do Congresso. Eles estavam intimados para responder sobre o possível envolvimento em desvios de fundos para contas e empresas offshore.

Lasso colocou na agenda para o dia, em vez disso, um encontro com líderes de outros grupos políticos com representação na Assembleia, como o indígena Pachakutik. Aliado na luta contra o correísmo, o movimento chefiado pelo ex-candidato a presidente Yaku Pérez, já não deseja seguir no apoio ao atual mandatário, devido ao pacote de reformas proposto por ele.

O presidente ensaia apresentar um conjunto de projetos que mexem em nas áreas trabalhista e tributária, alterando impostos ligados à renda, aos lucros e a grandes fortunas. A oposição é contra, com o argumento de que a pandemia não acabou e que não seria o momento de reduzir gastos sociais.

O impasse entre Executivo e Legislativo tem levantado, nos últimos dias, a possibilidade de o Parlamento debater a destituição de Lasso e de o presidente ameaçar o uso do mecanismo da "morte cruzada" -artifício legal que permite ao mandatário, por meio de decreto, dissolver o Congresso e exigir a convocação de novas eleições para todos os cargos.

A expectativa é de que o pacote de reformas seja encaminhado à Assembleia nos próximos dias.

Em entrevistas recentes, Lasso vem desacreditando a atual configuração do Legislativo, dizendo que as bancadas são formadas por "gângsteres" que obedecem a um "triunvirato da Conspiração".

Segundo o presidente, o grupo que busca dificultar sua gestão e tirá-lo do poder é liderado por Leonidas Iza, líder sindical indígena que foi protagonista das manifestações de 2019; Jaime Nebot, que atuou como padrinho político de Lasso; e o ex-presidente Rafael Correa, que, condenado por corrupção, vive na Bélgica e não pode voltar ao país, mas continua a influenciar muito seus seguidores.