<p>BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em meio ao agravamento da pandemia de Covid-19, os bancos concederam 10,1% a mais em empréstimos às empresas em março na comparação com o mês anterior, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (29) pelo BC (Banco Central). Para as famílias, entretanto, houve queda de 4% no período.

</p><p>Os novos empréstimos somaram R$ 407,1 bilhões em março.

</p><p>A linha de capital de giro de curto prazo, muito demandada no início da pandemia porque as empresas precisavam fazer caixa para enfrentar o lockdown, cresceu 99% em março.

</p><p>Segundo o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, parte disso é fruto de rolagem, quando o cliente renova seus créditos.

</p><p>"Como a situação econômica é diferente de março do ano passado, quando havia mais incerteza e as empresas precisavam de mais recursos disponíveis, elas rolaram apenas parte desse crédito, tanto é que mesmo com o aumento no mês, o montante é bem inferior ao observado no mesmo mês do ano passado" afirmou.

</p><p>"Mas não dá para dizer quanto disso foi de demanda nova em decorrência da segunda onda da pandemia ou de rolagem maior pelo mesmo motivo", continuou.

</p><p>As empresas buscaram crédito em modalidades ligadas ao consumo, como desconto de duplicatas, com alta de 58,7%, e antecipação de recebíveis, 23,3%. As linhas precisam de vendas para gerar garantia.

</p><p>A concessão desse tipo de crédito normalmente aumenta em meses que fecham o trimestre. "É um movimento sazonal, natural do fluxo das empresas. No próximo mês deve haver redução", disse Rocha.

</p><p>Financiamentos para comércio exterior também subiram em março. Crédito para importação subiu 28,4% e para exportação, 57,3%. Para repasse externo houve aumento de 281,3% e ACC (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio), de 128,2%.

</p><p>"Essas modalidades sofrem impacto da variação cambial. Em março do ano passado as empresas aproveitaram a desvalorização para adiantar os créditos e provavelmente elas avaliaram que agora também seria um momento propício, o que não deve se repetir nos próximos meses", ressaltou.

</p><p>As companhias também recorreram ao cartão de crédito rotativo, quando o cliente não paga o valor total da fatura, que subiu 54,7% no mês.

</p><p>Entre as famílias, houve alta em empréstimos pessoais de 21,1%. Elas também procuraram modalidades mais caras, como cartão de crédito rotativo, que registraram elevação de 11%, e cheque especial, de 14,8%.

</p><p>Apenas as variações totais dos novos empréstimos foram calculadas de acordo com a sazonalidade, que retira peculiaridades do período, como número de dias úteis a mais ou a menos, para facilitar a comparação. As modalidades são divulgadas pelo BC sem o ajuste.

</p><p>Fevereiro, por exemplo, é um mês mais curto que março e isso impacta na quantidade de crédito concedida no período.

</p><p>Rocha destacou que em março o efeito da pandemia é observado também na base de comparação, em março de 2020. "Dessa forma, teremos redução porque naquele mês houve muita demanda por crédito", disse.

</p><p>O técnico do BC ponderou que, como o período é atípico, a dessazonalização está mais volátil. "Mesmo os dados dessazonalizados apresentam grande variação", afirmou.

</p><p>"Quando dessazonalizamos as modalidades, em pessoas físicas vemos queda em financiamento de veículos e de cartão de crédito à vista, por exemplo", explicou Rocha.

</p><p>No acumulado dos 12 meses, as concessões de crédito cresceram 0,9%.

</p><p>O saldo de crédito, que contabiliza toda a carteira do sistema financeiro, alcançou R$ 4,1 trilhões em março, com crescimento de 1,5% no mês. Em 12 meses, houve elevação de 14,5%.

</p><p>Em março, a taxa média de juros dos empréstimos subiu 0,2 ponto percentual e alcançou 20% ao ano. Em 12 meses, houve queda de 2,7 pontos.

</p><p>Já o spread, diferença entre a taxa de captação dos bancos e o que eles cobram em empréstimos, ficou em 15,1 pontos percentuais, redução de 0,5 ponto no mês e 2,9 pontos em 12 meses.

</p><p>A inadimplência recuou 0,1 ponto percentual em relação a fevereiro, para 2,2%. Nas operações com recursos livres, a inadimplência permaneceu estável em 2,9%. Já nos empréstimos direcionados, o indicador caiu 0,2 ponto, para 1,1% no mês.

</p><p>Os recursos para os empréstimos podem ser livres ou direcionados. Nos livres, o dinheiro emprestado é próprio e o banco decide a taxa a ser cobrada.

</p><p>Nos direcionados, o governo determina a destinação dos recursos para certo segmento ou modalidade e as taxas são monitoradas.</p>