<p>SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) revisou para baixo a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do setor para 2021. Dos 4% previstos em janeiro, a entidade agora estima que o resultado não passe de 2,5%.

</p><p>O corte no orçamento dos fundos de Arrendamento Residencial (FAR) e de Desenvolvimento Social (FDS) ainda poderá piorar esse resultado e a entidade não descarta nova revisão para baixo.

</p><p>Esses fundos perderam boa parte dos recursos previstos para 2021 no pacote de vetos feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao Orçamento, resultado de um acordo para viabilizar a sanção da peça.

</p><p>As entidades ligadas à indústria de obras calculam que 215 mil unidades residenciais estejam sob risco de paralisação caso o governo não resolva a questão de caixa. No FAR, o corte foi de 98%: de R$ 1,54 bilhão, apenas R$ 27 milhões foram mantidos no Orçamento, segundo cálculo do Sinduscon-SP (sindicato da indústria da construção.

</p><p>José Carlos Martins, presidente da Cbic, diz que esse dinheiro é o suficiente para bancar apenas algumas semanas de obras. "São todos contratos antigos ou de obras retomadas, que tinham parado por falta de pagamento", diz. Para ele, o governo Bolsonaro "tem a obrigação de dar uma solução" para essas obras.

</p><p>Até o momento, a entidade não conseguiu resposta quanto ao que o governo pretende fazer para honrar os pagamentos.

</p><p>Martins chegou a dizer, durante coletiva nesta quinta (29), que a solução poderia vir até mesmo fora do teto de gastos. Depois, disse que o Congresso avalia a readequação de rubricas de gastos. "Com isso, a gente entende que eles devem encontrar um espaço para ajudar o setor".

</p><p>A indústria da construção também não conseguiu avançar em outros pleitos junto ao governo federal, como os pedidos de redução temporária dos impostos para a importação de insumos e matérias-primas.

</p><p>"A gente entende que o governo tem que dar uma solução para a situação das matérias-primas, e que seja dentro [das regras] do mercado. O governo não tem capacidade de colocar material na praça, mas pode agir com políticas para melhorar a entrada de produtos", diz o dirigente.

</p><p>Para ele, a construção civil precisa de um choque de oferta para resolver temporariamente dificuldades com prazos de entregas e preços. A Cbic atribui a queda de diversos indicadores de confiança do setor calculados junto à CNI (Confederação Nacional da Indústria) aos problemas de abastecimento de matérias-primas.

</p><p>Entre o fim de 2020 e o primeiro trimestre deste, o índice que mede a situação financeira das empresas que atuam no segmento recuou cinco pontos, caindo de 47,2 para 41,9. A média histórica é de 44 pontos. Em março, o nível de atividade do setor, em 44,9, chegou ao menor patamar desde junho de 2010. Na sondagem da CNI, a tendência de queda sempre que um indicador fica abaixo de 50 pontos.

</p><p>A falta de matéria-prima ou o custo alto apareceu pelo segundo trimestre consecutivo como o maior problema apontado pelos empresários da construção civil. A dificuldade foi citada por 57,1% construtores, mais do a elevada carga tributária (24,7%), historicamente a maior queixa do setor. "Sem uma solução, temos o risco de aumentar os esqueletos de obras Brasil afora", diz José Carlos Martins, da Cbic.

</p><p>Segundo a CNI, conforme o desabastecimento de matérias-primas se agrava, o nível de atividade do setor cai. A combinação de recuos acaba esfriando a confiança dos empresários em fazer novos investimentos, segundo o gerente de análise econômica da CNI, Marcelo Azevedo.

</p><p>O índice de intenção de investimento da construção saiu de 44 pontos, em janeiro, para 36,4 pontos em abril. O indicador que mostra as expectativas para lançamentos nos próximos seis meses ainda está com tendência positiva, mas, segundo a Cbic, perdeu dinamismo. De 56,5 ponto em janeiro, caiu a 51,9 em abril.</p>