RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Um dos oito corpos encontrados pelos bombeiros após as chuvas em Petrópolis no último domingo (20) é, na verdade, de um homem que morreu na tragédia de fevereiro, há mais de um mês. A Polícia Civil identificou entre os mortos o autônomo Antônio Carlos dos Santos, 56.

Ele saiu para ir à igreja naquela tarde em que a tempestade caiu: "Tenho que estar lá no Sagrado ao meio-dia e meio", disse durante uma visita rápida à irmã Maria das Graças dos Santos, 61. Horas depois a cidade ficou submersa, e ele nunca mais voltou.

Desde então, vinha sendo procurado pelos irmãos. Graça chegou a imprimir cartazes com a sua foto e telefones para contato, caminhando e entregando o papel pelas ruas da cidade serrana do Rio de Janeiro quase todos os dias.

"Por mim eu queria achar meu irmão vivo, né? Mas só Deus para ter misericórdia. Não tem jeito, só Jesus mesmo, para dar um conforto à gente. Achar do jeito que achou, só Jesus", disse ela à Folha por telefone nesta quarta (23), enquanto resolvia as burocracias do enterro.

"Nós éramos muito chegados", ela contou quando o desastre completou um mês. Ele costumava fazer biscates, capinava, limpava vidros, mas segundo ela tinha um tipo de transtorno mental e tomava remédios, por isso vivia indo ao médico para tentar uma aposentadoria.

O corpo estava em estágio avançado de decomposição na rua Washington Luiz, no centro da cidade, e foi identificado por exame papiloscópico (impressões digitais).

Nessa mesma rua, mas mais afastado, na altura do bairro Valparaíso, também foram encontradas cinco vítimas das chuvas deste domingo. Entre elas estão Nelson Ricardo Ferreira da Costa, 59, e a idosa Heloisa Helena Caldeira da Costa, 86.

As outras duas pessoas mortas já reconhecidas no posto da perícia da cidade são o casal Jussara Belarmino Souza e Carmelo de Souza. Ambos foram encontrados no Morro da Oficina, no bairro Chácara Flora, cenário do maior deslizamento de fevereiro.

Falta a identificação oficial de três pessoas. O número bate com os desaparecidos registrados pela Polícia Civil até agora: Miriam Gonçalves do Valle, Vanila de Jesus da Silva e Mário Augusto Queiroz Carvalho.

Após as últimas identificações, o saldo das duas chuvas em Petrópolis subiu para 241 mortos (234 em fevereiro e 7 em março) e 6 desaparecidos (3 em fevereiro e 3 em março).

Os bombeiros seguem fazendo buscas, diversas ruas continuam interditadas, e algumas linhas de ônibus ainda estão paralisadas. As escolas reabriram nesta quarta entre a região do Retiro e o distrito da Posse, e devem reabrir nesta quinta (24) no primeiro distrito.

A Defesa Civil registrou mais de 700 ocorrências desde o fim de semana, a grande maioria por deslizamentos. Somando as duas tempestades, quase 1.200 pessoas estão vivendo em abrigos montados em colégios ou instituições voluntárias atualmente.

A tragédia deste verão foi a maior da história da cidade, superando em número de vítimas as grandes chuvas de 1988 (171 mortos) e de 2011 (73 mortos e cerca de 30 desaparecidos), quando o estrago foi maior em outros municípios da região.

Os moradores que tiveram seus lares atingidos ainda improvisam, já que em sua maioria continuam sem casa, sem aluguel social e sem perspectivas. Muitos seguem morando com parentes e amigos, e outros voltaram para seus lares em áreas de risco --parte deles ainda sem laudo da Defesa Civil.

Os imóveis de baixo custo que já eram escassos na cidade agora são quase inexistentes, e em áreas consideradas seguras custam muito acima dos R$ 1.000 que as famílias devem receber do governo do estado e da prefeitura. Proprietários também temem eventuais falhas no pagamento do benefício.