<p>BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Conforme sinalizado na reunião anterior, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou novamente a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, a 3,50% ao ano, nesta quarta-feira (5).

</p><p>No comunicado, o BC sinalizou nova alta na mesma magnitude para a próxima reunião, em junho, para 4,25%.

</p><p>"Para a próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude. O Copom ressalta que essa visão continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação", disse o texto.

</p><p>Embora tenha reconhecido que a pressão inflacionária deva se manter no curto prazo, a autoridade monetária manteve a avaliação de que a alta de preços é temporária.

</p><p>"Com exceção do petróleo, os preços internacionais das commodities continuaram em elevação, com impacto sobre as projeções de preços de alimentos e bens industriais. Além disso, a transição para patamares mais elevados de bandeira tarifária deve manter a inflação pressionada no curto prazo. O Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários, mas segue atento à sua evolução", ressaltou o comunicado.

</p><p>"As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se no topo do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação", avaliou o comitê.

</p><p>A decisão veio em linha com as expectativas do mercado —todos os analistas consultados pela Bloomberg projetavam a alta.

</p><p>O Copom reafirmou que há fatores de risco para a inflação em ambas as direções: uma recuperação mais lenta da economia com o agravamento da pandemia pode segurar os preços e o desequilíbrio fiscal pode puxá-los para cima.

</p><p>"Por um lado, o processo de recuperação econômica dos efeitos da pandemia pode ser mais lento do que o estimado, produzindo trajetória de inflação abaixo do esperado", explicou.

</p><p>Para o comitê, porém, o risco fiscal é mais acentuado.

</p><p>"O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária", diz o texto.

</p><p>Júlio Cesar Barros, economista da MAG Investimentos, considerou a decisão do BC de sinalizar nova alta para a próxima reunião acertada.

</p><p>"Creio que a decisão é coerente com o que ele vinha comunicando, sobretudo em relação a normalização parcial. O BC já havia dito que não estava escrito em pedra e que caso seja necessário vai mover os juros para fazer a inflação ser levada à meta", pontuou.

</p><p>"Portanto, o BC segue o seu plano de voo. Acreditamos que ele levará a Selic à 5% este ano", disse o especialista.

</p><p>Para Álvaro Villa, da mesa de operações da Messem investimentos, o BC mostrou preocupação com a inflação, o que justificou a sinalização de alta de 0,75 ponto percentual na próxima reunião, mas também com o crescimento econômico, o que inviabiliza elevação de 1 ponto.

</p><p>"Para a próxima decisão devemos olhar para o patamar do câmbio, que se continuar acima de R$ 5,50 o BC poderá ser mais contundente, e para as commodities, além da atividade econômica", afirmou.

</p><p>O Comunicado trouxe novamente a avaliação do Copom de que há necessidade de uma normalização parcial da taxa de juros. Ou seja, a atividade econômica ainda precisará de estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica.

</p><p>"Neste momento, o cenário básico do Copom indica ser apropriada uma normalização parcial da taxa de juros, com a manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica. O comitê enfatiza, entretanto, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação", pontuou.

</p><p>Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos afirmou que o BC não deverá elevar o juro além de seu patamar neutro (que não estimula, nem reduz a atividade), hoje estimado entre 6,0% e 6,5%, mantendo algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica.

</p><p>"O BC mostrou-se austero com o avanço da inflação e a perspectiva de que isso continue assim, mas manteve a sinalização de normalização parcial do juro", analisou.

</p><p>"O juro neutro é suscetível a descalabros fiscais e quanto maior for o descalabro, mais atrás a autoridade irá com a condução de política monetária, dado que sua meta é com inflação. Assim, por enquanto, ainda mantemos a avaliação que o BC deverá elevar a Selic em 0,75 ponto nas próximas duas reuniões, conduzindo a taxa básica de juro para 5,0% antes do término desse ano", projetou Sanchez.

</p><p>"O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2022", disse o comunicado do Copom.

</p><p>O professor da Fipecafi, Marcelo Neves, ressaltou que os juros reais [descontando a inflação] continuam negativos. "Ela vai permanecer negativa durante alguns meses. A próxima reunião e até o fim do ano seriam aumentos de 0,5 ponto de modo que se chegasse a 5,5% até o fim do ano, então ela vai se reverter e ficaremos com a taxa positiva", disse.

</p><p>Para o acadêmico, o Copom demonstrou mais cautela com a atividade econômica. "Passa a ser um ponto de atenção que não havia na decisão passada. Com a autonomia do BC, isso passa a ser mandatório nos comunicados", avaliou.

