BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Unidades do Exército orientaram a dispensa do uso de máscaras dentro dos quartéis, e militares do Comando do Sudeste já dão expediente presencial sem o equipamento de proteção contra o coronavírus.

A Folha de S.Paulo confirmou a informação com generais que comandam tropas em São Paulo e em quartéis onde a máscara já é um elemento dispensável há, pelo menos, uma semana.

O Centro de Comunicação Social do Exército, em Brasília, e a assessoria do Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, não responderam às perguntas da reportagem sobre a orientação para que máscaras deixem de ser usadas por militares. Os questionamentos foram feitos na quinta (3) e na sexta (4).

Segundo relato de militares, a orientação repassada não tinha apenas um caráter de recomendação, mas de determinação para que as máscaras deixem de ser usadas em situações específicas. São os casos de formaturas e de guardas feitas dentro dos quartéis.

A ordem não partiu do comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, nem houve deliberação a respeito pelo Alto Comando da Força, segundo fontes ouvidas pela reportagem.

O comandante militar do Sudeste é o general Tomás Miguel Paiva, que integra o Alto Comando do Exército.

A dispensa de máscara contraria uma normativa do comandante do Exército, que elaborou e divulgou um documento, finalizado em 3 de janeiro, com 52 diretrizes a serem seguidas por órgãos de direção e comandos militares de área.

"As medidas protetivas como o distanciamento social, o uso de medidas de barreira física (uso de máscaras) e a higienização das mãos devem ser observadas", diz o item 11 do documento.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) é contra o distanciamento social e o uso de máscaras, critica as vacinas e defende o uso de drogas sem eficácia comprovada para tratar a Covid, especialmente a cloroquina.

A orientação para que se deixe de usar máscaras agrada, assim, ao presidente.

Bolsonaro se incomodou com as diretrizes baixadas em janeiro pelo comandante do Exército, especialmente a de número 22, que condicionou o retorno de militares à atividade presencial à vacinação contra a Covid. A imunização não é obrigatória nos quartéis, ao contrário de vacinas para febre amarela, tétano, hepatite B e outras doenças.

Apesar da condição estabelecida para o retorno ao trabalho presencial, há ressalvas presentes no documento. "Os casos omissos sobre cobertura vacinal deverão ser submetidos à apreciação do DGP [Departamento Geral do Pessoal], para adoção de procedimentos específicos", cita o documento do comandante do Exército.

A cúpula do Exército precisou explicar a Bolsonaro que a diretriz não se diferenciava de uma norma editada em novembro de 2021 pelo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, e que a vacina contra Covid seguia opcional, sem ser obrigatória.

A flexibilização no uso de máscaras dentro da caserna ocorre num momento de movimentação entre os militares da alta cúpula, de olho na possibilidade de mudanças no governo Bolsonaro.

O presidente cogita Braga Netto para ser seu vice na disputa pela reeleição, no lugar do general Hamilton Mourão. Se isso se materializar, podem ficar vagos os cargos de ministro da Defesa e até mesmo o de comandante do Exército, caso o presidente decida pelo nome de Oliveira para ser ministro, como esperam integrantes da Força.

Do ponto de vista técnico, a dispensa de máscaras ocorre em meio a índices de imunização inferiores aos verificados entre adolescentes e população adulta em geral, como a Folha de S.Paulo mostrou em reportagem publicada no último dia 21.

Em 24 de janeiro, o Exército informou, a partir de um pedido feito via LAI (Lei de Acesso à Informação), que 32% dos militares da ativa não se imunizaram com as duas doses da vacina. Isso representava 67,5 mil integrantes do Exército sem o primeiro ciclo completo de imunização contra a Covid.

Entre adolescentes e população adulta em geral, o índice de não vacinados com as duas doses era de 17,4% em 24 de janeiro, segundo dados do consórcio de imprensa formado por Folha de S.Paulo, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1.

Generais que comandam tropas em São Paulo afirmaram à reportagem que não há imposição para a dispensa de máscara e que o equipamento pode ser usado por quem assim desejar. Os comandos seguem as normas sanitárias vigentes, segundo esses militares.

Desde maio de 2020, o uso de máscara em todo o estado de São Paulo, onde fica a grande maioria das unidades do Comando Militar do Sudeste, tem sido obrigatório. O governador João Doria (PSDB) prepara um comunicado sobre o fim da obrigatoriedade de uso de máscaras em ambientes abertos a partir de quarta (9).

Flexibilizações do tipo, em ambientes abertos, vêm ocorrendo em outros estados. A cidade do Rio de Janeiro já desobrigou o uso de máscaras em ambientes abertos e fechados, conforme decidido nesta segunda (7).