RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Um documento interno da Polícia Militar de Pernambuco indica que o comando da corporação ordenou a dispersão dos manifestantes no ato contra o presidente Jair Bolsonaro no dia 29 de maio, no centro do Recife. Duas pessoas perderam a visão de um olho após terem sido atingidas por tiros de bala de borracha que partiram da polícia.

O governador Paulo Câmara (PSB) afirmou na última semana que a ordem para atacar os manifestantes não partiu da cúpula da segurança estadual. O comandante da PM, Vanildo Maranhão, e o secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, pediram exoneração dos cargos.

O documento de comunicação interna na corporação, assinado por um policial cuja identidade foi preservada, foi revelado pelo Jornal do Commercio e confirmado pela reportagem.

Nele, o agente afirma que por volta das 10h20 recebeu uma ligação do comandante do batalhão de Choque, que informou que Maranhão havia orientado a dispersão de uma manifestação de 300 pessoas, que descumpriam o decreto estadual relativo à pandemia da Covid-19.

O policial diz que às 11h20 recebeu nova chamada, do coordenador do Copom (Centro de Operações da PM), que reforçou a determinação de Maranhão para que o Choque dispersasse os manifestantes, "usando os meios dispostos", caso eles avançassem em direção à praça do Diário.

Ainda seguindo o relato do policial, na avenida Guarapés manifestantes hostilizaram os agentes do Choque com xingamentos e atirando pedras. Dois deles teriam tentado furar o bloqueio da polícia e foram detidos.

O policial diz também que, após os dois serem detidos, grande parte dos presentes, na tentativa de resgatá-los, arremessou pedras contra a equipe e que, só a partir daí, foram utilizados bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar a manifestação.

Até o momento, não há vídeos que comprovem agressão por parte dos manifestantes. Policiais do Choque começaram a atirar com armas não-letais às 11h44 contra pessoas que seguiam de maneira ordeira por uma avenida do centro do Recife. Imagens mostram agentes atirando nos presentes quase à queima-roupa. A vereadora Liana Cirne (PT) foi atacada com spray de pimenta após se identificar.

O então secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, estava no centro de monitoramento de câmeras da secretaria no momento em que policiais atacaram os manifestantes. Nesse local, é possível monitorar em tempo real todas as câmeras no estado. Ao lado de Pádua, estava o delegado Humberto Freire, que o substituiu na chefia da pasta na sexta-feira (4).

Dois dias antes da manifestação, o Ministério Público de Pernambuco havia alertado o secretário sobre a necessidade de orientação do efetivo da Polícia Militar para evitar eventuais excessos no ato.

A corregedoria da Secretaria de Defesa Social apura a ocorrência de excesso policial e até o momento afastou oito agentes investigados no caso.

Em nota, a secretaria afirmou que a PM já remeteu todos os documentos e demais objetos de investigação à corregedoria. "Tais elementos de prova fazem parte do procedimento instaurado para apurar as responsabilidades e a PMPE não vai se pronunciar sobre supostos vazamentos", diz o texto.