BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou novamente a taxa básica de juros —a Selic— em 1 ponto percentual, a 6,25% ao ano, nesta quarta-feira (22).

No comunicado, o BC indicou que fará nova elevação na mesma magnitude na próxima reunião, no fim de outubro, para 7,25%.

"O Copom considera que, no atual estágio do ciclo de elevação de juros, esse ritmo de ajuste é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e, simultaneamente, permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia e o grau de persistência dos choques. Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance no território contracionista", afirmou o comunicado.

Na reunião anterior, em agosto, a autoridade monetária havia subido os juros também em 1 ponto (a 5,25%), maior alta em 18 anos, e indicou que repetiria a dose na decisão seguinte.

Na ocasião, o BC acelerou o ritmo do ciclo de aperto monetário, que vinha sendo de 0,75 ponto nas reuniões anteriores.

A decisão veio em linha com as expectativas do mercado. Segundo levantamento feito pela Bloomberg, a maior parte dos economistas esperava a alta de 1 ponto nesta quarta.

O objetivo do Copom é conter as expectativas para a inflação dos próximos anos.

No texto, o BC enfatizou que a inflação ao consumidor segue elevada e ressaltou que a alta de bens industriais ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo.

"Ademais, nos últimos meses os preços dos serviços cresceram a taxas mais elevadas, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada. Adicionalmente, persistem as pressões sobre componentes voláteis como alimentos, combustíveis e, especialmente, energia elétrica, que refletem fatores como câmbio, preços de commodities e condições climáticas desfavoráveis", pontuou o documento.

Para este ano, há consenso no mercado e no BC de que a inflação deve estourar a meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,75% —com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo.

De acordo com o relatório Focus do BC desta semana, em que são coletadas projeções do mercado, os economistas consultados revisaram mais uma vez para cima as expectativas para a inflação de 2021 para 8,35%, 3,1 pontos percentuais acima do teto da meta. No boletim anterior, as expectativas estavam em 8%.

Hoje, o Copom já mira o controle de preços de 2022 e 2023, no chamado horizonte relevante, para quando o comitê entende que a política monetária pode fazer efeito, com metas de 3,5% e 3,25%, respectivamente.

Para 2022, as projeções também aumentaram para 4,10%, ante 4,03% da pesquisa anterior. Já para 2023, as estimativas seguem estáveis em 3,25%.

As projeções do BC para inflação são de 8,5% para 2021, 3,7% para 2022 e 3,2% para 2023. A análise foi feita com a taxa de juros da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de US$ 5,25.

De acordo com a pesquisa, a taxa básica deve terminar o ano em 8,25% e alcançar 8,5% em 2022. Em 2023, a expectativa é que a Selic se reduza para 6,75%.

Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 13,7% para 2021, 4,2% para 2022 e 4,8% para 2023. "Adota-se a hipótese de bandeiras tarifárias 'escassez hídrica' em dezembro de 2021 e 'vermelha patamar 2' em dezembro de 2022 e dezembro de 2023", disse o comunicado.

A escalada de preços no país começou no fim do ano passado decorrente de uma série de choques, como mudança na demanda por alimentos na pandemia, problemas em safras com chuvas e geadas, elevação nos preços das commodities acompanhada de desvalorização do real, e agora a crise hídrica, que encareceu a conta de luz do brasileiro.

Em agosto, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), alcançou a maior taxa para o mês em 21 anos, com 0,87%, e chegou perto dos dois dígitos no acumulado de 12 meses, com 9,68%. A alta ficou acima das expectativas do mercado, de 0,71%.

O BC manteve a avaliação de que há fatores de risco para a inflação em ambas as direções: uma redução nos preços de commodities internacionais com a valorização do Real pode segurar os preços e a percepção de desequilíbrio fiscal pode puxá-los para cima.

"Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária", afirmou o comunicado.

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, não houve surpresa na decisão, mas o BC não detalhou os motivos de não acelerar o ritmo de elevação da Selic.

"A autoridade teve dificuldade para justificar uma manutenção no ritmo de elevação da Selic com as expectativas do Focus e do próprio BC superando o alvo da meta para o horizonte relevante", afirmou.

Ele projeta que o BC deve elevar a Selic em 1 ponto percentual nas próximas reuniões.

"Avalio que o Copom irá elevar a Selic em 1 ponto nas duas oportunidades que restam esse ano, fechando 2022 a 8,25% e por mais uma vez na reunião de fevereiro [de 2022], encerrando o ciclo em 9,25%", disse Sanchez.

Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, ressaltou que o BC esclareceu no comunicado o tamanho do ciclo de alta da Selic e o ritmo das elevações a cada reunião.

"Em relação ao tamanho do ciclo, o BC se mostrou confortável com o patamar de 8,5%, que pode ser compatível com o cumprimento de metas para 2022 e 2023. Sobre o ritmo, se mostrou confortável com a alta de 1 ponto percentual por reunião", analisou.

A expectativa de Padovani é que a Selic alcance 9%, com duas altas de 1 ponto percentual neste ano e mais uma de 0,75% em fevereiro de 2022.

Em relação à atividade econômica, o BC destacou que a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre, assim como os indicadores mais recentes, continua mostrando evolução positiva e "não enseja mudança relevante para o cenário prospectivo, o qual contempla recuperação robusta do crescimento econômico ao longo do segundo semestre".

No cenário externo, o BC destacou dois fatores adicionais de risco para o crescimento das economias emergentes.

"Primeiro, reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta da Covid-19. Segundo, o aperto das condições monetárias em diversas economias emergentes, em reação a surpresas inflacionárias recentes", pontuou o texto.

"No entanto, os estímulos monetários de longa duração e a reabertura das principais economias ainda sustentam um ambiente favorável para países emergentes", ponderou.

Entidades do setor real afirmaram que já esperavam a decisão, mas que a atividade deve sentir o impacto.

A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) afirmou que "o impacto [da alta de juros] será um pouco mais sentido desta vez no bolso do consumidor".

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) criticou a decisão e disse que a nova alta, juntamente com o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), "penaliza as pessoas e as empresas num momento de frágil recuperação dos impactos econômicos da pandemia".

​O controle da inflação é a principal atribuição da autoridade monetária. Para isso, o BC define a meta da taxa básica de juros.

Quando a inflação está alta, o Copom sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços. Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.

Em agosto do ano passado, a Selic alcançou o menor nível da história, de 2% ao ano, como resposta à crise gerada pela pandemia de Covid-19. A taxa permaneceu no patamar até março deste ano, quando o BC iniciou o ciclo de alta.

Em junho, a Selic voltou ao patamar em que estava até 18 de março de 2020 (4,25%), quando o Copom começou a cortá-la em reação aos efeitos da crise sanitária sobre a economia.