BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O anúncio do desmembramento do Ministério da Economia, com a recriação da pasta do Trabalho, abriu uma disputa por postos considerados estratégicos no governo. O nome do atual secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, é cotado para mais de uma função enquanto técnicos relatam ambiente de incerteza sobre os cargos da nova pasta.

Com a criação do mais novo ministério do presidente Jair Bolsonaro, Guedes perderá o controle da área que formula as políticas de emprego do governo. Com isso, fica incompleto o trabalho de implementação de um programa para formalização de jovens, que tramita no Congresso. Ele também não conseguiu promover uma desoneração da folha salarial das empresas e uma flexibilização das leis trabalhistas.

Guedes pretende seguir participando da formulação dessas medidas. Agora, no entanto, as ações não estarão sob seu comando e ele não terá poder de decisão final.

Apesar de o ministro sempre ter se colocado contra o desmembramento de sua pasta, a recriação do Ministério do Trabalho é minimizada por interlocutores. A avaliação é que não haverá efeito negativo sobre os trabalhos da Economia.

Após o anúncio da separação, o nome de Bruno Bianco passou a ser cotado para a vaga de secretário-executivo do novo ministério, a ser comandado por Onyx Lorenzoni em um momento em que o governo divulga sucessivos aumentos no saldo de emprego.

Membros da Economia avaliam que a presença de Bianco na nova pasta seria uma forma de Guedes não perder totalmente o controle sobre o órgão que, além de desenvolver os programas de emprego, concentra parcela relevante do Orçamento do governo ao centralizar as contas da Previdência.

Na equipe econômica, foi mencionado que a nova pasta acomodará Trabalho e Previdência. Mas ainda não está definido se Onyx realmente coordenará a área previdenciária.

Ao mesmo tempo, o nome de Bianco também entrou na lista de apostas para o cargo de Advogado-Geral da União. Ele é servidor de carreira do órgão e estaria cotado para substituir André Mendonça, indicado ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Essa possibilidade, no entanto, é alvo de disputa entre as carreiras que compõem a AGU (Advocacia-Geral da União). Advogados públicos estariam fazendo pressão contra a indicação de Bianco, que é da carreira dos procuradores federais.

Além disso, membros da Economia relatam incerteza em relação ao futuro dos quadros que hoje compõem a secretaria. A percepção é que Onyx costuma mudar de ministério e levar sua própria equipe, promovendo grandes mudanças na estrutura dos órgãos.

Outro relato é que Bianco, um secretário-especial que ganhou destaque na formulação do programa de corte ou redução de salário e jornada durante a crise, não teria onde ficar na pasta de Guedes.

Pessoas próximas a Guedes afirmam que o novo desenho da Esplanada não vai afetar o núcleo do ministério, do qual o titular da pasta não abre mão --o que inclui a política fazendária, hoje com Tesouro Nacional e Secretaria de Orçamento Federal, e também a política industrial.

A visão é que, caso fossem recriados os Ministérios do Planejamento ou da Indústria, por exemplo, conflitos históricos poderiam ser reavivados entre as pastas. Hoje, disputas internas sobre o direcionamento de políticas são mediadas por Guedes -um poder que seria perdido.

Além de minimizar o impacto para a pasta, interlocutores de Guedes afirmam que o novo desenho pode ser benéfico para o cotidiano da equipe ao desafogar os trabalhos do ministro -que está sobrecarregado.

O volume de trabalho, inclusive, é uma das justificativas usadas por membros da pasta para a reforma tributária ter sido enviada com aumento da carga para as empresas -algo a que o ministro se diz contrário.

Para esses interlocutores, não há um enfraquecimento de Guedes porque o movimento do Planalto serve para agradar ao centrão e, por isso, não está ligado a uma possível insatisfação com o ministro.

Apesar de várias especulações desde o começo do governo, esta é a primeira vez que o Ministério da Economia vai encolher. Guedes reuniu sob seu comando as antigas pastas da Fazenda, do Planejamento, da Indústria, do Trabalho e da Previdência. Depois, ainda incorporou a secretaria do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos).

Em entrevista há cerca de dois meses, Guedes havia dito que não concordava com uma divisão de sua pasta. "É evidente que não. Isso é decisivo, não pode", disse ao jornal Folha de S.Paulo em maio.

"E, se você pergunta se o presidente já comentou isso comigo, já comentou. Está cheio de gente querendo", afirmou. "Aí eu pergunto se ele está sofrendo alguma pressão política e ele diz: 'Isso é o tempo inteiro, mas eu não vou tirar, a menos que você peça'. Eu recebo essas provas claras de apoio nos momentos decisivos", afirma.

Nesta quarta, Guedes comentou o assunto sem se aprofundar. "Vamos fazer uma mudança organizacional. Vamos acelerar a geração de emprego, inclusive com uma reorganização nossa interna. São novidades que o presidente deve trazer rapidamente", disse ao participar do começo da apresentação sobre os números da arrecadação.