</p><p>A escalada persistente dos preços, observada nos últimos meses, levou o BC a subir a taxa também em 0,75 ponto em março, para 2,75% ao ano. Foi a primeira alta em quase seis anos.

</p><p>A decisão de março surpreendeu economistas, que previam elevação menos agressiva, de 0,5 ponto percentual. Na ocasião, a autoridade monetária indicou que faria nova elevação na mesma magnitude na reunião seguinte.

</p><p>O comitê justificou que os indicadores de atividade econômica mostraram recuperação da economia e que as expectativas de inflação haviam sido revisadas para cima. Segundo o texto da decisão, uma alta mais acentuada da taxa de juros reduziria a probabilidade de que a meta não fosse cumprida este ano.

</p><p>No comunicado desta quarta, mesmo diante do agravamento da pandemia de Covid-19 a partir de março, o BC reforçou que os dados mais recentes de atividade econômica vieram melhores que o esperado e afirmou que o ritmo da retomada deve se normalizar.

</p><p>"Em relação à atividade econômica brasileira, indicadores recentes mostram uma evolução mais positiva do que o esperado, apesar da intensidade da segunda onda da pandemia estar maior do que o antecipado. Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia ainda permanece acima da usual, mas aos poucos deve ir retornando à normalidade", destacou.

</p><p>O controle da inflação é a principal atribuição da autoridade monetária. Para isso, o BC define a meta da taxa básica de juros.

</p><p>Quando a inflação está alta, o Copom sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços. Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.

</p><p>Em agosto do ano passado, a Selic alcançou o menor patamar da história, 2% ao ano, como resposta à crise gerada pela pandemia de Covid-19.

</p><p>Segundo o relatório Focus desta semana, no qual o BC divulga as projeções do mercado, mesmo após a alta nos juros, os economistas continuaram elevando as expectativas de inflação para 2021, que estão em 5,04%.

</p><p>A previsão está acima do centro da meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), de 3,75%, com tolerância 1,5 ponto percentual. Há um mês, a estimativa era de 4,81%.

</p><p>De acordo com o levantamento, os analistas esperam que a Selic termine o ano a 5,50%.

</p><p>O BC subiu em 0,1 ponto percentual a expectativa de inflação para este ano, mas reduziu no mesmo nível a projeção para o próximo.

</p><p>Na análise feita com a taxa de juros da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de US$ 5,40, as projeções são de 5,1% para 2021 e 3,4% para 2022.

</p><p>O cenário supõe que a Selic se eleve para 5,50% ao ano em 2021 e para 6,25% ao ano em 2022. As expectativas para a inflação de preços administrados, segundo o texto, são de 8,4% para 2021 e 5% para 2022.

</p><p>Em março, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), considerado o índice de inflação oficial, ficou em 6,10% no acumulado dos 12 meses, acima do teto da meta (5,25%), pressionado principalmente por alimentos e combustíveis.

</p><p>O Copom reiterou a importância das reformas econômicas que tramitam no Congresso.

</p><p>"Perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia", colocou o comunicado.

</p><p>João Beck, sócio da corretora BRA, disse que o comunicado reforçou a responsabilidade do Congresso como figura principal na condução da inflação, nos gastos públicos e com as reformas.

</p><p>"Além disso, o Copom não retirou como esperado a expressão 'normalização parcial da taxa de juros' para algo mais duro. O mercado esperava algo como 'fazer a política monetária necessária para convergir as expectativas pra meta'. Assim, assume manter o atual ciclo de juros em patamares mais estimulativos", afirmou Beck.

</p><p>No cenário externo, o BC prevê que novos estímulos fiscais em alguns países desenvolvidos, junto com avanço da vacinação, devem promover uma recuperação mais robusta da economia global ao longo do ano.

</p><p>"A presença de ociosidade [baixa atividade], assim como a comunicação dos principais bancos centrais, sugere que os estímulos monetários [juros baixos] terão longa duração. Contudo, questionamentos dos mercados a respeito de riscos inflacionários nessas economias podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes", reforçou.

</p><p>AUTONOMIA DO BC

</p><p>Este é o primeiro Copom após a nomeação do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, e diretores para mandatos fixos após a aprovação da lei que confere autonomia ao BC.

</p><p>A nova regra manteve o controle de inflação como objetivo principal da autoridade monetária, mas incluiu entre as obrigações secundárias olhar para o crescimento econômico e para o mercado de trabalho.

</p><p>Pela primeira vez, o comitê citou as novas responsabilidades da autarquia no comunicado.

</p><p>"Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de estabilização de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", disse o texto.

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