SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O mercado de painéis solares para geração de energia por consumidores segue em expansão, impulsionado pelo aumento na conta de luz, preocupações com a crise hídrica e maior disseminação do home office.

De acordo com dados da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), de janeiro a agosto de 2021 foram instalados 180 mil sistemas para geração distribuída de energia solar, 41% a mais do que no mesmo período do ano anterior.

Com isso, o Brasil passou a contar com 576 mil instalações para abastecer casas, empresas e fazendas. Esses sistemas atendem a 700 mil unidades consumidoras —um conjunto de painéis pode gerar créditos para mais de um endereço.

Segundo Jean Tremura, diretor da Go Solar, empresa da Golden Distribuidora especializada no mercado de energia solar, o faturamento de agosto ficou 20% acima do esperado, como resultado de uma maior demanda provocada pela crise hídrica.

"O consumidor ouve sobre isso na mídia, sente o impacto na conta e procura uma solução", afirma Tremura.

O executivo diz que o crescimento acontece em meio a desafios da pandemia e da economia brasileira.

Ele afirma que a empresa busca antecipar compras e gerenciar o estoque com atenção para lidar com a alta volatilidade do dólar, o encarecimento do frete marítimo e a dificuldade para conseguir trazer os componentes em meio a uma corrida global pela ampliação da geração fotovoltaica.

Camila Nascimento, diretora da distribuidora Win Energias Renováveis, do Grupo All Nations, diz que, após uma queda no mercado em março e abril do ano passado provocada pela pandemia, o setor voltou a acelerar e segue em expansão.

O primeiro impulso, antes mesmo da alta no custo da energia, veio de consumidores que passaram a ficar mais tempo em casa, aumentando os gastos com energia, diz Nascimento.

É o caso do arquiteto de sistemas Diego Moreira, 32. Ele possui um conjunto de seis placas solares em sua casa há um ano e pretende ampliar o sistema em breve.

Segundo Moreira, a decisão pelo investimento levou em conta a possibilidade de adotar uma tecnologia sustentável e o potencial de retorno financeiro. "Como já tive economia, aumentei o consumo, comprei um aparelho de ar-condicionado, por isso devo colocar mais uma placa", afirma.

Após ser demitida durante a pandemia da empresa onde trabalhava há 15 anos com análises ambientais, a química Luciane Kutinskas, 46, decidiu investir no setor de energia solar tanto para empreender como também para reduzir a conta de luz.

Kutinskas se tornou franqueada da marca Energy Brasil, também de instalações de painéis solares, e, em maio, comprou um conjunto de oito painéis para a casa de seus pais.

O sistema permitiu reduzir a conta de luz na casa dos pais de R$ 230 para cerca de R$ 30 ao mês. Além disso, ele gera créditos que são usados para diminuir a conta de luz da empresária, que era de R$ 150 e também caiu para R$ 30.

O pagamento foi feito a partir de financiamento em 72 parcelas de R$ 480. "Optei por um prazo um pouco menor do que o possível para terminar de pagar antes e ter mais retorno do investimento", afirma.

A empresária diz que, apesar de o mercado já estar em alta há mais tempo, houve aumento expressivo na demanda pelas instalações nos últimos dois meses, conforme as altas na tarifas se intensificaram.

Nelson Colaferro, sócio da franquia Blue Sol Energia Solar, diz que o momento é muito especial para o setor. A empresa prevê terminar o ano com 3.000 novas instalações, o dobro das realizadas em 2020.

Além da maior procura pelos painéis por consumidores buscando se proteger das altas na conta de luz, o mercado também cresce com o avanço de projeto de lei que cria um marco regulatório para a geração distribuída, aprovado na Câmara em agosto.

Pelo texto, que ainda precisa passar pelo Senado, têm acesso às regras atuais de benefício até 2045 os consumidores que já possuem sistemas fotovoltaicos ou que fizerem, em até 12 meses após a sanção da lei, uma solicitação à distribuidora para poder participar do Sistema de Compensação de Energia Elétrica, que permite injetar na rede a energia produzida e não utilizada na hora em troca de créditos para abater da conta de luz.

"A aprovação trouxe segurança jurídica para quem está investindo agora e dá um tempo para quem está se decidindo", afirma.