SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A estratégia de asfixiar economicamente a Rússia pela invasão da Ucrânia tem mirado não só os recursos e empresas do país, mas a própria elite financeira que orbita o presidente Vladimir Putin.

Na intenção de aumentar ainda mais o custo da guerra para Moscou, países do Ocidente passaram a aplicar sanções contra os oligarcas russos —termo usado para se referir a pessoas extremamente ricas e que passaram a acumular prestígio após o fim da União Soviética.

Acusados de atuar em prol dos interesses de Putin, dezenas de bilionários estão vendo seus privilégios serem neutralizados de diversas formas, a começar pelo acesso às fortunas.

Estados Unidos, União Europeia e Reino Unidos proibiram membros da elite russa de acessar ativos ou realizar transações financeiras. Na prática, a decisão congela dinheiro e bens pessoais, impedindo, entre outras coisas, que títulos de dívida e imóveis sejam vendidos.

Entre os afetados estão pessoas como Mikhail Fridman, que controla o principal banco privado da Rússia; Igor Sechin, presidente da Rosneft, maior produtora de petróleo do país; e Alexei Mordashov, o homem mais rico da Rússia.

Até mesmo a Suíça decidiu abrir mão do que chama de neutralidade histórica e, nesta semana, optou congelar bilhões de dólares de oligarcas russos.

Embora a quantidade e intensidade das sanções tenham aumentado em meio à escalada bélica na Ucrânia, membros da elite financeira da Rússia estão, de certa forma, acostumados a viver sob embargos ocidentais.

Decisões semelhantes ocorreram durante a anexação da Crimeia em 2014, mas, há pelo menos uma década, eles vêm escondendo seus bens sob um labirinto complexo para evitar identificações.

Contudo, o Ocidente indica estar mais disposto a contornar os disfarces. Na última terça-feira (1º), o presidente Joe Biden afirmou que vai agir em conjunto com países europeus para atingir os oligarcas russos, apreendendo seus iates, apartamentos de luxo e jatos particulares.

No dia seguinte, o Departamento de Justiça norte-americano anunciou a criação de uma força-tarefa para perseguir bilionários que ajudaram Putin na invasão da Ucrânia. Até aqueles que não estão diretamente envolvidos com o conflito, mas ajudaram ou são ajudados por Putin a esconder riquezas, podem estar no radar.

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VEJA COMO OS OLIGARCAS RUSSOS ENTRARAM NA MIRA DE PAÍSES DO OCIDENTE

DINHEIRO CONGELADO

Na segunda-feira (28), a União Europeia adicionou membros da elite próximos ao Kremlin à sua lista de sanções.

"Trabalharemos para proibir os oligarcas russos de usar seus ativos financeiros em nossos mercados. Putin embarcou em um caminho com o objetivo de destruir a Ucrânia. Mas o que ele também está fazendo, na verdade, é destruir o futuro de seu próprio país", afirmou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia.

Além de bilionários associados a Putin como Igor Sechin e Nikolai Tokarev, três nomes da lista da Forbes dos dez mais ricos da Rússia foram sancionados. São eles: Alexei Mordashov, magnata dos metais; Alisher Usmanov, considerado um dos oligarcas favoritos de Putin; e Gennady Timchenko, empresário e amigo pessoal do presidente.

Estados Unidos e Reino Unidos tomaram decisões semelhantes. No entanto, veio da Suíça um dos anúncios mais surpreendentes.

O país, que tradicionalmente opta pela neutralidade e não escolhe lado em questões internacionais, decidiu congelar ativos de pessoas e empresas que foram listadas por outros governos ocidentais

A decisão foi tomada na última segunda, após pressão de manifestantes e autoridades nacionais para que o país direcionasse embargos à Rússia.

IATES CONFISCADOS

Com medo das sanções, alguns bilionários russos decidiram mover seus iates para as Maldivas, nação insular que não tem tratado de extradição com os Estados Unidos.

Segundo dados de rastreamento de embarcações, pelo menos cinco iates russos estavam ancorados ou navegando nesta quarta-feira (2) na região.

Um deles era o iate Clio, de propriedade de Oleg Deripaska, fundador da gigante do alumínio Rusal, que foi sancionada pelos Estados Unidos.

No entanto, nem todos conseguiram proteger seus barcos. Segundo a Forbes, o superiate de Alisher Usmanov, avaliado em US$ 594 milhões (R$ 2,99 bilhões), foi apreendido por autoridades alemãs em Hamburgo.

