SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O mercado de câmbio voltou a abrir sob pressão nesta sexta-feira (22), com o dólar atingindo R$ 5,7130, alta de 0,81%, às 10h11, conforme investidores seguiam impondo nos preços riscos maiores de abandono da responsabilidade fiscal com o furo do teto de gastos.

A exemplo da véspera, o Banco Central não anunciou ofertas líquidas de dólar para esta sessão.

Na véspera, o dólar subiu 1,88%, a R$ 5,6670, a maior cotação desde 14 de abril, após ter alcançado a máxima de R$ 5,6910 às 15h19, uma alta de 2,31% em relação ao fechamento da véspera.

A Bolsa de Valores brasileira, que chegou a cair 4,57%, à mínima de 105.713 pontos, fechou em queda de 2,75%, a 107.735 pontos. É a menor pontuação desde 23 de novembro.

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, vem afundando desde terça (19). Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), preocupado com a popularidade às vésperas da campanha eleitoral, determinou que o benefício seja de R$ 400, acima dos R$ 300 estimados anteriormente.

Para cumprir a determinação de Bolsonaro, o governo precisaria furar o teto de gastos -regra que limita o crescimento das despesas públicas.

Para driblar a regra, nesta quinta, o governo e seus aliados no Congresso inseriram na PEC (proposta de emenda à Constituição) que adia o pagamento de precatórios uma mudança na correção do teto de gastos que, na prática, expande o limite das despesas federais.

O conjunto das alterações previstas cria um espaço orçamentário para despesas de R$ 83 bilhões no ano eleitoral de 2022. A manobra causou uma debandada no time do ministro Paulo Guedes (Economia).

Na noite de quinta, assim que os mercados fecharam, o Ministério da Economia comunicou que o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, pediram exoneração de seus cargos, marcando nova rodada de baixas na equipe econômica em meio à sinalização do governo de que irá contornar a regra do teto de gastos para colocar de pé um novo Bolsa Família mais robusto.

"Há muita incerteza no curto prazo que pode empurrar o dólar para cima ante o real. Por outro lado, os players acham que o real está gravemente desvalorizado, o BCB provavelmente aumentará seu ritmo de alta dos juros e intervenções (cambiais) ainda são possíveis. Portanto, a estabilidade nesses níveis não parece ser o cenário-base", disse o Citi em nota.

Os juros futuros mantinham-se sob intensa onda de compra, com as taxas disparando mais 51 pontos-base em alguns vencimentos, aumentando a pressão para o Bacen acelerar o ritmo de aumentos da taxa Selic.