BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Pré-candidato a deputado federal por São Paulo, o astronauta Marcos Pontes tentou dar verniz científico às ações do governo Jair Bolsonaro (PL) e reclamou de cortes de verba durante a sua gestão à frente do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

Por outro lado, manteve-se no cargo e endossou os esforços do governo para promover medicamentos sem eficácia contra a Covid, além de receber deputada alemã ultradireitista.

Pontes travou disputas com a equipe Econômica e causou mal-estar no governo, em outubro de 2021, ao pedir de volta R$ 600 milhões de recursos retirados de sua pasta.

Ele disse ter sido "pego de surpresa", ficado "muito chateado" e que pensou em deixar o governo após o corte. O ministro Paulo Guedes (Economia) reagiu e chegou a se referir ao astronauta como burro.

Já Bolsonaro pediu para Pontes "jogar junto". Mesmo com as críticas, Pontes ficou.

O astronauta confirmou nesta terça-feira (1º) que deixará o ministério e indicará o substituto para assumir a pasta. "A lista [com as sugestões de substitutos] está com o presidente [Jair Bolsonaro]", afirmou.

O ministro já havia reclamado de falta de verba em outros momentos. Apesar destas críticas, Pontes fez parte dos esforços do governo Bolsonaro de promover medicamentos sem eficácia para a Covid.

Em outubro de 2020, distorceu resultados de estudo financiado pelo governo e disse que havia eficácia no uso do antiparasitário nitazoxanida (também conhecido pelo nome comercial Annita) contra a Covid-19.

Mas os próprios autores do estudo reconheceram que não houve diferença na resolução dos sintomas dos pacientes com a droga.

"Dá para ter uma noção do que estamos anunciando aqui hoje, né? Nós estamos anunciando algo que vai começar a mudar a história da pandemia", disse Pontes em evento no Planalto sobre a pesquisa.

O astronauta ainda exonerou, em 2019, o físico Ricardo Galvão do comando do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), no momento em que Bolsonaro discordava de dados do desmatamento elaborados pelo órgão.

Bolsonaro anunciou a escolha de Pontes para integrar o governo em outubro de 2018, quando era presidente eleito.

Primeiro astronauta brasileiro a ir para o espaço, em 2006, ele havia sido cotado a candidato a vice-presidente de Bolsonaro.

Em junho de 2020, Pontes perdeu poderes quando o presidente desmembrou o Ministério da Ciência e Tecnologia e recriou a pasta das Comunicações, que foi entregue ao centrão. O deputado Fábio Faria (PSD-RN) foi escolhido ministro.

O astronauta foi filiado ao DEM, PSB, PSL e irá se candidatar pelo PL, legenda comandada por Valdemar Costa Neto e é a mesma de Bolsonaro.

Em 2014, pelo PSB, ele foi derrotado na disputa por uma vaga de deputado federal por São Paulo. Nas eleições de 2018, foi eleito segundo suplente de senador na chapa encabeçada por Major Olímpio, que morreu em 2021.

O astronauta recebeu, em julho de 2021, a deputada ultradireitista alemã Beatrix von Storch, vice-líder do partido populista AfD (Alternativa para Alemanha) e neta de Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças na Alemanha nazista.

Pontes nasceu em Bauru (SP). É tenente-coronel-aviador, piloto da Força Aérea Brasileira e engenheiro aeronáutico formado pelo ITA, com mestrado em engenharia de sistemas pela Naval Postgraduate School, em Monterrey, Califórnia.

Foi incorporado à classe de astronautas da Nasa em 1998. Em 29 de março de 2006, decolou de uma base no Cazaquistão rumo à Estação Espacial Internacional, com Pavel Vinogradov, da Rússia, e Jeffrey Williams, dos Estados Unidos. Passou dez dias no espaço a um custo de US$ 10 milhões ao governo brasileiro.