Outro que também teve seu barco apreendido foi Igor Sechin. Nesta quinta-feira (3), o ministro da economia francês, Bruno Le Maire, disse que o país confiscou o iate avaliado em US$ 600 milhões do oligarca. Chamado "Amore Vero" (amor verdadeiro, em italiano), a embarcação estava no porto mediterraneo de La Ciotat.

ATINHOS REPOSICIONADOS

Assim como fizeram com os iates, bilionários começaram a reposicionar seus helicópteros e jatinhos para países neutros, como forma de evitar apreensões.

Ainda não há informações sobre aviões confiscados, mas o que se sabe é que eles estão sendo monitorados, inclusive pelo estudante Jack Sweeney, de 19 anos, que ficou famoso por rastrear cada voo de Elon Musk e publicar no Twitter.

Agora, Sweeney voltou seus esforços para os oligarcas e criou uma conta na rede social para postar quando e onde jatinhos russos decolam e pousam.

TIME DE FUTEBOL VENDIDO

Após sanções do Reino Unido, o empresário russo Roman Abramovich, dono do time de futebol Chelsea, passou o comando do clube para os responsáveis pela fundação de caridade do Chelsea.

Depois de alguns dias, Abramovich anunciou que vai colocar o time inglês à venda e que pretende doar todo o lucro líquido obtido para uma fundação que será criada para as vítimas da guerra na Ucrânia.

Desde o início da guerra, o empresário vem sendo pressionado por sua ligação com Putin. De acordo com o jornal "The Sun", o bilionário estaria proibido de residir na Inglaterra justamente por sua ligação com o governo de Putin.

VEJA OS OLIGARCAS RUSSOS QUE SOFRERAM SANÇÕES

Vladimir Putin

O próprio presidente da Rússia recebeu embargos do Ocidente. Na última sexta-feira (25), países congelaram ativos pertencentes a Putin como punição pela invasão da Ucrânia —embora o tamanho de sua fortuna seja desconhecida.

Bens milionários são constantemente atribuídos ao presidente russo. Um deles é o chamado "Palácio de Putin", propriedade à beira do mar Negro de valor estimado em mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,16 bilhões).

Aleksandr Bortnikov

Chefe do serviço de segurança (FSB) da Rússia está na lista de proibição de viagens à União Europeia e aos EUA, além de ter tido seus ativos congelados nos países.

Alexander Ponomarenko

Presidente do aeroporto internacional de Moscou, é ligado ao círculo íntimo de Putin e à liderança da Crimeia. Segundo a UE, Ponomarenko financiou um complexo de palácios que acredita-se seja usado pessoalmente por Putin.

Alexei Mordashov

Homem mais rico da Rússia, Mordashov é empresário e acionista do Bank Rossiya. Além disso, o bilionário é presidente da siderúrgica Severstal e do Severgroup, que controla estações de televisão que apoiam ativamente as políticas de desestabilização da Ucrânia por Moscou, segundo a UE.

Alisher Usmanov

Considerado um dos oligarcas favoritos de Putin, Usmanov foi o homem mais rico do país por um tempo. Magnata dos metais e tecnologia, ele nasceu no Uzbequistão e controla a segunda maior operadora de telefonia russa, a MegaFon. Também já esteve entre os maiores investidores no Facebook.

Boris Rotenberg

Magnata da construção, Rotenberg frequentou o mesmo clube de judô que Putin na infância e foi descrito pelo governo do Reino Unido como um empresário proeminente e com laços estreitos com o presidente.

Segundo a Forbes, Rotenberg tem uma fortuna de US$ 1,2 bilhão (R$ 6 bilhões), e está sob sanções do Reino Unido, assim como seu irmão Arkady Rotenberg e seu sobrinho Igor Rotenberg.

Denis Bortnikov

Vice-presidente do segundo maior credor da Rússia, VTB, e filho do chefe do serviço de segurança, está na lista de bloqueio do Reino Unido, da UE e dos EUA.

Gennady Timchenko

Amigo de Putin de longa data, é fundador e acionista do grupo de investimentos Volga Group, que consta na lista da União Europeia. Além disso, Timchenko é acionista do Bank Rossiya, que está sob sanções da UE e do Reino Unido.

Igor e Dmitry Bukhman

Outra família na lista de sanções são os irmãos Bukhman. De acordo com a Forbes, eles são donos da desenvolvedora de videogames Playrix, com receita anual em cerca de US$ 2,7 bilhões (R$ 13,9 bilhões).

