SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pense em um jogo de tiro em primeira pessoa. Adicione elementos de furtividade, com pitadas de roguelike. Decore com uma estética retrofuturista, similar à da série "BioShock", e uma história à la "Feitiço do Tempo", filme de 1993. Isso é "Deathloop".

Os ingredientes para um blockbuster estão todos aí, mas, ao misturar tantos sabores, é fácil errar a mão e a receita desandar. Aproveitando a experiência adquirida em jogos como "Dishonored" e "Prey", a Arkane Studios tira do forno um jogo surpreendente e inovador, mas que fica longe de ser uma obra-prima.

Em "Deathloop", o jogador é colocado no papel de Colt Vahn, um homem sobre o qual pouco se sabe que acorda sem memória em uma praia da ilha fictícia de Blackreef. Logo nos minutos iniciais, ele descobre que está preso em um ciclo temporal, revivendo o mesmo dia repetidamente. Para sair dessa espécie de prisão do tempo, Colt precisa matar em um único dia oito moradores da ilha com poderes especiais, chamados de visionários.

Inicialmente, a tarefa é impossível de ser cumprida. Cabe a Colt explorar os quatro distritos que compõem a ilha em diferentes períodos do dia --manhã, meio-dia, tarde e noite-- para revelar segredos desses visionários e encontrar uma forma de quebrar o ciclo, enquanto desvenda o estranho fenômeno de Blackreef.

Como a cada novo ciclo Colt perde todas as armas e poderes especiais, as informações e os conhecimentos adquiridos ao longo de cada dia se tornam os principais ativos que o jogador tem para avançar no jogo --pelo menos no início da campanha.

É nessa hora que "Deathloop" mostra o que tem de melhor. O incentivo à exploração de ambientes hostis e o risco de perder boa parte das ferramentas para isso aumentam a tensão sem chegar ao ponto de tornar a experiência frustrante. Afinal, sempre fica a sensação de que o jogador aprendeu algo naquele ciclo que poderá ser útil nos seguintes.

Ao longo da história, porém, Colt aprende uma forma de salvar seu arsenal para os ciclos seguintes. Ao mesmo tempo que essa possibilidade dá alívio ao jogador, ela dilui parte da tensão e o sentimento de que cada adversário vencido é uma grande vitória.

Já nos momentos finais da campanha, com um arsenal cada vez maior e mais diverso, os ciclos começam a se tornar repetitivos. Não por falta de conteúdo --os mapas são bastantes complexos, cheios de portas secretas, prédios com vários andares e passagens subterrâneas--, mas, sem grandes recompensas, a descoberta de novas armas e segredos se torna burocrática.

A opção de jogo online, que coloca o jogador no papel de Julianna Blake, uma "visionária" e principal antagonista na história --os diálogos dela com Colt são muito bem escritos e divertidos--, permite ao jogador invadir a campanha de outra pessoa e atrapalhá-la na tarefa de interromper o ciclo.

A ideia, já usada em títulos da série "Dark Souls", por exemplo, é boa e traz de volta um pouco da tensão das horas iniciais da campanha. No entanto, a demora para encontrar adversários e a má qualidade da conexão deixam a experiência bastante frustrante.

Há outros problemas técnicos menores, esperados para um jogo dessa magnitude, mas que impactam a experiência do jogador. Jogando em um PlayStation 5, em mais de um momento o jogo travou e foi necessário reiniciá-lo, perdendo parte do avanço naquela sessão. Além disso, é comum encontrar bugs nos menus e, nos primeiros dias após o lançamento, usuários da versão para PC reclamaram do desempenho do game.

A inteligência artificial dos NPCs, os personagens não controláveis, também poderia ser melhor. Portas parecem objetos intransponíveis para alguns "eternalistas" --como são chamados os moradores de Blackreef, todos tentando impedir Colt de quebrar o ciclo--, e é comum encontrá-los parados, sem nenhuma cobertura, no meio de um tiroteio.

Apesar desses problemas, "Deathloop" ainda é um jogo bem divertido, com história e sistemas bastante originais, apesar de um pouco confusos. Uma pena que, ao fim, ainda deixe um gostinho de "quero mais".

DEATHLOOP

Avaliação: Muito bom

Onde: PC e Playstation 5

Preço: R$ 249,95 (PC) e R$ 299,90 (PS5)

Classificação: 18 anos

Produção: Arkane Lyon

Distribuição: Bethesda