SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A máxima "bandido bom é bandido morto" caiu na boca de muita gente nos últimos anos, causando uma verdadeira guerra política em torno do tema. É por isso que o novo filme de Sandra Bullock, "Imperdoável", não deve agradar todo mundo.

O título parece já dar a resposta, mas a trama questiona justamente se nossa sociedade está disposta a estender a mão para aqueles que cometeram erros no passado -mas já pagaram legalmente por isso, vale dizer.

No longa que chega à Netflix nesta sexta (10), Bullock interpreta uma mulher que passa 20 anos numa prisão por assassinato. Quando foi para trás das grades, no entanto, sua irmã mais nova, de quem ela cuidava, foi adotada. Sua prioridade, depois de duas décadas reclusa, é reencontrá-la, saber se está bem.

Mas o caminho para isso se mostra muito mais difícil do que o esperado, já que uma das exigências de sua condicional é não se aproximar da menina, que era apenas uma criança quando tudo aconteceu e, por isso, praticamente não tem memória da irmã.

"Eu falei com pessoas encarceradas, pessoas que já haviam cumprido suas penas e estavam tentando se reintegrar à sociedade, e foi difícil. Foi difícil principalmente porque eu senti que há uma grande diferença entre homens e mulheres que estiveram presos. Há muito menos oportunidades para as mulheres quando elas deixam a cadeia. É como se elas simplesmente não existissem", diz Bullock em conversa por vídeo.

"Perceber isso foi incrivelmente duro. Muitas dessas mulheres se conformaram com o fato de que são invisíveis. É de quebrar o coração, porque muitas nascem em circunstâncias que já dizem para elas que elas não existem. Absorver isso, imaginar como é e trabalhar todos os sentimentos que vêm disso, foi difícil."

Longe dos vestidos coloridos e do cabelo arrumado de sua personagem em "Miss Simpatia", Bullock aparece em "Imperdoável" de moletom, cortando ora peixes numa fábrica, ora madeira num abrigo para os sem-teto -e sempre com o semblante fechado e abatido.

O filme põe sua protagonista em situações difíceis, por vezes humilhantes, enquanto a personagem Ruth Slater tenta achar abrigo, emprego ou um advogado que esteja disposto a ajudá-la a se aproximar da filha pelos meios legais, tudo isso enquanto dribla justiceiros pelo caminho.

Ela encontra um advogado onde menos espera -a casa em que morou com a irmã e onde matou a tiros um policial. Ao observar o lugar, agora totalmente reformado e lar de uma família harmoniosa e abastada, ela conhece o casal Ingram, interpretado por Vincent D'Onofrio e Viola Davis, que não se sente confortável com a chegada de uma ex-presidiária em sua vida colorida do subúrbio.

"Em seu cerne, o filme pergunta às pessoas justamente se aquela mulher deveria ter uma segunda chance. Não é como se ele forçasse o público a amar a Ruth, mas definitivamente nós queremos que a vejam como um ser humano. Espero que as pessoas peguem essa mensagem, que percebam que há sempre uma história por trás de um crime. Há uma infância antes de chegar à vida adulta", diz Nora Fingscheidt, diretora de "Imperdoável".

Alemã, a cineasta trabalha pela primeira vez num filme falado em inglês. Antes disso, ela dirigiu "Transtorno Explosivo", premiado no Festival de Berlim e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2019.

Ela conta que não esperava, um dia, trabalhar em Hollywood. Muito menos depois de apenas um longa-metragem e alguns curtas no currículo. Talvez tenha sido cedo demais, já que "Imperdoável" não parece ter agradado a crítica estrangeira -e o papel de Bullock tinha tudo para cair nas graças de prêmios como o Oscar, que com tal recepção nem deve se lembrar da atriz no ano que vem.

Mas o filme fala de segundas chances, afinal, e se Fingscheidt agradou a ponto de conseguir assumir uma grande produção da Netflix de maneira tão precoce, não deve encontrar grandes problemas pela frente, ainda mais depois de trabalhar com atrizes do calibre de Bullock e Davis, ambas oscarizadas e imensamente populares.

Sobre o filme, Bullock diz que a segunda chance que sua personagem busca vem numa forma ambígua -ela alcança a liberdade, mas parece que nunca plenamente. O peso de ter passado anos na cadeia, fica claro, vai assombrá-la pelo resto da vida.

"Para a Ruth essa ideia de segunda chance é um tanto agridoce, então eu acho que o filme é mais sobre perdão e julgamento do que qualquer outra coisa", diz a atriz.

"Não dá para julgarmos uma pessoa com base nas nossas próprias experiências, aquela pessoa não viveu a mesma vida que você. A grande questão é: ela pode ser perdoada? Como na vida real, para algumas pessoas, sim. Para outras, vai ser mais difícil. E para outras, não."

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IMPERDOÁVEL

Quando Estreia nesta sexta (10), na Netflix

Classificação 14 anos

Elenco Sandra Bullock, Viola Davis e Vincent D'Onofrio

Produção Alemanha/EUA/Reino Unido, 2021

Direção Nora Fingscheidt