BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - "O Conselho Europeu sem Angela Merkel é como Roma sem o Vaticano ou Paris sem a torre Eiffel", disse à primeira-ministra da Alemanha o presidente do órgão que reúne os líderes da União Europeia, Charles Michel.

"Você é um monumento", comparou Michel, em discurso que marcou a possível despedida da política alemã das reuniões do Conselho, após 16 anos como primeira-ministra. Merkel já havia anunciado sua retirada em 2018 --após as eleições de setembro, três partidos negociam a formação de um novo governo.

A líder poderá porém voltar ao encontro em Bruxelas se o social-democrata alemão Olaf Scholz, que liderou a votação, não for eleito como premiê antes do começo de dezembro: o próximo conselho está marcado para o dia 16 daquele mês.

No discurso, Michel chamou ainda Merkel de "bússula e farol do projeto europeu" e disse que sua sabedoria fará falta, "principalmente em tempos complexos".

Durante seu governo, ela liderou respostas da UE a crises como o colapso financeiro de 2008, a insolvência de alguns membros do bloco a partir de 2011, a grande onda de imigração em 2015 e a pandemia de coronavírus.

Das 214 reuniões de Conselho já feitas, a líder alemã participou de 107, exatamente a metade. Nesta quinta, sua atuação mais marcante foi pedir mais diálogo dos colegas com a Polônia, que está sob fogo cruzado na UE após uma série de medidas que limitam a independência do Judiciário.

Merkel foi aplaudida de pé após o discurso de Michel, que elencou três características da primeira-ministra como as mais marcantes: curiosidade intelectual, espírito científico e simplicidade. "Essa é uma arma de sedução muito poderosa."

O presidente do Conselho também publicou em rede social dois vídeos, um de "melhores momentos" e outro em que o ex-presidente americano, Barack Obama, manda uma mensagem de despedida.

"Tive a felicidade de me tornar seu amigo, ao vê-la perseguir o bom-humor, o pragmatismo sábio e firme convicção moral, ao tomar decisões difíceis ao longo de muitos anos", diz Obama.

Merkel, segundo ele, ajudou a "manter o centro firme em meio a muitas tempestades" e foi um exemplo para homens e mulheres, garotos e garotas: "Eu sei porque sou um deles".

Esta deve ser também a última cúpula do primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven, que, como Merkel, foi homenageado com um discurso, porém mais breve.

Os dois ganharam de Michel um objeto que representa a "Lanterna", espaço de salas elípticas no interior do prédio do Conselho; a escultura foi feita pelo designer franco-holandês Maxim Duterre.

O evento não foi filmado, e a assessoria do Conselho Europeu não informou como Merkel respondeu às homenagens.