<p>SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Alemanha registrou em 2020 um recorde nos crimes cometidos por apoiadores da extrema direita, alcançando o nível mais alto desde 2001, quando as autoridades começaram a coletar e classificar dados sobre crimes com motivação política.

</p><p>De acordo com os números divulgados nesta terça-feira (4) pelo ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, os 23.064 crimes da extrema direita no ano passado representam um crescimento de 5,7% em relação ao que foi registrado em 2019.

</p><p>Além disso, a extrema direita foi responsável por 52,8% do total de crimes de natureza política ou ideológica, que vão desde incitação ao ódio racial até saudações nazistas.

</p><p>"Isso mostra o que venho dizendo desde o início da minha gestão, que o extremismo de direita é a maior ameaça à segurança em nosso país, já que a maioria dos crimes racistas são cometidos por pessoas desse espectro", disse Seehofer.

</p><p>Segundo o ministro, apesar de os crimes com motivação política representarem apenas cerca de 1% do total de crimes cometidos na Alemanha, os números divulgados nesta terça são "muito preocupantes" porque representam a consolidação de "uma tendência clara para a brutalidade" no país.

</p><p>Dentro dessa categoria, foram registrados ainda 3.365 crimes violentos, incluindo 11 assassinatos e 13 tentativas de homicídio. O número representa um aumento de 18,8% em relação ao ano anterior.

</p><p>Entram nessas estatísticas, segundo o ministro, os nove mortos durante um ataque a tiros em fevereiro de 2020 contra dois bares frequentados por imigrantes em Hanau. O autor dos disparos, que cometeu suicídio após o crime, era atirador esportivo e havia comprado armas de forma legal. Ele mantinha um site no qual publicou uma espécie de manifesto que misturava ideias racistas e teorias da conspiração.

</p><p>Entre os incidentes classificados como "crimes de expressão", que incluem discursos de ódio e propaganda neonazista, por exemplo, 65% foram perpetrados por extremistas de direita, segundo o levantamento. O país também registrou aumento de 15,7% no número de ocorrências envolvendo discurso de ódio contra os judeus.

</p><p>"O ódio antissemita é um componente central da ideologia extremista de direita. Este desenvolvimento na Alemanha não é apenas preocupante, mas, no contexto de nossa história, profundamente vergonhoso", disse Seehofer.

</p><p>A Alemanha intensificou os esforços para combater esses grupos, especialmente depois que, em outubro de 2019, um homem armado matou duas pessoas em frente a uma sinagoga na cidade de Halle, no leste do país. O crime, transmitido ao vivo na internet, ocorreu no dia do Yom Kippur, a data mais sagrada para o judaísmo.

</p><p>Nesta terça, promotores alemães anunciaram a prisão de um homem de 53 anos acusado de enviar cartas com ameaças e discursos de ódio durante três anos a políticos de esquerda, bem como a um advogado de ascendência turca que representava vítimas de crimes cometidos pela extrema direita.

</p><p>Segundo a polícia, o homem assinava suas cartas com a sigla "NSU 2.0", em referência ao grupo neonazista National Socialist Underground, responsável pelo assassinato de ao menos dez pessoas entre 2000 e 2007.

</p><p>O ministro Seehofer também divulgou estatísticas sobre os cerca de 3.500 crimes -dos quais 500 foram considerados violentos- associados ao movimento Querdenker (algo como "pensadores laterais").

</p><p>O grupo, composto em sua maioria por extremistas de direita e coletivos antivacina, é conhecido por organizar manifestações contra as medidas de restrição ao comércio e à mobilidade durante a pandemia de coronavírus. Nesse contexto, segundo os dados, houve ao menos 1.260 crimes contra jornalistas.

</p><p>A oposição ao Querdenker na forma de manifestações simultâneas e antagônicas, de acordo com o ministro, é um dos principais fatores que levaram também a um aumento de 45% no uso da violência em crimes cometidos pela extrema esquerda. No total, o número de crimes cometidos por esse grupo subiu 11%.

</p><p>A segurança pública se tornou uma questão política fundamental no debate político antes das eleições nacionais previstas para setembro, que definirão quem sucederá a primeira-ministra Angela Merkel.

</p><p>Em março, o Escritório Federal de Proteção à Constituição (BfV, na sigla em alemão) colocou o partido de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD), principal agremiação de oposição, sob vigilância. A decisão foi tomada depois de dois anos de investigação sobre a atividade xenófoba do partido. Advogados e especialistas em extremismo analisaram discursos de políticos da AfD e publicações na internet e concluíram que eles são suspeitos de extremismo e podem significar risco à democracia alemã.

</p><p>Serviços de inteligência alemães temem que ativistas da extrema direita estejam tentando explorar a frustração pública com as restrições impostas para impedir a disseminação do coronavírus como forma de incitar a violência contra as instituições do Estado.

</p><p>Organizações da sociedade civil têm feito alertas sobre os perigos representados pela onda de ressurgimento da extrema direita em um país assombrado por seu passado nazista. A avaliação é de que a ameaça foi subestimada pelas autoridades alemãs, que concentraram esforços no combate ao extremismo islâmico e aos jihadistas.</p>