SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Comum no empreendedorismo, o encerramento de um negócio é visto como uma etapa de aprendizado para o empresário. A pandemia, porém, intensificou esse processo: em 2020, só os pedidos de falência aumentaram 12,7% na comparação com 2019, segundo a Boa Vista, que administra o SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).

Depois de sua empresa de cursos online quebrar no começo deste ano, o especialista em oratória Edgar Pereira Caetano, 40, decidiu continuar a empreender. Porém, antes de se dedicar a um novo projeto, que será lançado em setembro, ele listou e avaliou as decisões que contribuíram para o fim do negócio, procurando falhas a serem evitadas.

Sua empresa, a Best Speaker, havia alcançado relativo sucesso entre o fim de 2019 e o começo de 2020, quando deu treinamento em comunicação a 15 mil profissionais no mercado corporativo --setor que se retraiu com a crise.

Edgar tentou contornar a situação criando produtos online para atender determinados públicos, como médicos, mas isso consumiu mais tempo e recursos do que o esperado. "Diversifiquei muito e perdi o foco. A essa altura, já não tinha mais fôlego para investir em equipe e prospecção."

O empresário também destaca um erro na estratégia do lançamento de um curso a distância, em janeiro de 2020. "Não precisaria ter cobrado tão pouco. Depois que você pede menos por uma coisa que pode valer mais é difícil se reposicionar", diz. Ao todo, ele estima que tenha investido R$ 200 mil na companhia.

Agora, o empreendedor desenvolve uma plataforma de streaming especializada em comunicação batizada de Comunicaplay, que deve estar pronta para rodada de captação no fim do mês.

No projeto, ele tem a ajuda de um parceiro que domina a tecnologia necessária e não precisou usar recursos próprios no protótipo. "Também esperamos contar com a experiência de investidores para ajudar a validar o negócio."

A seguir, especialistas de diferentes áreas fazem recomendações sobre como reavaliar competências, lidar com a burocracia e conceber um novo projeto que atenda demandas criadas pela pandemia.

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Reconheça e descreva erros

É importante que o empresário mapeie elementos que levaram ao fechamento sem um viés punitivo, diz Wanderley Cintra Jr., psicólogo especializado em gestão e liderança.

Por exemplo, o empreendedor pode concluir que faz e vende bem comida, mas tem dificuldade em gerir custos. Para chegar a esse entendimento, Cintra sugere recapitular problemas no negócio da forma mais descritiva e detalhada possível, hierarquizando as questões encontradas.

Ouça feedbacks de parceiros

A opinião de fornecedores, funcionários e outras pessoas que participaram da trajetória do negócio também ajuda no aperfeiçoamento do empreendedor, diz Bruna Losada, vice-reitora da Saint Paul Escola de Negócios e pós-doutora em finanças para startups na Universidade Columbia.

O importante é que o empresário procure ouvir pessoas em que confie, que não tenham participado de decisões, e, se possível, consigam ter pontos de vistas diferentes para uma troca produtiva.

Seja ágil, mas mantenha um plano de negócios atualizado

Pôr um projeto em prática com o mínimo possível, para validá-lo de forma ágil, é uma estratégia de grandes companhias recomendada também para pequenas, diz Enio Pinto, gerente de relacionamento com o cliente do Sebrae.

Seguindo a lógica, quem quer montar uma barbearia começa cortando o cabelo dos vizinhos para antecipar e resolver problemas antes de ter uma estrutura grande demais. Mas isso não significa dispensar um plano de negócio organizado, diz Bruna Lousada, da Saint Paul. Empreender, afirma ela, é um exercício de futurologia, mas é preciso ter parâmetros para encontrar desvios de rota.

Contrate de forma mais plural

Uma recomendação frequente entre especialistas é que o empreendedor procure sócios e funcionários que tenham caraterísticas complementares às suas.

A falta de pluralidade em empresas pode ser a ruína de muitas delas, porque, sem diversidade de ideias, o empreendedor perde a capacidade de questionar más decisões.

Resolva pendências

De forma geral, não é preciso fechar uma empresa para abrir outra, diz Murillo Torelli Pinto, professor de contabilidade da Universidade Mackenzie. É possível até usar o mesmo CNPJ para outra atividade, desde que se altere o contrato social.

Caso a abertura seja necessária, o empresário pode encontrar entraves se tiver cobranças de firmas anteriores que saíram da esfera jurídica para a física (como as fruto de processos trabalhistas) e criam pendências em seu CPF.

Pendências burocráticas têm o poder de preocupar investidores do novo negócio, diz Pedro Schaffa, professor do curso de direito para startups no Insper. O histórico de empresas anteriores é analisado para entender o grau de risco para um negócio futuro. Chamam atenção dívidas trabalhistas e tributárias.

Para ser digital, se associe a quem tem tecnologia

Entregar uma experiência digitalizada pode ser difícil para o pequeno. Uma solução, diz Enio Pinto, é fazer parcerias com startups que desenvolvem produtos em áreas como atendimento, logística e pagamento. Além de ter um custo menor, a remuneração, muitas vezes, pode ser feita proporcionalmente ao serviço ou produto vendido.