SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar comercial fechou em queda de 0,60% nesta terça-feira (22), a R$ 4,9140. É o menor valor da moeda americana desde 24 de junho do ano passado, quando a cotação do dia foi de R$ 4,9050.

Na véspera, o dólar já tinha caído 1,45%, fechando a sessão a R$ 4,9440 na venda. Até então, o menor valor desde 29 de junho do ano passado.

Ações excessivamente desvalorizadas na Bolsa, a possibilidade de ganhos no setor de commodities devido a ameaças de escassez do petróleo provocadas pela guerra na Ucrânia, além de juros domésticos altos, criam uma combinação que favorece a entrada de dólares no país. O resultado é a queda da taxa de câmbio.

Neste ano, o real apresenta a maior valorização frente à divisa americana, quando comparado a outras moedas de países emergentes. O retorno à vista da moeda brasileira está em quase 13% no acumulado de 2022, segundo dados compilados pela Bloomberg.

No mercado doméstico de ações, o Ibovespa subiu 0,96%, a 117.272 pontos. O principal índice da Bolsa chegou, assim, ao seu maior valor desde o início de setembro de 2021.

O setor de finanças foi um dos mais valorizados da Bolsa nesta terça. Os bancos Bradesco e Itaú subiram 1,25% e 1,37%, respectivamente, exercendo o maior peso positivo sobre o Ibovespa.

Ações do setor bancário estão entre as mais importantes da Bolsa brasileira e são relevantes para a atração de investidores estrangeiros.

A renda fixa brasileira desponta como uma das mais interessantes do mundo. A razão para isso é a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 11,75%, consideravelmente acima da perspectiva de inflação para este ano, que está na casa de 6,5%.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia que o comunicado do Banco Central sobre a mais recente elevação da Selic reforçou a perspectiva de que a taxa de juros chegará a 13,25% em junho.

Aumentar os juros é a principal ferramenta à mão da autoridade monetária de um país para frear a inflação. Ao tornar o crédito mais caro, o Banco Central desacelera a atividade econômica.

Sanchez pontua que as expectativas de inflação do Banco Central consideram um cenário com o barril do petróleo tipo Brent cotado US$ 115 (R$ 565,82), "o que atribui um viés hawkish [de elevação agressiva dos juros] para o futuro da condução da política monetária", comentou.

Nesta terça, a cotação do Brent encerrava a tarde em US$ 114,41 (R$ 562,92), uma queda de 1,05%. No dia anterior, porém, a commodity havia avançado 7,12%.

Diante da continuidade dos ataques da Rússia à Ucrânia, países da União Europeia ameaçam seguir os Estados Unidos e impor restrições à importação da matéria-prima produzida pelos russos.

Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, reforça que o gatilho para a recente queda do dólar foi o novo choque de preços das commodities devido à invasão da Ucrânia pela Rússia. Ele destaca, porém, que esse "movimento foi exacerbado pela decisão do Banco Central de vincular a alta dos juros à elevação da cotação do petróleo", comentou.

A valorização de commodities produzidas no Brasil já é um fator importante para a queda do dólar, pois essas mercadorias são negociadas em dólar e, naturalmente, representam uma porta de entrada para a moeda estrangeira.

"E se você ainda tem o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central] dizendo que vai aumentar os juros se o petróleo subir, isso é uma força a mais [para a queda do dólar], já que os juros mais altos tendem a atrair mais capital estrangeiro para a nossa renda fixa", comentou Caruso.

Fora isso, antes do início da guerra, investidores estrangeiros já buscavam oportunidades na Bolsa brasileira, que possuía ações baratas.

Especialistas do mercado financeiro definem se as ações de uma empresa negociadas na Bolsa estão caras ou baratas por meio da relação entre o preço desses ativos e o lucro projetado pela companhia.

Nos Estados Unidos, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 0,74%, 1,13% e 1,95%.

As altas demonstravam investidores dispostos a tomar risco mesmo após o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, ter reforçado a intenção da autoridade monetária em acelerar a alta de juros para que o país tente frear a maior inflação em quatro décadas.