Danos à natureza põem em risco 44% do PIB das cidades, diz relatório
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segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
THIAGO BETHÔNICO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quase metade (44%) do PIB global proveniente das cidades está sob risco devido a perdas de natureza e biodiversidade. Considerando todas as possíveis interrupções nas atividades econômicas, cerca de US$ 31 trilhões (R$ 170 trilhões) estão atualmente ameaçados pelo problema.
Os dados constam de um relatório publicado neste domingo (16) pelo Fórum Econômico Mundial, que mostra como as falhas na ação climática podem prejudicar a economia dos municípios ao redor do mundo.
Feito pela BiodiverCities by 2030 iniciativa do Fórum que visa apoiar governos, empresas e cidadãos rumo a uma relação mais sustentável das cidades com a natureza o estudo explica que a biodiversidade contribui positivamente para as atividades econômicas ao influir na qualidade do ar, nos ciclos da água e na regulação de enchentes, além de sustentar a produção de energia, alimentos e medicamentos.
"Essas contribuições são essenciais para apoiar as economias e sociedades. Como consequência da perda de biodiversidade, as atividades econômicas críticas que dependem da natureza correm o risco de interrupção", diz o documento.
De acordo com o relatório, a rápida expansão urbana veio não só às custas do clima e da natureza, mas da própria economia.
Danos financeiros relacionados ao risco de inundação pelo mar, por exemplo, devem dobrar até 2030 e considerando eventos de água doce podem quadruplicar até 2050. Isso equivale a um aumento de US$ 35 bilhões por ano (R$ 192 bilhões) para US$ 140 bilhões por ano (R$ 770 bilhões), segundo estudos mencionados pelo Fórum Econômico.
Outro risco citado pelo relatório é o calor urbano, que costuma estar relacionado à falta de áreas verdes ou superfícies inteligentes. Consequências desse aumento de temperatura são o maior uso de energia e a queda na produtividade do trabalho.
"A temperatura de Tóquio, por exemplo, aumentou 3°C nos últimos 100 anos devido ao efeito de ilha de calor da cidade. Como efeito colateral do aumento do aquecimento, o uso de ar-condicionado agora representa 10% do uso global de eletricidade e deve triplicar até 2050", diz o texto.
A qualidade do ar é outra questão relacionada à supressão da natureza e que ameaça as economias das cidades. Segundo o relatório, a exposição à poluição custou US$ 5,1 trilhões (R$ 28 trilhões) em perdas para a economia mundial no ano de 2013.
A iniciativa do Fórum Econômico reforça o papel crucial dos municípios na reversão da perda de biodiversidade e das mudanças climáticas.
As cidades respondem por 80% do PIB global e abrigarão 75% da população mundial até 2050. No entanto, as áreas urbanas também são responsáveis por mais de 75% das emissões globais de carbono.
Reconsiderar os modelos de produção não só ajuda a enfrentar a emergência climática como pode fornecer novas oportunidades econômicas.
Segundo o estudo, as chamadas soluções baseadas na natureza (NbS, na sigla em inglês) são, em média, 50% mais econômicas do que as alternativas "cinzas" e oferecem 28% mais valor agregado.
Gastar US$ 583 bilhões (R$ 3,2 trilhões) em NbS para infraestrutura e em intervenções que liberam terras para a natureza, por exemplo, tem potencial de criar mais de 59 milhões de empregos até 2030.
"A natureza pode ser a espinha dorsal do desenvolvimento urbano. Ao reconhecer as cidades como sistemas vivos, podemos apoiar as condições para a saúde das pessoas, do planeta e da economia nas áreas urbanas", afirmou no documento Akanksha Khatri, chefe de natureza e biodiversidade do Fórum Econômico Mundial.