LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) - Filha mais velha de D. Pedro 1º, nascida no Rio de Janeiro em 1819 (três anos antes da independência), a princesa Maria da Glória acabou virando formalmente rainha de Portugal com apenas 7 anos, após a morte do avô, D. João 6º, e da abdicação do pai, então imperador do Brasil, em seu favor.

A vida e a trajetória da monarca, que enfrentou um golpe de estado organizado pelo tio, ficou viúva dois meses depois do casamento e teve a missão de ser a chefe de Estado de um país recém-saído de uma guerra civil, é agora contada em uma grande exposição em Portugal.

Recém-inaugurada em Lisboa, a mostra “D. Maria 2ª: de princesa brasileira a rainha de Portugal. 1819-1853” traz centenas de peças e documentos, oriundos de diferentes coleções, tanto públicas quanto particulares.

Dois dos destaques da exposição, a coroa e o cetro de Maria 2ª não eram expostos ao público há 20 anos.

“Ela foi rainha em um tempo em que o Estado português, as instituições e a sociedade portuguesa mudaram tão aceleradamente como, se calhar, só voltariam a mudar 150 anos depois, nos anos 50, 60 e 70 do século 20”, disse o historiador José Miguel Sardica, comissário da exposição, em uma visita especial para a imprensa.

Em cartaz até 29 de setembro, a mostra traz ainda uma grande coleção de pinturas da rainha, desde a infância até (literalmente) a hora da morte.

Estão lá ainda muitos objetos pessoais e documentos da família real.

Um dos pontos altos da exposição é a reprodução do quarto da rainha, meticulosamente reconstruído a partir de um inventário.

Os aposentos de D. Maria 2ª permitem saber um pouco mais sobre seus gostos pessoais, como uma certa queda por enfeites de louça.

A peça central do quarto é uma imponente cama de madeira, trazida do Brasil, e que pertencera à mãe da rainha, a imperatriz Maria Leopoldina.

A exposição é organizada em conjunto pelo Museu da Presidência da República e do Palácio Nacional da Ajuda.

HISTÓRIA CONTURBADA

Em 1826, na altura da morte de D. João 6º, havia uma intensa discussão sobre quem seria o herdeiro legítimo do trono português. Enquanto o filho mais velho, D. Pedro, tornara-se governante de um país recém-independente, o filho mais novo, D. Miguel, estava exilado na Áustria após um malsucedido golpe de estado orquestrado contra o próprio pai.

Em uma arriscada manobra política, o imperador brasileiro abdicou em favor da filha, Maria da Glória, com um arranjo especial. A jovem deveria se casar com o tio, D. Miguel, que seria o regente do país até que ela atingisse a maioridade.

D. Miguel regressou a Lisboa em 1828 e não demorou muito a quebrar o juramento, proclamando-se rei absoluto de Portugal.

Começava então um período de guerra civil em Portugal. Em 1831, com o agravamento da situação política também no Brasil, D. Pedro abdica da posição de imperador do Brasil e parte para a Europa, sob o título de Duque de Bragança, para tentar derrubar o irmão e restituir a coroa da filha.

A disputa entre absolutistas e liberais só acabaria em 1834, pouco antes da morte de D. Pedro 1º.

Para evitar uma nova regência, Maria 2ª foi declarada maior de idade aos 15 anos e finalmente assumiu o trono.

Em 26 de janeiro de 1835, D. Maria 2ª casou-se com Augusto de Beauharnais, príncipe de Eichstatt, que viria a morrer dois meses depois, em 1835.

Menos de um ano depois, a rainha casou-se novamente, com a aquele que seria seu companheiro até o fim da vida, Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha.

Segunda (e última) rainha reinante de Portugal (as demais eram consortes), Maria 2ª teve um papel importante na construção do Portugal moderno.

O período de Maria 2ª como monarca foi de grande instabilidade política e de sucessivas trocas de governo, em um país que sofria com uma grave crise econômica.

Ainda assim, como chefe de Estado, ela teve papel importante na promulgação da constituição no país.

Um dos principais legados foi o incentivo à educação.

Maria 2ª morreu em 15 de novembro de 1853, no parto do 11º filho.

SERVIÇO

D. Maria 2ª: de princesa brasileira a rainha de Portugal. 1819-1853

Quando: até 29 de setembro de 2021

Onde: Palácio Nacional da Ajuda

Largo da Ajuda, 1349-021 Lisboa

Preço: 5 euros