BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Embaixador que protagonizou os principais embates do governo Jair Bolsonaro (PL) com a China, o diplomata Yang Wanming deve retornar a Pequim nos próximos dias.

Yang se reuniu nesta sexta-feira (25) com o ministro Carlos França (Relações Exteriores) para se despedir formalmente do posto. "Tive o prazer de me despedir do ministro Carlos França antes de deixar o posto de embaixador. Sou grato a sua excelência pela importância que atribui às relações sino-brasileiras. Agradeço também todo o apoio que recebi do governo federal brasileiro e do Itamaraty", escreveu.

De acordo com interlocutores, ainda não houve designação de um novo embaixador por Pequim. Até lá, a embaixada será comandada interinamente pelo diplomata Jin Hongjun.

Ao deixar o Brasil, Yang conclui uma missão marcada, num primeiro momento, por atritos com autoridades do governo Bolsonaro -principalmente com o ex-ministro Ernesto Araújo.

O ex-chanceler chegou a pedir a Pequim a substituição de Yang. Foi ignorado.

Após a demissão de Araújo, em março de 2021, houve uma gradual reaproximação do chinês com a atual gestão no Itamaraty.

Yang protagonizou os momentos mais críticos nas relações sino-brasileiras no mandato Bolsonaro. Ele trocou ataques públicos nas redes sociais, por exemplo, com o deputado Eduardo Bolsonaro (União Brasil-SP), filho do presidente da República.

Em março de 2020, o deputado publicou um texto comparando a pandemia da Covid-19 ao acidente nuclear de Tchernóbil (1986), na antiga União Soviética, afirmando que o regime chinês tinha responsabilidade pela disseminação da doença.

"Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas", escreveu o deputado na época.

Yang classificou a fala de Eduardo de "insulto maléfico", e o perfil oficial da embaixada veiculou uma publicação que acusava o deputado de ter contraído um "vírus mental".

Meses depois, novo confronto entre o filho do presidente e a missão diplomática comandada por Yang. No auge dos ataques à Huawei, gigante chinês de telecomunicações, o parlamentar acusou a China de promover a espionagem industrial via equipamentos 5G.

"Tais declarações infundadas não são condignas com o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados", afirmou a representação diplomática na ocasião, em referência ao cargo que ele ocupava.

"Prestam-se a seguir os ditames dos EUA no uso abusivo do conceito de segurança nacional para caluniar a China e cercear as atividades de empresas chinesas. Isso é totalmente inaceitável para o lado chinês e manifestamos forte insatisfação e veemente repúdio a esse comportamento."

Ernesto tomou as dores de Eduardo e enviou uma carta repreendendo as manifestações da embaixada.

Desde a eclosão da pandemia da Covid, Yang e outros diplomatas chineses permaneceram reclusos nas dependências da embaixada. Por orientação de Pequim, as reuniões e contatos com autoridades brasileiras passaram a ser feitas exclusivamente por videoconferência.