Igor Sechin

Presidente da Rosneft, maior produtora de petróleo da Rússia, Sechin é descrito como um dos conselheiros mais próximos e de maior confiança de Putin, e um de seus melhores amigos.

O bilionário trabalhou com o atual presidente quando ele ainda era prefeito de São Petersburgo na década de 1990. Sechin está sujeito a restrições de viagem e a um congelamento de ativos nos EUA também, medidas que se estendem ao seu filho.

Kirill Shamalov

Ex-genro de Putin e acionista numa empresa petroquímica russa, Shamalov é considerado o bilionário mais jovem da Rússia. Atualmente, está proibido de viajar para o Reino Unido e acessar seus bens.

Mikhail Fridman

Um dos fundadores do Alfa Group, que controla o Alfa-Bank —maior banco privado do país— Fridman é descrito num comunicado europeu como um importante financista russo e um integrante do círculo de amigos próximos do presidente Putin.

Segundo a UE, o empresário apoiou de maneira ativa, financeira ou materialmente, as autoridades russas responsáveis pela anexação da Crimeia e pela desestabilização da Ucrânia.

Nikolai Tokarev

Presidente-executivo da Transneft, empresa petroleira e operadora de oleodutos na Rússia, trabalhou com Putin na KGB.

Segundo a UE, Tokarev é um dos oligarcas que assumiram o controle de grandes ativos estatais na década de 2000 quando Putin consolidou seu poder.

Oleg Deripaska

Fundador da gigante do setor de alumínio Rusal, Oleg Deripaska tem sua fortuna avaliada em US$ 3,9 bilhões (R$ 20,1 bilhões). Segundo a Forbes, ele também está por trás da Basic Element, um grupo industrial russo com interesses em alumínio, energia, construção, agricultura, entre outros setores.

Oleg Tinkov

Empresário fundador do Tinkoff, um dos maiores bancos online do mundo, Tinkov tem sua fortuna estimada em US$ 822 milhões. De acordo com a Forbes, a invasão da Ucrânia e as sanções subsequentes provocaram uma queda de 90% no preço de suas ações, reduzindo sua fortuna em bilhões.

Petr Aven

Sócio de Fridman, Aven começou no Banco Alfa após ser ministro do Comércio Exterior da Rússia. Atualmente, é presidente do conselho do grupo e descrito como um dos oligarcas mais próximos a Putin.

Petr Fradkov

Chefe do banco Promsvyazbank e filho do ex-chefe da inteligência estrangeira russa, está na lista de congelamento de ativos e proibição de viagens do Reino Unido.

Roman Abramovich

Proprietário do Chelsea Football Club, tem patrimônio estimado em US$ 14,3 bilhões (R$ 73 bilhões).

Além da ligação com Putin, ele é acusado de ter aproveitado para comprar companhias estatais quando a União Soviética foi desmantelada, a preços abaixo do mercado.

Sergei Roldugin

Apelidado de "carteira de Putin", Roldugin mantém seus ativos no Bank Rossiya e está sob embargo de países do Ocidente.

Sergei Ivanov

Alto funcionário e político russo que serviu anteriormente na KGB, está na lista dos EUA assim como seu filho, Sergei, que é executivo-chefe da empresa estatal russa de mineração de diamantes Alrosa e membro do conselho do Gazprombank.

Sergei Lavrov

Ministro russo das Relações Exteriores, também está sujeito ao congelamento de ativos na UE, Reino Unido e EUA, por ser responsável e apoiar ativamente ações que minam a integridade territorial, a independência e estabilidade da Ucrânia, segundo a UE. Ele ainda tem permissão para viajar.

Sergei Shoigu

Ministro da Defesa russo está proibido de viajar à UE e aos EUA. Seu nome também está na lista de congelamento de ativos.

Valery Gerasimov

Chefe das forças armadas russas está na lista de proibição de viagens e congelamento de bens no Reino Unido e nos EUA. Ele já estava na lista de bloqueio da UE em 2014.

Violetta e Lyubov Prigozhina

Mãe e a mulher de Yevgeny Prigozhin, que a UE diz ser responsável por enviar mercenários do Grupo Wagner para a Ucrânia, estão banidas da UE e terão seus bens congelados.

Yury Slyusar

Diretor da United Aircraft Corp, e Elena Georgieva, presidente do conselho do Novikombank, um conglomerado de defesa estatal, foram banidos do Reino Unido.