BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O país registrou a criação líquida de 155,1 mil empregos com carteira assinada em janeiro, o que representa uma desaceleração em relação ao mesmo mês do ano passado.

O resultado ficou 38% abaixo do registrado em janeiro de 2021, quando o saldo líquido foi de 254,3 mil —considerando ajustes (ou seja, dados entregues pelas empresas após o prazo).

O saldo neste mês é resultado de 1,7 milhão de contratações e 1,6 milhão de desligamentos e foi divulgado por meio do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), apresentado nesta quinta-feira (10) pelo Ministério do Trabalho e Previdência.

Bruno Dalcolmo, secretário-executivo do Trabalho e Previdência, afirmou que a desaceleração é natural após os dados positivos registrados em meio à recuperação de 2021 após o auge da crise de Covid-19 e a normalização dos dados. "Isso não é algo negativo, faz parte de um movimento de crescimento da economia e de ocupação da população. É natural que os volumes terminem sendo menores neste ano, é algo a ser comemorado", disse.

Neste ano, o Caged sofre a influência do fim gradual dos efeitos do programa emergencial de manutenção de emprego. Criada na pandemia, a medida foi considerada fundamental por especialistas para sustentar o mercado de trabalho durante o auge da crise da Covid-19.

Agora, o ministério avalia que o término do programa e o fim da proteção dos vínculos empregatícios façam os dados dependerem mais do desempenho da atividade econômica.

Em janeiro, 853 mil trabalhadores ainda tinham a garantia provisória de emprego concedida pelo programa. A estimativa do ministério é que o número caia para 715 mil em fevereiro, 579 mil em março e 173 mil em abril. Ou seja, menos 680 mil trabalhadores protegidos no intervalo de três meses.

Os dados do mês mostram um fechamento de 60 mil vagas no comércio, único setor com resultado negativo no mês. O saldo reverte o desempenho de um ano atrás, quando o segmento criou 10,1 mil vagas.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Previdência, o fechamento das vagas no setor está em parte relacionado com o fim das festas de fim de ano e em parte com o encerramento do programa emergencial.

Por outro lado, o mês foi beneficiado pela criação de empregos puxada pelo setor de serviços (102 mil postos), seguido por indústria (51,4 mil), construção (36,8 mil) e agropecuária (25 mil).

Na distribuição geográfica, as cinco regiões criaram postos de trabalho em janeiro e foram lideradas pelo Sul (com abertura de 58,7 mil vagas). Em seguida, ficaram Sudeste (52,6 mil), Centro-Oeste (33,8 mil), Nordeste (5,3 mil) e Norte (2,4 mil).

O salário médio de admissão no país continua abaixo de um ano antes. Em janeiro, o indicador ficou em R$ 1.920,59 —queda real de 1,2% na comparação com mesmo mês de um ano atrás. Apesar disso, esse é o melhor patamar registrado em sete meses.

Os dados vieram acompanhados também de mais pedidos de seguro-desemprego. Foram 529 mil requerimentos em janeiro, patamar mais alto em nove meses e também 10% acima de janeiro do ano passado (quando o total foi de 480 mil).

De acordo com o ministério, a economia mais movimentada produz elevação tanto em admissões como em desligamentos —o que aumenta o número de pedidos de seguro-desemprego. Os trabalhadores têm de 7 a 120 dias após a data do desligamento para pedir o benefício.

Os analistas esperam criação de vagas em 2022, embora em nível inferior ao do ano passado (em 2021, o Brasil criou 2,7 milhões de empregos formais).

Fernando Holanda Barbosa Filho, pesquisador do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), afirma que grande parte da recuperação do emprego formal no ano passado foi uma recuperação do nível pré-pandemia e de agora em diante, uma vez atingidos os patamares pré-crise, a tendência é os números pararem de crescer.

"O que gera crescimento de emprego é o crescimento econômico, e as previsões neste ano não estão tão robustas", afirma.

Fator adicional de pressão sobre o mercado de trabalho será a guerra na Ucrânia e os consequentes efeitos na maior inflação e na menor atividade. "Obviamente não vai ser positivo. Temos que saber agora qual a magnitude dos efeitos, como o impacto na inflação, e o quão permanentes serão", afirma.

Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, afirma que a reabertura econômica continua impulsionando os números, mas que o cenário doméstico mais deteriorado nos últimos meses pode estar afetando o ritmo de admissões.

"A partir de 2022, esse desempenho deve estar mais atrelado ao cenário econômico do que o sanitário, que tem dificuldades com inflação e juros altos, ainda que possa se beneficiar de menores efeitos da variante Ômicron", afirma.

Imaizumi prevê a criação de 895 mil vagas em 2022. "Apesar de uma pequena surpresa positiva, os resultados de janeiro não anulam a hipótese de que a tendência de desaceleração na criação de vagas deva ocorrer para o ano de 2022", diz.

Onyx Lorenzoni, ministro do Trabalho e Previdência, afirmou que a projeção da pasta é de criação de 1,5 milhão a 2 milhões de vagas formais em 2022 —o que os analistas não veem como factível.

Ele adiantou que o ministério está elaborando um programa de microcrédito digital que vai permitir aos "invisíveis" se transformarem em microempreendedores individuais, mas não deu detalhes.

Conforme já mostrou o jornal Folha de S.Paulo, a proposta em discussão é usar um fundo garantidor de microcrédito para impulsionar pequenos empréstimos para empreendedores e trabalhadores informais, podendo contemplar também os negativados. A ideia é usar entre R$ 3 bilhões e R$ 3,5 bilhões do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) para aportar em um fundo com essa finalidade.