<p>SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A possível filiação ao PSDB do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, hoje no DEM, fortalece a ala de João Doria no tucanato, mas tem potencial para acirrar divisões no partido e até prejudicar eventual candidatura do governador paulista à Presidência da República em 2022.

</p><p>Entre aliados de Doria, a migração de Garcia ao PSDB é dada como certa e está prevista para os próximos meses.

</p><p>O próprio vice-governador, no entanto, não declarou publicamente que irá trocar de partido e evita responder sobre esse tema. Membros do DEM afirmam não terem sido comunicados da decisão ainda. Mas tucanos e aliados de Garcia admitem que ele está, sim, a caminho do PSDB.

</p><p>"A vinda de Rodrigo Garcia representa um sentimento de centenas de prefeitos, deputados e militantes. Ele tem mais 20 anos de serviços prestados aos governos do PSDB", afirma Marcio Vinholi, presidente do PSDB paulista.

</p><p>O presidente do DEM em São Paulo, deputado federal Alexandre Leite, diz que o partido não esgotou seus esforços para que Garcia permaneça.

</p><p>Garcia é o candidato de Doria para sucedê-lo no Governo de São Paulo em 2022. Ao trazê-lo para o PSDB, o governador resolve a demanda tucana de que o partido tenha uma candidatura própria no estado em vez de apoiar o DEM.

</p><p>Desde 2002, o DEM (antigo PFL) compõe a coligação do PSDB ao Governo de SP. A aliança nacional entre os dois partidos vem desde 1994. Por isso, membros do DEM agora reclamam da falta de apoio dos tucanos a uma candidatura do partido no estado.

</p><p>De toda forma, no DEM, prevalece uma leitura pragmática da situação. Se candidato pelo DEM, Garcia enfrentaria um adversário tucano, já que o PSDB não abre mão de lançar um nome. Por isso, a única saída competitiva seria sua filiação ao PSDB, numa coligação que inclua o DEM.

</p><p>Leite afirma que a candidatura de Garcia ao governo, seja no partido ou no PSDB, é um projeto do DEM e que a migração não deixaria mágoas. "É um sacrifício que merece nosso respeito", disse.

</p><p>"A composição política do momento exige essa transferência, mas os princípios [do DEM] vão permanecer nele. Não adianta a gente manter ele no DEM e não ter o apoio do PSDB. Garcia está indo cumprir uma missão para o DEM e pessoalmente para o Doria, resolver um problema de composição do Doria, que, se não for resolvido, vai prejudicar o DEM. Vamos fazer o que for necessário", completou.

</p><p>Os efeitos colaterais, porém, seriam agravar divisões no PSDB de São Paulo, já que parte da militância apoia a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo, e inviabilizar o apoio do DEM a Doria caso ele seja candidato ao Planalto.

</p><p>No xadrez eleitoral estadual, a filiação de Garcia representa um grande entrave para Alckmin, que mantém conversas políticas para viabilizar sua candidatura e prega prévias contra o vice. Já no cenário nacional, zona em que Doria atua para vencer as prévias do partido e se cacifar como candidato tucano, a entrada de Garcia também abala as relações entre PSDB e DEM.

</p><p>Doria, que já enfrenta forte resistência não só no PSDB, mas entre outros partidos e potenciais presidenciáveis que compõem o campo que denominam de centro, pode ampliar seu isolamento com a filiação de Garcia.

</p><p>Parte dos líderes do DEM veem a saída de Garcia como resultado de interferência de Doria no partido aliado. Há ainda reclamação a respeito do momento da migração. Como o prazo para filiações partidárias com vistas à eleição de 2022 é abril do ano que vem, membros do DEM atribuem a Doria a pressa de concretizar o movimento neste ano.

</p><p>Em paralelo, Doria também defende que as prévias do PSDB --provavelmente contra Eduardo Leite (RS), Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM)-- sejam mantidas em outubro deste ano, enquanto os adversários e boa parte dos tucanos pregam o adiamento para o ano que vem.

