BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em um cenário de alta nos juros e maior incerteza em relação à situação das contas públicas, o custo médio das emissões de títulos da dívida pública pelo Tesouro Nacional atingiu 8,9% em janeiro, o maior patamar desde fevereiro de 2018.

Naquele mês, o custo médio ficou em 9,12% e vinha em uma tendência de baixa, na esteira da redução da taxa básica de juros, a Selic. Agora, a tendência vai na direção contrária.

Os dados deste mês só serão conhecidos em março, mas o Tesouro Nacional já indicou em seu relatório mensal da dívida que a pressão inflacionária e as tensões geopolíticas "seguem aumentando a aversão ao risco nos mercados globais". No Brasil, um dos efeitos é a ampliação dos juros.

A ampliação no custo médio das novas emissões aumenta a fatura com juros da dívida pública.

A Selic está atualmente em 10,75% ao ano, após ter ficado no piso de 2% entre o ano de 2020 e o início de 2021. A elevação da taxa básica acaba influenciando o custo da dívida pública, assim como a aceleração da inflação --parte dos papéis tem remuneração atrelada a índices de preços.

As incertezas em relação à situação fiscal vêm desde a apresentação da PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios, que permitiu ao governo adiar parte do pagamento de dívidas judiciais contra as quais já não cabe recurso --o que foi visto por críticos da medida como um calote da União.

No Congresso, a PEC teve seu alcance ampliado e acabou alterando o teto de gastos, regra que funciona como âncora fiscal do governo, para acomodar mais despesas no ano em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) buscará a reeleição.

Mais recentemente, o governo tem discutido propostas para desonerar tributos federais sobre o diesel e o gás de cozinha, medida que pode resultar em uma renúncia de R$ 19,5 bilhões, segundo cálculos da equipe econômica.

Especificamente em janeiro, também contribuiu para o movimento de alta nos custos de emissão a perspectiva de uma retirada mais rápida de estímulos monetários em outros países, como os Estados Unidos, além do acirramento das tensões entre Ucrânia e Rússia.

"Isso criou uma percepção de risco. De forma geral, os emergentes tiveram uma piora de percepção de risco", disse o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Luis Felipe Vital.

Por outro lado, o Tesouro tem conseguido efetuar um volume maior de emissões com vencimentos mais longos. A fatia da dívida que vence em cinco anos ou mais é de 24%, o maior patamar desde agosto de 2019.

Em janeiro, o estoque da dívida pública federal ficou em R$ 5,6 trilhões, um aumento discreto (0,05%) em relação ao valor observado em dezembro de 2021.

Embora a incorporação dos juros a serem pagos aos investidores seja um fator de alta no estoque, janeiro costuma ser um mês marcado por maior volume de resgates --quando os detentores dos títulos recebem de volta o valor aplicado. Daí a pequena variação no volume total da dívida.

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