BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (22) que reduzir tributo pode auxiliar na queda da inflação no curto prazo, mas não tem efeito de forma estrutural. Em evento de um banco, ele foi questionado sobre o anúncio feito no mesmo dia pelo ministro Paulo Guedes (Economia) de abrir mão de receita do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado).

A afirmação de Campos Neto se deu horas depois de Guedes dizer que o governo prepara um corte de 25% no IPI em "um movimento de reindustrialização do Brasil". Ambas as declarações aconteceram em evento promovido pelo BTG Pactual.

"Se você abaixa imposto ou faz alguma coisa que abre mão de receita para obter um preço de produto mais baixo naquele momento, estruturalmente você não está ajudando a inflação", afirmou Campos Neto ao responder a uma pergunta sobre o tema.

"Você pode ter uma queda no curto prazo, mas, na parte de expectativa de inflação, isso vai se incorporar e esse elemento tende a prevalecer estruturalmente no médio e longo prazo", disse o presidente do BC.

De acordo com Campos Neto, países como Colômbia e Índia também estão discutindo cortes de impostos. No entanto, ressaltou que a inflação alta deve-se em parte pelos programas de auxílio durante a pandemia, que expandiram os gastos em todo o mundo.

"Diante da persistência desse efeito inflacionário, em parte gerada pelo grande plano fiscal, é com alguma curiosidade que a gente vê que alguns países sugerem que a solução é fazer mais fiscal", afirmou.

Quando ao cenário brasileiro, o presidente do BC disse esperar que a inflação permaneça alta, mas comece a acelerar a sua queda no período entre abril e maio, olhando para o acumulado de 12 meses. Nesta terça (22), ele alegou ter sido mal interpretado sobre o pico de inflação.

"Fiz alguns pronunciamentos dizendo que a gente achava que a inflação ia começar a cair mais rapidamente entre abril e maio, houve entendimento de que o pico seria entre abril e maio. Eu disse que a inflação vai permanecer alta e vai começar a acelerar a queda entre abril e maio", reforçou.

O índice oficial de inflação no Brasil começou 2022 com alta de 0,54% em janeiro, com alta acumulada de 10,38%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No recorte dos 12 meses até janeiro, a taxa é a mais elevada desde 2016 (10,71%).

Para reagir à alta da inflação, o BC tem elevado a taxa básica de juros. No último encontro, em fevereiro, o Copom elevou a Selic de 9,25% para 10,75% ao ano.

O BC também já sinalizou que o ciclo de aperto iniciado em março do ano passado não chegou ao fim, diante de uma inflação ainda resistente e que ameaça estourar a meta pelo segundo ano seguido. A inflação perseguida pelo BC em 2022 é de 3,50%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo, podendo chegar a 5%. A alta prevista pela autoridade monetária, entretanto, já é de 5,4%.