SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O anedotário militar da guerra da Ucrânia ganhou uma adição inusitada na noite da quinta (10): um misterioso drone caiu na capital da Croácia, a cerca de 600 km das fronteiras do governo de Kiev, tendo passado quase uma hora pelo espaço aéreo de dois membros da Otan (aliança militar ocidental).

O incidente foi registrado, segundo agências de notícias, no distrito de Jarun, em Zagreb, por volta das 23h (18h em Brasília). O aparelho caiu ao lado de uma acomodação estudantil. "É impressionante que ninguém tenha se ferido", disse o prefeito da cidade, Tomislav Tomasevic.

O governo croata descartou que tenha sido um ataque, e sim uma insólita visita provavelmente de um drone de fabricação soviética Tu-141, operado pela Força Aérea da Ucrânia, a partir da análise dos destroços.

Em 2014, depois que a Rússia anexou a Crimeia e iniciou a guerra civil no leste ucraniano, Kiev reativou as unidades que tinha do aparelho, um drone rudimentar: mais semelhante a um míssil de cruzeiro com funções de reconhecimento aéreo. A Ucrânia emprega no conflito atual o sofisticado modelo turco de ataque Bayraktar-TB2.

É bastante possível que a Ucrânia esteja empregando o aparelho agora, mas também não é impossível que a Rússia tenha tirado algum modelo de depósitos para usar como alvos para confundir defesas aéreas de Kiev.

Seja como for, a trajetória do aparelho não parece atender bem nenhuma das duas funções, por passar longe das áreas em que há combates mais intensos. O Ministério da Defesa da Ucrânia disse ao site croata Jutarni List que não havia registro da perda do aparelho.

O problema maior é outro. O aparelho penetrou o espaço aéreo da Hungria e da Croácia, dois países membros da Otan, sem ser percebido. Ele não é exatamente pequeno: tem 14 m de comprimento e 3 m de envergadura. Voa no máximo a 1.000 km/h e tem autonomia de 1.000 km.

"Nós temos que revisar certos procedimentos e determinar como foi possível uma aeronave deste tamanho voar da Ucrânia até Zagreb sem ser abatida, ainda mais uma tão pouco sofisticada", disse o presidente Zoran Milanovic.

Foram construídos ao todo 152 unidades do aparelho, pela tradicional fabricante Tupolev, dentre 1979 e 1989. Eles não são sofisticados com os drones americanos atuais, como o Global Hawk, que pode ficar mais de 30 horas no ar vigiando alvos com sensores sofisticados. Ele usa câmeras analógicas para fazer reconhecimento em trajetórias retas, sem manobras complexas.

O temor do espraiamento do conflito russo-ucraniano é uma constante. A Polônia tem tentado uma interferência maior na guerra, enviando não só mísseis, mas aviões de caça a Kiev. Os Estados Unidos rejeitaram a ideia, assim como a criação de uma zona de exclusão aérea, porque ambas as ações seriam percebidas como uma declaração de guerra --possivelmente a Terceira Mundial.