BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Polícia Civil de Brasília deve concluir após o Carnaval inquérito e indiciar o delegado da Polícia Federal Renato Pagotto Carnaz por três crimes relacionados a um acidente de trânsito em que ele se envolveu em 16 de dezembro no Eixão Sul, região central da capital federal.

De acordo com as investigações, ele dirigia em alta velocidade e provocou o acidente, que deixou duas pessoas feridas -uma mulher passou alguns dias internada-, e não parou para prestar socorro.

Um motorista de aplicativo e uma usuária que passavam pelo local seguiram e filmaram o carro do delegado até ele entrar na sede da superintendência da PF.

Pagotto perdeu o cargo de chefe da Delegacia de Repressão a Drogas da PF em Brasília. O órgão também abriu um inquérito criminal e uma sindicância disciplinar para apurar o caso.

O acidente foi provocado, segundo a investigação, porque Pagotto dirigia em alva velocidade na faixa esquerda da via e não conseguiu evitar a batida quando um carro desacelerou ao se aproximar de um radar.

A colisão levou o veículo da frente a perder o controle e atravessar a pista contrária, se chocando com outro veículo.

A filmagem da perseguição ao carro que provocou o acidente, entregue pelo motorista de aplicativo a familiares das vítimas, levou a Polícia Civil a ir à superintendência da PF ainda no dia 16. Pagotto não estava mais no local, mas o carro filmado, uma picape Dodge Ram, foi localizada no pátio com marcas da batida.

A placa, porém, não era a mesma que aparecia no vídeo. As investigações mostraram que tão logo chegou à superintendência da PF, Pagotto trocou a placa do carro, apreendido de traficantes e que estava sendo usado como viatura descaracterizada da PF.

Apesar de ser comum viaturas descaracterizadas terem mais de uma placa, a polícia concluiu que a troca, naquele momento, teve o objetivo de tentar dificultar a identificação do carro.

Logo após o acidente, Pagotto viajou a turismo para a Bahia, de onde chegou a postar foto em rede social.

A Folha de S.Paulo apurou que o delegado deve ser indiciado na Polícia Civil pelos crimes de lesão corporal culposa e evasão do local do acidente, com penas que não superam dois anos de detenção, salvo agravantes, e adulteração de sinal identificador de veículo (três a seis anos de detenção, salvo agravante).

As investigações na PF ainda não foram concluídas. Caso esse inquérito criminal também resulte em indiciamento e o Ministério Público ofereça denúncia, caberá à Justiça decidir se o caso tramitará na esfera estadual (inquérito da Polícia Civil) ou federal (inquérito da Polícia Federal).

A sindicância da PF pode resultar em um PAD (Processo Administrativo Disciplinar), com penas que vão de advertência a demissão do serviço público.

Em resposta à pergunta sobre se o órgão ou o delegado se manifestariam sobre o caso, a Polícia Federal no Distrito Federal disse que "apura os fatos ocorridos no âmbito administrativo, bem como na esfera criminal, mas que ainda não houve conclusão das investigações".

A Folha de S.Paulo não conseguiu contato com a defesa de Pagotto.