SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa de Valores brasileira opera nesta quinta-feira (24) em forte queda após o início da guerra na Europa. A Rússia decidiu atacar a Ucrânia, naquilo que Kiev chamou de invasão total. É a mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

​Às 13h40, o Ibovespa caía 1,69%, a 110.127 pontos. Mais cedo, o índice de referência do marcado de ações do país havia tombado 2,38%, recuando à mínima de 109.341 pontos. O mercado acionário do país já vinha de uma queda de 0,78% na véspera, ​quando dados prévios do IBGE indicaram a maior inflação para fevereiro desde 2016.

O dólar disparava 2,51% a R$ 5,1290. O início da ofensiva militar russa provocava valorização global da moeda americana. O dólar costuma ser mais procurado por investidores em períodos de incerteza e isso explica a valorização.

O salto na cotação ocorre um dia depois da divisa americana ter atingido o seu menor valor frente ao real desde o final de junho. Nesta quarta-feira (23), o dólar havia recuado 0,95%, a R$ 5,0030, o que havia levado a moeda a um recuo de 12,4% desde o pico de valorização neste ano, de R$ 5,71 em 5 de janeiro.

Até esta quarta, antes da invasão russa à Ucrânia, investidores estrangeiros que enxergavam o Brasil como alternativa às baixas nas bolsas de economias desenvolvidas mantinham um forte fluxo de investimentos no mercado financeiro doméstico.

Analistas avaliavam que a crise na Europa até mesmo favorecia esse movimento. Semelhanças entre os setores de commodities de Brasil e Rússia fariam do mercado brasileiro um potencial refúgio de investidores obrigados a interromper negócios em Moscou, que sofrerá sanções econômicas.

Fundamentos que tornam o Brasil atraente para investidores internacionais continuam presentes, como real desvalorizado, Bolsa com ações baratas, valorização de commodities e, principalmente, uma taxa de juros muito alta em relação às principais economias.

O início de uma guerra, porém, faz investidores abandonarem fundamentos para adotarem medidas de proteção contra riscos de perdas, segundo Fernanda Mansano, economista-chefe da plataforma de investidores TC (Traders Club).

"Até então, a gente estava vendo um efeito carry trade com base no fundamento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos", diz Mansano.

Carry trade é como o mercado chama a prática de tomar crédito barato em países com juros baixos e aplicar em mercados com maior possibilidade de retorno.

"Agora, diante de uma situação de incerteza, pode haver fuga [do capital estrangeiro]. A chance de desvalorização cambial no curtíssimo prazo é real", comenta a economista. "Costumo comparar esses momentos como dirigir quando está chovendo muito. O que você faz? Para o carro, espera passar, porque não dá para enxergar o que está lá na frente."

Bolsas em todo mundo afundavam nesta quinta-feira. O índice que acompanha as 50 principais empresas de países da Europa que utilizam o euro como moeda desabava 3,51%. Os mercados de ações de Londres, Paris e Frankfurt tinham perdas de 3,70%, 3,80% e 3,78%, respectivamente.

Na Ásia, os principais índices acionários fecharam com quedas severas. Tóquio, Hong Kong e Xangai/Shenzhen despencaram em 1,81%, 2,21% e 2,03%, nessa ordem.

O barril do petróleo Brent, referência mundial para essa mercadoria, subia 7,85%, a US$ 104.44 (R$ 534,39), na maior cotação desde 2014.

A Rússia é um dos principais produtores de petróleo e derivados, como o gás natural. Em meio à imprevisibilidade sobre a continuidade do abastecimento russo, sobretudo à Europa, temores de que uma quebra na oferta pressionam a cotação da commodity.

No principal mercado do planeta, os principais índices de ações negociados em Nova York caíam a partir de um patamar que já estava rebaixado pela expectativa de uma política monetária mais rígida, com elevação de juros, para a contenção da maior inflação em quatro décadas. Dow Jones e Nasdaq recuavam 1,81% e 0,02%, respectivamente.

Referência da Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 recuava 0,79%. Na última terça-feira (22), o indicador já havia atingido uma baixa de 10% em relação à sua pontuação recorde alcançada em 3 de janeiro deste ano. Quando um indicador recua a partir dessa porcentagem em relação ao seu nível mais alto, ele entra na chamada "zona de correção".

É a primeira vez que isso ocorre desde fevereiro de 2020, quando notícias de que a Covid resultaria em uma pandemia abalaram os mercados.