SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A humorista Dani Calabresa, 39, desabafou sobre as denúncias que fez de assédio contra o ator e ex-diretor da Globo Marcius Melhem, 48, durante participação no programa Saia Justa, da GNT, na noite desta quarta-feira (3). Ela disse que precisou se apegar ao trabalho e aos amigos para seguir em frente após o divórcio do humorista Marcelo Adnet e o "episódio horrível de assédio".

"O que me ajudou a colar os pedaços foi o trabalho. De verdade, o trabalho me salvou. Sabe essa sensação que eu tenho porque acordar. Eu tenho que tomar banho. Eu tenho que ficar bem, eu tenho que estudar, eu tenho que lembrar quem sou, recuperar minha energia. Fazer o que eu gosto, me faz bem. Então o trabalho me salvou", afirmou.

Dani disse que, hoje analisando o que aconteceu, entende que não reagiu antes porque tinha tanto medo de sofrer, ser prejudicada e sofrer boicote. Ela falou que o assédio é um assunto tão assustador que a pessoa nega para ela mesma e tenta fingir que aquilo que está acontecendo é normal.

"É tão assustador e você segue como consegue, fica fingindo normalidade, tentando ser legal para mostrar que está tudo bem, não está brava. Segue demonstrando uma gratidão excessiva para não sofrer boicote, só que chega uma hora que isso começa a fazer tão mal que você tem que arrebentar a tampa desse caldeirão e se salvar", afirma.

A humorista completou dizendo que nenhuma brincadeira ou mensagem autoriza assédio, mesmo quando dizem que foi carinhosa, que naquele dia riu, bebeu. "Não interessa, ninguém tem direito de forçar contato físico com ninguém, é preciso permissão", enfatiza.

DENÚNCIAS DE ASSÉDIO

O ator e ex-diretor da Globo protocolou na Justiça de São Paulo uma ação de indenização por danos morais e materiais contra Daniella Maria Giusti, mais conhecida por Dani Calabresa, em janeiro deste ano. Na ação, Melhem ainda pede que a atriz faça uma retratação pública por "fatos inverídicos por ela divulgados ou corroborados por meio da mídia".

Os advogados do ator, do escritório Panella Advogados, pedem uma indenização no valor de R$ 200 mil por danos morais e afirmam que a quantia será revertida para a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente). Sobre a retratação, eles pedem que seja feita pela atriz em todas as suas redes sociais, "bem como perante a revista Piauí".

Na ação, os advogados também solicitam que Dani Calabresa pague os "custos de tratamento psiquiátrico/psicoterápico, até a respectiva alta médica" de Melhem, "ressarcindo-o de todos os custos por ele incorridos ao longo deste processo, acrescidos de correção monetária e juros de mora". Com isso, a quantia solicitada passa a ser de R$ 246,4 mil, mais os custos do processo. Procurada, a defesa de Dani Calabresa disse que não vai se pronunciar.

"O autor [Marcius Melhem], que não teve contra si processo que comprovasse o assédio, segue por seu turno, como 'persona non grata', como sói acontecer com os condenados por sentença transitada em julgado por tais delitos/crimes. Alijado da vida profissional, tem o seu nome, imagem e honra vilipendiados em todas as mídias com espectro nacional. Vê esgarçarem-se as relações familiares e sociais. Padece de sofrimento psíquico, restando submetido a custoso tratamento psiquiátrico", diz trecho da ação.

Em dezembro de 2019, vieram à tona notícias de que Melhem teria assediado moralmente atrizes do núcleo de humor da TV Globo. Em outubro de 2020, falando pela primeira vez sobre esses episódios, a advogada Mayra Cotta, representante das mulheres que se dizem assediadas por Melhem, comentou os supostos atos de abuso sexual do ator em entrevista à colunista Mônica Bergamo.

O documento elaborado pela equipe de defesa de Marcius Melhem tem 60 páginas, no qual destacam os prints de mensagens trocadas entre eles, imagens de redes sociais de Calabresa e áudios para comprovar que a atriz continuava a ter uma relação amigável com ele até final de 2019. Ao comparar as mensagens e redes sociais da atriz, eles afirmam que "elas desmentem as acusações de assédio".

À Folha, em dezembro de 2020, Marcius Melhem já havia mostrado essas mensagens trocadas com Calabresa para provar, na Justiça, que os dois mantinham uma relação íntima e amigável entre os anos de 2017 e 2019, época em que, segundo uma reportagem recente publicada na revista piauí, ele a teria assediado moral e sexualmente.

Na mesma semana da entrevista ao jornal, as mensagens foram enviadas pela defesa de Melhem para o email de Calabresa, por uma notificação extrajudicial, dando prazo de cinco dias para que a atriz confirmasse ou negasse o teor da reportagem segundo a qual ela teria ficado traumatizada pelo assédio do humorista.