</p><p>Uma possível consequência da perda de Garcia em meio à investida de Doria, de acordo com integrantes do DEM, é o partido não aceitar eventual coligação de centro em que o tucano seja o candidato.

</p><p>Embora haja críticas dirigidas a Doria entre políticos do DEM por causa da filiação de Garcia, essa não é a única explicação que circula no partido para a posição de distância do governador. Um motivo lembrado é a rejeição do eleitorado ao nome do tucano.

</p><p>É mencionado ainda o desembarque do DEM do bloco de apoio a Baleia Rossi (MDB-SP) na eleição da presidência da Câmara, vencida por Arthur Lira (PP-AL), aliado do presidente Jair Bolsonaro.

</p><p>O episódio, segundo membros do DEM, demonstra a aproximação da sigla com o presidente e a dificuldade de apoiar um expoente da oposição a Bolsonaro, como é Doria.

</p><p>Já se o candidato do PSDB for Tasso ou Leite, por exemplo, a avaliação de parte do DEM é de que o partido fique mais propenso a negociar.

</p><p>Procurado pela Folha, o presidente do DEM, ACM Neto, não respondeu. Ele tem defendido que o partido integre uma costura de legendas, a mais ampla possível, para consolidar a terceira via, que escape da polarização entre Bolsonaro e Lula (PT).

</p><p>O entorno de Doria aposta que haverá compreensão por parte de políticos do DEM e que as relações são sólidas e não serão abaladas. Nos bastidores, tucanos já duvidavam do apoio de ACM e apontam que o episódio da eleição da Câmara mostra que ele apoiará qualquer presidenciável que lhe for mais útil para eleger-se governador da Bahia.

</p><p>Leite afirma que, do ponto de vista do DEM paulista, o apoio a Doria na eleição presidencial seria natural, mas admite que há entrave em relação ao DEM nacional.

</p><p>"Acho difícil que o DEM venha apoiar Doria. ACM já sinalizou uma grande dificuldade. Não acredito que o DEM possa, ainda mais levando Garcia, acompanhar João Doria."

</p><p>Aliados de Garcia amenizam o quadro afirmando que ele tem o apoio não só de Doria, mas das bancadas federal e estadual do PSDB e do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), para integrar o partido.

</p><p>Tanto no entorno de Alckmin como no de Garcia, há o entendimento de que Covas pode ser o fiel da balança. Embora o vice coloque o prefeito em seu time, outros tucanos próximos a Covas afirmam que, por enquanto, ele não escolheu lados e prefere que haja um entendimento.

</p><p>Na avaliação de caciques do DEM, Garcia pode dar um tiro no pé ao deixar uma sigla em que é líder inconteste para se envolver no drama que aflige os tucanos no estado, numa rixa com Alckmin pelo mesmo posto.

</p><p>Auxiliares de Doria afirmam que não cabe realizar prévias se Garcia estiver no PSDB, pois o vice deve ocupar o cargo de governador se Doria for concorrer à Presidência.

</p><p>Como mostrou a Folha, Alckmin pretende seguir no PSDB, mas não descarta se filiar a outros partidos em que poderia ser candidato ao governo, como PSD, PSB, PSL e Podemos. Nos planos de Doria, Alckmin seria candidato ao Senado, mas José Serra (PSDB-SP) pode concorrer à reeleição na Casa.

</p><p>Figura política de peso e aliado histórico dos tucanos, Garcia ocupa posição estratégica no governo Doria, exercendo o papel de secretário de Governo --responsável por todas as obras, programas e vitrines da gestão.

</p><p>Agora rivais, Alckmin e Garcia também têm boa relação. O vice foi secretário do tucano por dois mandatos.

</p><p>Leite afirma que é preciso construir uma chapa que acomode a todos, inclusive "Alckmin e Serra, que são muito queridos por nós".

</p><p>"Com Garcia fora do partido, o DEM passa a ter ainda mais direito à participação nessa composição. Nossos partidos sempre foram irmãos e tiveram apoio um do outro", completa o presidente do DEM-SP.</p>