MANAU, AM (FOLHAPRESS) - Em mais um ataque contra a comunidade yanomami Palimiú, garimpeiros lançaram bombas de gás lacrimogêneo na noite deste domingo (16), segundo relatos dos indígenas.

Localizada às margens do rio Uraricoera, a comunidade sofre atentados quase diários há uma semana. Segundo os indígenas, duas crianças yanomamis, de um e cinco anos de idade, morreram afogadas quando tentavam fugir de um dos ataques a tiros.

"Aconteceu às 21h47. Houve muita fumaça e explosão. Eles me ligaram à noite, eu até ouvi o tiroteio, voltaram a atirar. Eram de 15 a 18 barcos", afirmou o presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Junior Hekurari Yanomami sobre o episódio deste domingo.

"Há três crianças com malária com os olhos muito ruins, lacrimejaram bastante. É muito revoltante, o governo federal está omisso", afirma a liderança.

Apesar dos ataques constantes e dos reiterados pedidos dos yanomamis, Palimiú está sem presença de forças de segurança. A PF esteve lá por algumas horas na semana passada e também foi atacada a tiros pelos garimpeiros. Já representantes do Exército ficaram no local por apenas duas horas e se retiraram, segundo os yanomamis.

"Não tem nenhum tipo de polícia. Nem Exército nem Polícia Federal nem Força Nacional. Só eles com as flechas deles", afirma Junior Hekurari.

Desprotegidos, os yanomamis decidiram retirar mulheres e crianças das aldeias da região. "Fugiram pra floresta."

A liderança disse que conversou na manhã desta segunda-feira (17) com a Polícia Federal. A informação é a de que os policiais dependem do helicóptero do Exército.

Segundo relatos, três garimpeiros foram mortos durante o primeiro ataque a Palimiú, há uma semana, mas essa informação não foi confirmada oficialmente.

Os ataques constantes levantaram a suspeita de participação da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que controla Roraima. Em áudios, os garimpeiros chamam os autores dos atentados de "facção".

Procurado, o CMA (Comando Militar da Amazônia) não se pronunciou até a conclusão deste texto.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é um adversário histórico da demarcação de terras indígenas, especialmente dos yanomamis. Em 1992, quando a demarcação foi homologada no governo Fernando Collor, Bolsonaro, então deputado de primeiro mandato, entrou com um projeto legislativo para barrar a iniciativa.

Por outro lado, Bolsonaro vem tentando legalizar os garimpos ilegais de ouro em terras indígenas, apesar da contaminação do mercúrio, da destruição dos rios e do forte impacto na vida tradicional.